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terça-feira, 17 de junho de 2014

CRIANÇAS DEFICIENTES INVENTAM FORMAS DE BRINCAR



Para driblar as deficiências, as atividades são adaptadas. No futebol, por exemplo, a bola é mais pesada para que role mais lentamente, e as crianças jogam sentadas no chão.
Gabriel Fernandes, 10, é fera no videogame, nem lembra quando perdeu um jogo de corrida pela última vez. Lamiss Taghlebi, 7, adora brincar de escolinha. Fernanda de Souza, 5, é a artilheira no futebol do seu quintal.

Além de craques da brincadeira, os três possuem outra coisa em comum: têm deficiência intelectual e física e andam de cadeira de rodas. "Criança sempre dá um jeito de brincar. Não importam as limitações", diz Lina Borges, terapeuta ocupacional da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).

Para driblar as deficiências, as atividades são adaptadas. No futebol, por exemplo, a bola é mais pesada para que role mais lentamente, e as crianças jogam sentadas no chão.

Há duas semanas, durante o Teleton (evento do SBT que arrecada dinheiro para a AACD), Ivan Fontenelli, 4, andava pra lá e pra cá com seu skate. Com má formação das pernas e dos braços, é com ele que o menino se locomove. "Brinco de futebol, corrida, tudo. Tenho até duas namoradas", conta baixinho para a mãe não escutar.

No próximo sábado, dia 1º, começa a 3ª Virada Inclusiva, organizada pelo governo de São Paulo em mais de 80 cidades, com lazer e esportes adaptados. Termina em 3/12, Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (viradainclusiva.sedpcd.sp.gov.br).

Cadeira de rodas já foi navio e carro de Fórmula 1

Desde quando eu era molequinho, faz teeeempo, ando montado em uma cadeira de rodas para ir daqui para acolá. Mas ser um menino "cadeirantinho" nunca me impediu de brincar e de agitar as brincadeiras da minha turma.

O meu "cavalo de rodas" já foi um navio que atravessou oceanos para combater piratas, com o pessoal se enroscando em mim. Já foi carro de Fórmula 1, com os meninos disputando quem seria o meu piloto. Dava medo da velocidade, mas, com cuidado, era muito gostoso.

No futebol, fui goleiro e técnico do time. No esconde-esconde, eu tinha a vantagem de ter mais tempo para sumir. É justo, vai!

No videogame, eu não precisava de regra especial, só de mais espaço na sala mesmo.

Todos podem e querem se divertir na infância, e sempre há um jeito para que até aquele colega mais desarranjado, todo tortinho, consiga brincar junto, ensinar sua maneira de jogar, de se segurar no balanço, de virar a figurinha no "bafo".

O colega cego, surdo, com paralisa cerebral, "cadeirantinho" ou que tenha qualquer diferença quer aproveitar o mundo do jeito que todos querem. E sempre é possível colocá-los na roda, basta usar a imaginação, abrir bem os braços e dar um sorriso de "seja bem-vindo".

Crianças com deficiência contam quais são suas brincadeiras preferidas

'Tia' das bonecas
Todos os dias, o quarto de Lamiss Taghlebi, 7, transforma-se em sala de aula.

Enquanto ela passa a lição, Barbies e ursinhos de pelúcia prestam atenção à professorinha de cadeira de rodas.

"Finjo que estou em 'Carrossel' e que sou a professora Helena", conta.

Artilheira rosa
O que mais chama a atenção em Fernanda de Souza, 5, não são as mechas cor-de-rosa no cabelo. A primeira coisa que você vê é seu sorriso. Principalmente quando joga bola.

Apoiada na mãe para levantar da cadeira de rodas e ficar em pé, ela chuta no ângulo.

"Adoro futebol. Mas gosto de pintar também", conta a menina, enquanto desenha no bloco de notas do repórter.

Brincar é na rua
Emely Gabriely Silva, 10, nasceu duas vezes.

Até os três anos, corria e estava aprendendo a andar de bicicleta. Aí veio um caminhão e ela não viu mais nada. Quando acordou, estava sem a perna direita.

Foi então que nasceu de novo: ela reaprendeu a andar e hoje se equilibra na bicicleta e até pula corda. "Não gosto de boneca. Prefiro brincar na rua", diz.

Alta velocidade
Todos os dias, Gabriel Fernandes, 10, espera ansioso para ir à casa da vizinha. Como o garoto não tem videogame, é lá que ele se transforma em piloto, a cadeira de rodas, em carro de corrida e o quarto, em autódromo.

Gabriel pisa fundo e garante: é difícil ganhar dele em jogos de velocidade.

Antes, os amigos não davam muita bola para Gabriel. Mas ele é um corredor. Rapidinho, conquistou os meninos e agora todos jogam videogame juntos.

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