Estudante de 14 anos
passou a andar, correr e nadar após bototerapia. Técnica foi criada há
seis anos pelo fisioterapeuta Igor Simões.
Símbolos da região amazônica, esses golfinhos de pele rosada não são exclusivos do Brasil. Nativos da América do Sul, os botos habitam a bacia dos rios Amazonas e Orinoco, sendo encontrados na Venezuela, no Equador, na Colômbia, na Bolívia e no Peru.
Como sobem à superfície apenas para respirar, é difícil imaginar o tamanho de um animal adulto: ele pode atingir 2,5 metros de comprimento e pesar 160 quilos. Os cientistas também já descobriram que as fêmeas têm apenas um filhote por vez após os oito meses de gestação e que a fase de amamentação pode durar até um ano.
Há quase 20 anos, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) estuda os botos em um dos maiores santuários de preservação da Floresta Amazônica, a reserva de desenvolvimento sustentável Mamirauá, que fica a 500 quilômetros de Manaus (AM). Estima-se que 13 mil animais vivam na área, dos quais mil já foram marcados e são monitorados.
Golfinhos despertam a curiosidade desde a antiguidade
“A curiosidade humana sobre os golfinhos é milenar, vem desde a Grécia antiga”, aponta a bióloga Vera Silva, que coordena o laboratório de mamíferos aquáticos do Inpa. Ela destaca que a espécie tem um sistema de ecolocalização que ajuda a nadar em ambientes com pouca luz. Os sons que eles emitem, que não podem ser ouvidos pelos humanos, batem no objeto e voltam, permitindo que o cérebro dos animais calcule a distância, a textura, o formato e o tamanho do obstáculo.
Diferenças entre golfinhos de mar e de rio estão ligadas principalmente aos ambientes onde vivem. No mar, há menos obstáculos que nos rios. Como vive entre florestas alagadas, o boto teve que aprender a desviar de troncos e galhos submersos, o que fez seu corpo desenvolver características próprias. “O boto tem um pescoço flexível, diferente dos golfinhos marinhos, que perderam a flexibilidade, mas ganharam velocidade”, aponta Vera.
Os golfinhos emitem também outro tipo de som, de vocalização, que os humanos conseguem ouvir. “Eles são animais que produzem sons pulsados. Esses sons podem ter funções de ecolocalização e de comunicação de interações sociais”, explica a bióloga Louzamira Bevilaqua. Ela ressalta que, no caso dos botos cor-de-rosa, ainda não foi possível concluir se eles emitem assovios que servem apenas para interação social, como os parentes marinhos ou os tucuxis, um boto menor e de pele escura.
Há seis anos, o fisioterapeuta Igor Simões propôs aliar técnicas de fisioterapia com a interação com os botos cor-de-rosa, que são mais curiosos e se aproximam dos humanos. Durante um ano, ele nadou com os animais do rio Ariaú, região que fica a duas horas de barco de Manaus e, aos poucos, conquistou a amizade de um grupo de animais ao brincar com bolinhas de plástico. Surgia a bototerapia. “O boto inspira, ajuda a gente a trabalhar a fisioterapia”, avalia Igor.
Acompanhadas dos pais, as crianças saem de Manaus em um barco cedido por parceiros do projeto. Antes de entrar na água, elas passam pelo rolfing, uma técnica americana de fisioterapia manual que busca o equilíbrio, o alinhamento da postura e a adaptação da coluna às condições do corpo. Só depois elas entram na água. Aos poucos, a fisioterapia vira brincadeira com os botos, que são atraídos pelas bolinhas coloridas. “Quando ele começou a fazer bototerapia, ele começou a sentar, a fazer movimentos inteiros, porque ele não tinha movimento nenhum”, afirma a dona de casa Josy Vieira, mãe de Carlos Henrique.
O resultado mais sensível foi obtido por Leo Cavalcante, que nasceu sem os braços e com uma diferença na altura das pernas que hoje é de 12 centímetros, impossibilitando o equilíbrio. Imitando o movimento do boto, ele aprendeu a nadar e alcançou o equilíbrio necessário para andar pela primeira vez aos oito anos. “Minha coluna não era flexível, não tinha estabilidade. Andava pouco, caía. Agora, pelo contrário: ando, corro, nado”, conta o jovem, que vai representar o colégio em competições de natação.
A bototerapia é um tratamento complementar, que não dispensa a fisioterapia convencional. Ainda não há comprovação científica sobre os efeitos benéficos do ultrassom do boto em tecidos e músculos, mas os benefícios da terapia com animais já são conhecidos. “Ele está em um ambiente altamente prazeroso, que é a água, e ainda com aquele animal fascinante. Certamente tem um efeito terapêutico para o bem-estar humano muito grande”, avalia Vera.
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