1. INTRODUÇÂO
1.1 VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA
1.1.1 Definição
A
Ventilação Mecânica Não Invasiva (VMNI) surge como alternativa de
suporte ventilatório adequado sem o trauma físico e psicológico
associado á intubação endotraqueal, usada com sucesso no tratamento da
insuficiência respiratória aguda (BROCHARD et al., 1995; ANTON et al.,
2000).
É
um método de assistência ventilatória no qual uma pressão positiva é
aplicada à via aérea do paciente por meio de interfaces (máscaras)
(HOLANDA et al., 2001).
Segundo
o Internacional Consensus Conferences in Intensive Care Medicine
(2001), a VMNI com Pressão Positiva foi definida como qualquer forma de
suporte ventilatório aplicado sem o uso de um tubo orotraqueal ou cânula
de traqueostomia, e sua indicação depende dos objetivos
da terapia com cada paciente. Se ventilação e oxigenação adequadas
forem seguramente aplicadas, a VMNI tem o potencial de reduzir a
morbidade e a mortalidade, podendo ser utilizada em pronto-socorros, UTI
(Unidade de Terapia Intensiva) e nas enfermarias por profissionais
treinados e uma equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros e
fisioterapeutas).
1.1.2 Histórico da Ventilação Mecânica Não Invasiva
A
popularidade da pressão não invasiva teve início por volta da década de
30, mas destacou-se no início dos anos 90, quando desde então estudos
vêm mostrando sua eficácia em prevenir intubação orotraqueal (IOT), além
de diminuir as complicações devidas à intubação e a mortalidade de
pacientes com insuficiência respiratória aguda, porém é necessário
reconhecer indivíduos com risco de insucesso no uso da VMNI a fim de
evitar o retardo na IOT e o manejo inadequado de pacientes com
insuficiência respiratória (HOLANDA et al., 2001).
Tendo em vista a necessidade
de se elaborar uma terapêutica para o tratamento de pacientes com
insuficiência respiratória durante os surtos de poliomielite ocorridos
nos Estados Unidos e na Europa entre os anos de 1930 e 1950, criou-se,
na época, o ventilador de corpo inteiro ou de tanque, denominado iron lung (pulmão de aço) (VEGA e LUQUE, 2006).
Figura 1 – Pulmão de Aço
Fonte: www.medicinaintensiva.com.br, 2006
Este
equipamento era capaz de gerar uma pressão negativa extratorácica,
promovendo um auxílio ventilatório não invasivo aos pacientes. Mas, seu
tamanho elevado e o acesso
restrito aos pacientes se tornava uma dificuldade, além de nem sempre
proporcionar uma boa adequação ao suporte de vida e na sincronia
paciente-ventilador. Muitos pacientes, quando utilizavam o pulmão de
aço, se queixavam de desconforto musculoesquelético à imobilidade,
desconforto no pescoço causado pelo colar de vedação e queixavam-se de
claustrofobia (VEGA e LUQUE, 2006).
A
VMNI foi inicialmente realizada através da aplicação de pressão
negativa, pois a limitada tecnologia dos equipamentos de pressão
positiva limitava a aplicação desse tipo de terapêutica (CARVALHO e
PARREIRA, 2005).
A partir de 1953, a
ventilação por pressão negativa foi sendo progressivamente abandonada,
primeiro porque os pulmões de aço eram equipamentos pesados, e também
porque muitos resultados obtidos demonstraram que a ventilação por
pressão positiva realizada em pacientes traqueostomizados era uma forma
de tratamento superior e reduziu a mortalidade dos pacientes pela
metade, quando comparado ao ventilador por pressão negativa. Na década
de 1960, a
VMNI com pressão positiva se tornou o método padrão para o tratamento
da insuficiência respiratória. Foi principalmente na década de 1980, que
a VMNI com pressão positiva aplicada com mascar nasal ou facial começou
a ser empregada, onde houve o surgimento dos ventiladores
microprocessados com modalidades capazes de proporcionar uma melhor
sincronia paciente-ventilador (VEGA e LUQUE, 2006).
Na
década de 30 surgiram trabalhos pioneiros publicados por Barach e cols.
e Motley e cols., que descreveram as técnicas e os benefícios do uso da
ventilação com pressão positiva, oferecida através de uma máscara, para
pacientes com insuficiência respiratória de variadas etiologias e
muitas de suas observações e recomendações referentes ao uso da VMNI
permanecem absolutamente atuais, apesar de passado mais de meio século
(AMATO et al., 2001).
1.1.3 Tipos de Ventilação Mecânica Não Invasiva
É
necessário conhecer os tipos de VMNI disponíveis para que sejam
determinados que efeitos benéficos cada uma delas pode proporcionar ao
paciente (SARMENTO, 2005).
1.1.3.1 CPAP
A
ventilação por pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) é
constituída de um único nível de pressão, que permanece nos pulmões
independentemente da fase do ciclo respiratório do paciente. Nesse tipo
de ventilação tem-se apenas um aumento na capacidade residual funcional
sem aumento significativo do volume corrente. Por este motivo deve-se
utilizar o CPAP apenas em pacientes que apresentem um prejuízo quanto a
oxigenação (SARMENTO, 2005)
1.1.3.2 BIPAP (Bilevel positive airway pressure)
Nome
comercial de um aparelho que acabou por se consagrar como uma aparato
padrão que fornece uma modalidade ventilatória pressórica que permite
ajuste de pressão positiva durante a inspiração e a expiração de forma
independente: uma pressão inspiratória positiva constante (IPAP) que
auxilia a ventilação do paciente e uma pressão positiva expiratória
constante (EPAP) (KNOBEL, 1999; PIRES DI LORENZO et al., 2003), fazendo
que o paciente tenha um suporte pressórico variável nas duas fases do
ciclo respiratório (SARMENTO, 2005).
O
BIPAP possui um ramo único, com uma válvula de escape próximo à
máscara, onde o fluxo de ar se desloca para a atmosfera por diferencial
de pressão. Quando o IPAP é liberado, este se desloca em direção ao
sistema respiratório do paciente, pressurizando-o, reduzindo
gradativamente o diferencial de pressão entre as vias aéreas e o IPAP
constante enviado pelo aparelho. A conseqüente queda do fluxo no sistema
é a forma mais comum de ciclagem. O EPAP ajustado em níveis inferiores
ao IPAP cria um diferencial de pressão do paciente para o aparelho. Como
o aparelho envia o fluxo continuamente, o orifício expiratório serve de
escape ao fluxo, garantindo, na fase expiratória, um nível pressórico
constante nas vias aéreas do paciente, ajustado pelo nível de EPAP. A
variação criada entre os valores de IPAP e o EPAP é a variação de
suporte oferecida ao paciente para vencer seus componentes resistivos e
elásticos (VEGA e LUQUE, 2006).
O
uso do BIPAP, além de alterar pelo EPAP os níveis de capacidade
residual funcional, é possível alterar o volume corrente e
consequentemente o volume minuto e os níveis de CO2. Este tipo de
ventilação pode ser indicado tanto para pacientes com quadros isolados
de hipoxemia (atelectasia ou edema agudo de pulmão) como para aqueles
que apresentem redução da ventilação alveolar minuto (SARMENTO, 2005).
1.1.4 Interfaces Utilizadas na Ventilação Mecânica Não Invasiva
De
acordo com Park e cols. (2001) há duas maneiras de aplicação de pressão
positiva respiratória de forma não invasiva e para essa técnica faz-se
necessário um ventilador de pressão positiva conectado a uma interface
para direcionar o ar através das vias aéreas superiores até os pulmões:
por meio de máscara com pressão positiva nas vias aéreas.
O
êxito da VMNI depende muito do manejo terapêutico com a interface, onde
se produz a conexão do paciente ao ventilador, sendo que ao adaptar uma
máscara pressurizada ao rosto do paciente, é necessário buscar sempre
manter uma harmonia entre a efetividade da acoplagem da interface e a
comodidade, e a tolerância do paciente, sem produzir lesões (VEGA e
LUQUE, 2006).
Existem
basicamente dois tipos de máscara para interface entre o paciente e o
ventilador, a nasal (Figura 2) e a facial (Figura 3), e ambas podem ser
utilizadas para as duas modalidades de pressão positiva não invasiva
(AZEREDO, 2002). Variações destas máscaras têm sido desenvolvidas para
maior conforto e sucesso na aplicabilidade. A máscara nasal apresenta
espaço morto menor, menor chance de claustrofobia, proporciona
facilidade de ingestão oral e expectoração, e está indicada nos casos de
insuficiência respiratória aguda leve a moderada. A máscara facial está
indicada na insuficiência respiratória grave e nos pacientes
taquipneicos que apresentam respiração bucal (AZEREDO, 2002).
Figura 2 – Máscara Nasal Figura 3 – Máscara Facial
Fonte: SARMENTO, 2005.
Uma
série de características existem para se obter uma boa interface: ser
de material à prova d’água com pouca distensibilidade e ótima
transparência, oferecer baixa resistência ao fluxo aéreo e o mínimo de
espaço morto. Tem de ser confortável, leve, fácil de adaptar, inodora,
adaptável a diferentes estéticas de rosto e proporcionar o máximo de
segurança contra asfixia. As máscaras são elaboradas de diversos tipos
de materiais, como gel ou silicone, a fim de proporcionar o alívio da
pressão exercida nos pontos de apoio sobre o rosto do paciente (VEGA e
LUQUE, 2006).
1.1.5 Indicações e Contra-indicações da Ventilação Mecânica Não Invasiva
De
acordo com Azeredo (2002) e Rahal et al. (2005) são indicações para o
uso da VMNI no ambiente hospitalar: pacientes portadores de
insuficiência respiratória aguda hipercápnica; doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC); as doenças pulmonares restritivas;
insuficiência respiratória aguda hipoxêmica de diferentes etiologias;
pacientes considerados de alto risco para o desenvolvimento de
insuficiência respiratória aguda, como os imunossuprimidos; a
insuficiência cardíaca congestiva; o desmame da ventilação invasiva; o
edema agudo pulmonar cardiogênico; pós-operatórios tóraco-abdominais;
pneumonias, e hipoventilação pulmonar.
Segundo Azeredo (2002) e Knobel (1999), as contra-indicações incluem:
As
absolutas: parada cardiorrespiratória; necessidade de intubação
traqueal; paciente não colaborativo; pós-operatório recente facial,
esofágico ou gástrico; trauma craniofacial; hipoxemia ou hipercapnia
refratária; instabilidade neurológica; redução do nível de consciência;
alterações anatômicas da nasofaringe; hemoptíase e epistaxe maciça e
pneumotórax não drenado.
As
contra-indicações relativas são: ansiedade extrema; obesidade mórbida;
hipersecreção pulmonar; SARA (Síndrome da Angústia Respiratória Aguda)
com hipoxemia grave; instabilidade cardiovascular e hemodinâmica.
Segundo
o Consenso de Ventilação Não Invasiva com Pressão Positiva (1997), os
critérios de seleção para se indicar a ventilação não invasiva aos
pacientes devem incluir pelo menos dois dos descritos abaixo:
- desconforto respiratório com dispnéia moderada ou severa, uso de musculatura acessória, respiração paradoxal
- pH menor que 7,35 e Pressão Parcial Arterial de Gás Carbônico (PaCO2 ) maior que 45 mmHg
- Freqüência Respiratória (FR) maior que 25 rpm (no adulto).
1.1.6 Vantagens da Ventilação Mecânica Não Invasiva
A
utilização da VMNI tem aumentado entre pacientes com falência
respiratória aguda ou crônica, visto apresentar uma série de vantagens
sobre a ventilação mecânica invasiva, tais como não necessitar de
intubação orotraqueal, minimizar ou suprimir as complicações
relacionadas ao uso de interface invasiva, proporciona a manutenção
fisiológica da fonação, expectoração e deglutição, possibilitando um
tratamento de intermitência com a respiração espontânea em longo prazo,
evitar a necessidade de sedação, ser de fácil aplicação e remoção,
preservar as vias aéreas superiores, produzir maior conforto ao
paciente, ser de baixo custo, evoluir com menor índice de mortalidade,
evitar o trabalho resistivo do tubo e as complicações da intubação,
diminuir a necessidade de intubação traqueal e conseqüentemente o tempo
de permanência hospitalar (HOLANDA et al., 2001).
A
facilidade com que o aparelho é disparado e sua capacidade de gerar
fluxo suficiente para fazer subir rapidamente a pressão até o nível de
suporte escolhido são características fundamentais na diminuição do
trabalho ventilatório do paciente (AMATO et al., 2001).
1.1.7 Efeitos da Ventilação Mecânica Não Invasiva na Insuficiência Respiratória
Na
insuficiência respiratória, a pressão positiva pode atuar de forma a
reduzir ou reverter a causa que levou ao desequilíbrio das trocas
gasosas, oferecendo desta forma, uma ajuda parcial ou quase total ao
músculo respiratório para gerar a pressão total suficiente para vencer
os componentes resistivos e elásticos do sistema respiratório. A
manutenção das unidades alveolares abertas ou a reabertura delas
dependem de uma pressão transpulmonar adequada ou de mecanismos de
estabilização da estrutura alveolar, como uma baixa tensão-superficial e
das vias aéreas, geralmente comprimidas pelo aumento excessivo da
pressão pleural gerado pela contração dos músculos expiratórios (VEGA e
LUQUE, 2006).
Segundo
Ferreira et al. (2002) e Dealis et al. (2000), a utilização da VMNI
promove o aumento da complacência do sistema respiratório por reverter
microatelectasias do pulmão, diminuindo o shunt e melhorando a
relação ventilação/perfusão provocadas por unidades instáveis e
diminuindo então o trabalho respiratório, acompanhado de alterações no
padrão respiratório (aumento do volume corrente e redução da FR) e,
frequentemente, aumento da ventilação minuto, assim como nos valores da
gasometria arterial. Um dos objetivos fisiológicos da VMNI é a
normalização da (PaCO2) e a melhora da pressão parcial arterial de
oxigênio (PaO2).
A
reabertura de unidades colapsadas pode promover redistribuição do fluxo
sangüíneo pulmonar, uma vez que a redução da PaO2 alveolar induz à
vasoconstrição pulmonar hipóxica e alterações da perfusão (VEGA e LUQUE,
2006).
1.2 PNEUMONIA ATÍPICA
A
expressão pneumonia atípica foi usada pela primeira vez em 1938, para
definir uma pneumonia caracterizada por uma traqueobroncopneumonia,
acompanhada de sintomas atípicos e graves (TARANTINO, 1997).
De
acordo com Cotran et al. (2000), o termo foi aplicado para descrever
uma doença respiratória febril aguda caracterizada por alterações
inflamatórias locais nos pulmões, limitada, em grande parte, aos septos
alveolares e ao interstício pulmonar. O termo atípica indica a ausência
de exsudato alveolar, porém uma designação muito mais precisa é
pneumonite intersticial.
Tipicamente
ela se apresenta em adultos jovens sadios, e ambos os sexos são
igualmente afetados. A idade média é de 43 anos, com uma faixa de
atuação de 7 a
83 anos de idade. Se apresenta depois de um período prévio de mais de
14 dias, com início de febre, tosse e dispnéia. A radiografia de tórax
mostra ocupação bilateral do espaço aéreo. A doença é parecida com a
Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA), pois há lesão alveolar,
mas a diferença é que não se encontram os fatores de risco habituais
como sepse, choque, traumatismo ou pneumonite. A maioria dos pacientes
apresenta insuficiência respiratória hipóxica, e, com freqüência,
precisam de ventilação mecânica. A mortalidade é alta, oscilando entre
60% e 100% em vária séries, com uma média de 70% aproximadamente (TORRES
et al, 2002).
Fisiopatologicamente, a infecção se dá por via inalatória, e o microorganismo Mycoplasma pneumoniae
(considerado o mais importante causador dessa pneumonia no homem) ao
aderir ao epitélio brônquico, lesa os cílios que pode apresentar lesão
de traquéia e brônquios podendo resultar em necrose de tecido causando
um abcesso pulmonar e consequentemente um quadro de hipoxemia e
shuntagem, uma vez que a região pneumônica não é ventilada. O exame
revela respiração superficial rápida, taquicardia e às vezes cianose
(WEST, 1996).
A
VMNI diminui as taxas de intubação e complicações, além de diminuir a
sobrevivência de pacientes com diferentes formas de insuficiência
respiratória aguda (por exemplo, por congestão pulmonar e pneumonia).
Nestes pacientes, a VMNI é tão eficiente quanto a ventilação
convencional em promover a melhora das trocas gasosas, podendo ser
aplicada de forma contínua ou intermitente (ANTONELLI e CONTI, 2000).
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral:
Avaliar
os efeitos da Ventilação Mecânica Não Invasiva no sistema
cardiorrespiratório em paciente com desconforto respiratório por
Pneumonia Atípica.
2.2 Objetivos específicos:
Avaliar
os efeitos da Ventilação Mecânica Não Invasiva no sistema
cardiorrespiratório antes, durante e após o uso da VMNI por meio da
observação de:
- Freqüência Cardíaca (FC)
- Pressão Arterial (PA)
- Freqüência Respiratória (FR)
- Saturação de Oxigênio (SatO2)
- Ausculta Pulmonar (AP)
- Padrão Respiratório
- Gasometria Arterial.
3. METODOLOGIA
Foi realizado um estudo de caso com paciente internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Unimed de Araras (HUA).
3.1 Descrição de Caso:
Paciente,
56 anos de idade, sexo feminino, foi admitida na UTI, vinda do Pronto
Atendimento, com quadro de dispnéia iniciado há 10 dias, apresentando
imagem de infiltrado difuso no Raio X de tórax, taquicardia (FC de 122
bpm), taquidispnéia (FR de 42 rpm), SatO2 de 84% com máscara de
nebulização a 7 l/min de oxigênio (O2) e com história pregressa de
mastectomia radical à esquerda há 15 anos. Diante do quadro clínico e
radiológico da paciente foi diagnosticada pneumonia atípica com
insuficiência respiratória aguda.
3.2 Aspectos éticos da pesquisa:
Este trabalho foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa do Centro Universitário Hermínio Ometto sob o parecer no 542/2006 (anexo 1).
Após
ser informada sobre a pesquisa, a responsável pela paciente assinou um
termo de consentimento livre e esclarecido (anexo 2).
3.3 Aplicação da Ventilação Mecânica Não Invasiva:
Foi instalada a VMNI com dois níveis de Pressão Positiva (aparelho BIPAP da marca Breas PV 102®)
(Figura 4) com IPAP = 10 cmH2O e EPAP = 5 cmH2O através de máscara
facial, enriquecida com 10 l/min de O2. Após 90 minutos a máscara facial
foi trocada pela nasal para maior conforto da paciente, e a oferta de
O2 diminuída para 7 l/min de O2. A VMNI foi retirada após 12 horas de
uso, com a estabilização do quadro clínico da paciente e ofertado
suporte de O2 com máscara de reservatório a 5 l/min de O2.
A
paciente permaneceu internada na UTI por 3 dias sendo utilizado o BIPAP
de forma intermitente (duas vezes ao dia, por 20 minutos) de acordo com
a sua necessidade. Após a melhora clínica e radiológica recebeu alta
para a enfermaria, onde permaneceu por 5 dias com cateter nasal de
oxigênio a 3 l/min.
No
quarto dia de internação na enfermaria, começou a apresentar
desconforto respiratório, sendo diagnosticado derrame pleural em
hemitórax direito, foi submetida a dreno de tórax em selo d’água.
No
quinto dia de internação apresentou piora do quadro clinico, retornando
para UTI, onde foi intubada, falecendo após dezoito horas de uso da
Ventilação Mecânica Invasiva.
Figura 4 – Aparelho BIPAP – BREAS PV 102
3.4 Coleta de dados:
Foram
analisados antes, durante e após o uso da VMNI, o exame gasométrico e
as variáveis cardiorrespiratórias: FC (verificada através do monitor
cardíaco), PA (utilizando o estetoscópio e o esfigmomanômetro), FR
(através da inspeção dinâmica em 1 minuto) e a SatO2 (através do
oxímetro de pulso da marca Phillips). A Ausculta Pulmonar e o padrão
respiratório foram observados através do exame físico antes e após o uso
da VMNI.
A
paciente permaneceu internada na UTI por 3 dias sendo utilizado o BIPAP
de forma intermitente (duas vezes ao dia, por 20 minutos) de acordo com
a sua necessidade. Após a melhora clínica e radiológica recebeu alta
para a enfermaria, onde permaneceu por 5 dias com cateter nasal de
oxigênio a 3 l/min.
No
quarto dia de internação na enfermaria, começou a apresentar
desconforto respiratório, sendo diagnosticado derrame pleural em
hemitórax direito, foi submetida a toracotomia para biopsia de pulmão e
dreno de tórax em selo d’água.
No
quinto dia de internação apresentou piora do quadro clinico, retornando
para UTI, onde foi intubada, falecendo após dezoito horas de uso da
Ventilação Mecânica Invasiva.
4. RESULTADOS
4.1 Análise da Freqüência Cardíaca, Pressão Arterial, Freqüência Respiratória e Saturação de Oxigênio:
Paciente
foi admitida na UTI com máscara de nebulização a 7LO2/min, apresentando
sinais de insuficiência respiratória. Após o uso da VMNI foi verificada
melhora nas variáveis cardiorrespiratórias, o que pode ser observado na
Tabela 1 e Figura 5.
Tabela 1 - Valores das variáveis cardiorrespiratórias antes, durante e após o uso da VMNI
| ||||||
Antes da
|
Durante a
|
Após a
| ||||
VMNI
|
VMNI (90min)
|
VMNI
| ||||
FC
|
122
|
120
|
105
| |||
(bpm)
| ||||||
PA
|
150 X 20
|
130 X 60
|
120 X 60
| |||
(mmhg)
| ||||||
FR
|
42
|
28
|
19
| |||
(rpm)
| ||||||
SatO2
|
84
|
95
|
93
| |||
(%)
|
Figura 5: Análise das Variáveis Cardiorrespiratórias antes, durante e após o uso da VMNI.
4.2. Análise do Padrão Respiratório e Ausculta Pulmonar
Inicialmente
a paciente apresentava padrão respiratório apical com uso de
musculatura acessória, e Ausculta Pulmonar com murmúrio vesicular muito
diminuído em bases com estertores crepitantes difusos. Após o uso da
VMNI, foi observada melhora do padrão respiratório e da Ausculta
Pulmonar (murmúrio vesicular presente com estertores crepitantes em
bases).
4.3 Análise da Gasometria Arterial:
Os
valores de gasometria arterial obtiveram uma discreta melhora em
relação aos valores da gasometria arterial inicial, conforme pode-se
observar na Tabela 2 e Figura 6.
Tabela 2: valores de gasometria arterial antes, durante e após o uso da VMNI
gasometria
|
antes da
|
durante
|
após a
|
arterial
|
VMNI
|
VMNI (90min)
|
VMNI
|
pH
|
7.49
|
7.35
|
7.45
|
PaO2
|
51
|
73
|
83
|
(mmhg)
| |||
PaCO2
|
28
|
30
|
25
|
(mmhg)
| |||
HCO3
|
21
|
16
|
18
|
(mmol/L)
| |||
BE
|
+0.5
|
-7.2
|
-3.5
|
(mmol/L)
| |||
SatO2 (%)
|
89
|
94
|
96
|
Esses dados também podem ser analisados através da figura 6 para pH, PaO2, PaCO2 e SatO2.
Figura 6: Valores pH, Pao2, PaCO2 e SatO2 antes, durante e após o uso da VMNI
5. DISCUSSÃO
A
paciente estudada apresentou dois dos três critérios de inclusão para
uso da VMNI de acordo com o Consenso de Ventilação Não Invasiva com
Pressão Positiva (1997), sendo estes, o desconforto respiratório com
dispnéia moderada e a freqüência respiratória maior que 25 rpm.
Segundo
Ferreira et al. (2006) a efetividade da VMNI depende do ajuste adequado
dos parâmetros do ventilador, sendo que para o BIPAP utiliza-se pressão
inspiratória fixada entre 8 e 12 cmH2O, enquanto a expiratória varia de 4 a 6 cmH2O. Neste estudo de caso, os valores da IPAP foi de 10 cmH2O e da EPAP de 5 cmH2O
ajustados de acordo com o conforto da paciente e resposta clínica, e
estes valores utilizados estão de acordo com a literatura.
De
acordo com Sarmento (2005), a VMNI através do uso do BIPAP pode
provocar alterações no volume corrente, conseqüentemente no volume
minuto e nos níveis de PaCO2. Em um estudo realizado por Holanda et al.
(2001) utilizando a VMNI em pacientes com insuficiência respiratória
aguda, foi observada redução significativa da freqüência respiratória,
melhora na PaO2, redução da PaCO2 e melhora no pH do sangue
arterial. Segundo Antonelli e Conti (2000), após avaliarem 64 pacientes
admitidos no setor de emergência com insuficiência respiratória aguda
por edema pulmonar e pneumonia, submetidos à uma hora de uso de VMNI,
puderam observar melhora significativa nos valores dos gases arteriais; e
no grupo com pneumonia a oxigenação melhorou, porém houve persistência
de shunt.
No
caso estudado, a VMNI pode ter tido influência/relação com a melhora da
gasometria arterial, onde foi observado aumento da PaO2, da SatO2 e correção da hipóxia, diminuição do valor final da PaCO2 e normalidade do pH.
Segundo
o International Consensus Conferences in Intensive Care Medicine
(2000), há uma significativa controvérsia a respeito das exatas
indicações da VMNI em pacientes com insuficiência respiratória aguda
hipoxêmica.
De
acordo com os estudos realizados por Holanda et al. (2001), a VMNI com
pressão positiva mostrou-se benéfica em pacientes com insuficiência
respiratória aguda de diversas etiologias como DPOC, pneumonia, infecção
por Pneumocystis carinii, edema agudo pulmonar cardiogênico, insuficiência respiratória pós-extubação, e como técnica de desmame da ventilação mecânica.
Richard
et al. (1999) realizaram um estudo em 42 UTIs francesas, com 691
pacientes submetidos a suporte ventilatório devido às mais variadas
causas, o qual mostrou que a VMNI foi aplicada em 16% dos pacientes com
um índice de sucesso de 61%, evitando assim a IOT. A aplicação da VMNI
por Antonelli e Conti (2000) em um estudo com 54 pacientes com
insuficiência respiratória aguda, mostrou-se favorável em 84% dos
pacientes que foram ventilados com sucesso, sem necessidade de IOT, além
de apresentarem prognóstico favorável. Mas para Hess (2004), o uso da
VMNI em pacientes com insuficiência respiratória aguda hipoxêmica sem
hipercapnia é objeto de considerável controvérsia, pois em seu estudo a
técnica não foi capaz nem de reduzir a necessidade de IOT e nem de
aumentar a sobrevivência.
De
acordo com o International Consensus Conferences in Intensive Care
Medicine (2000), pôde ser observado em três estudos que avaliavam a
hipótese de a VMNI prevenir IOT nestes pacientes, comparado com aqueles
que receberam tratamento medicamentoso e suplementação de oxigênio.
Tosos os pacientes com pneumonia necessitaram de IOT, e nestes pacientes
a VMNI não diminuiu o tempo de hospitalização ou a mortalidade. Porém a
VMNI deve prover conforto ao paciente além de facilitar sua interação
com o terapeuta, a fim de assegurar a reversão da insuficiência
respiratória.
Entretanto,
a insuficiência respiratória hipoxêmica constitui um grupo heterogêneo
de diagnósticos, e provavelmente há pacientes que se beneficiam com a
VMNI. No caso relatado, após o uso da VMNI por 12 horas houve
estabilidade do caso clínico e gasométrico sem a necessidade de IOT.
6. CONCLUSÃO
Conclui-se
para este estudo de caso que os parâmetros clínicos (variáveis
cardiorrespiratória, ausculta pulmonar e padrão respiratório) e valores
gasométricos apresentaram melhora após o uso da Ventilação Mecânica Não
Invasiva. Sugere-se estudos com o uso da VMNI em um número maior de
pacientes com pneumonia atípica com insuficiência respiratória para
maiores conclusões.
7. REFERÊNCIAS
ANTON, A. et al. Predicting the result of non invasive ventilation in severe acute exacerbations of patients with chronic airflow limitation. Chest, 117: 828-833, 2000.
ANTONELLI,
M., CONTI, G., ROCCO, M. et al. A ComparisIon of noninvasive
positive-pressure ventilation and conventional mechanical ventilation in
patients with acute respiratory failure. N. Engl. J. Med., 339:429-35, 1998.
ANTONELLI,
M., CONTI, G., ROCCO, M. et al Noninvasive positive pressure
ventilation as treatment for acute respiratory failure in critically ill
patients. Critical Care, 4:15-22, 2000.
AZEREDO, C.A.C., Ventilação não invasiva. In: AZEREDO, C.A.C. Fisioterapia respiratória moderna. 4 ed. São Paulo: Manole p.41 3-26, 2002.
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