INTRODUÇÃO
Cuidados Paliativos são conhecidos como abordagens que melhoram a qualidade
de vida dos indivíduos e familiares na presença de doenças terminais.
Controle dos sofrimentos físicos, emocionais, espirituais e sociais são
aspectos essenciais e orientadores do cuidado.
Historicamente os cuidados
paliativos eram oferecidos essencialmente aos indivíduos com câncer,
entretanto, esse tipo de assistência ganhou prestígio e cresceu o interesse em oferecê-los aos indivíduos portadores de doenças terminais. (SILVA; HORTALE, 2006).
Segundo
a Associação Brasileira de Cuidados Paliativos (ABCP), no Brasil a
pesar dos dados não serem oficiais, existem cerca de 31 serviços de
cuidados paliativos. O Brasil ainda não possui uma estrutura pública de
cuidados paliativos oncológicos adequada à demanda existente, tanto sob o
ponto de vista quantitativo e qualitativo. Em pior situação encontra-se
o subsetor privado de saúde. Preocupante é reconhecer que a maioria dos
indivíduos com câncer procura a rede pública de saúde quando a doença
já está em estágio avançado e elegível apenas para os cuidados
paliativos. (SILVA; HORTALE, 2006).
A
Fisioterapia Paliativa aborda o paciente terminal em seus aspectos
éticos e filosóficos exigidos no tratamento desses pacientes, intervindo
positivamente nos cuidados analgésicos, nas intervenções sintomáticas
psicofísicas, complicações osteomioarticulares ou qualquer complicação
que o paciente venha a desenvolver e a Fisioterapia possa ser útil.
(MARCUCCI, 2005).
DEFINIÇÃO E ETIOLOGIA DO CÂNCER
O
termo câncer foi empregado pele primeira vez na Grécia Antiga,
observando que algumas feridas pareciam penetrar na pele como caranguejo
(karkinos em grego, câncer em latim). Câncer é um tumor maligno, isto
é, tumor constituído de células anormais, que invadem as estruturas
vizinhas e que tem a tendência de produzir tumores secundários à
distância (metástases). Por extensão, proliferação anárquica de células
anormais, sem formação de uma massa tumoral. A leucemia, proliferação
anárquica dos glóbulos brancos do sangue, é um câncer. (MANUELA, 1997).
Câncer
é um grupo de doenças com morbi-mortalidade elevada e prevalência
crescente em nosso meio. No Brasil e no Estado de São Paulo, o câncer é a
terceira causa mais freqüente de morte nos dois sexos e a segunda no
sexo feminino. Ainda no Brasil, anualmente, de 12 a 13 mil crianças
menores de 14 anos são acometidas por algum tipo de câncer, e destas,
cerca de 70% podem ser consideradas curadas, dependendo da precocidade
do diagnóstico. Quanto à mortalidade, apresentase como a terceira causa
de morte na população abaixo de 14 anos. Nos próximos 30 anos, o aumento
do número de casos de câncer será de 20% nos países desenvolvidos e de
100% nos países em desenvolvimento. Atualmente, mais da metade dos 9
milhões de casos novos de câncer ocorre nos países em desenvolvimento.
(PIMENTA, 2007).
Agravando este quadro, a falta de acesso
da população à informação e a carência de recursos na área da saúde nos
países em desenvolvimento, resulta em retardo no diagnóstico da
neoplasia. Em cerca de 80% dos casos, o processo patológico só é
identificado em fases muito avançadas, quando a patologia é incurável e a
dor muito freqüente. (PIMENTA, 2007).
É
freqüente ver o emprego de termos como neoplasia, tumor, câncer
referindo-se a mesma coisa. Na verdade, neoplasia significa “crescimento
novo”, e esse crescimento é um neoplasma. Para tumor, originalmente
aplica-se ao intumescimento causado pela inflamação.
As
neoplasias também podem induzir a um tumor, mas seu uso fora do
contexto neoplásico foi abandonado, de modo que, atualmente tumor é
sinônimo de neoplasia. Enfim a palavra câncer é o termo mais comum para
referir-se a todos os tumores malignos. (CONTRAN, 2002).
Metástase
é todo implante tumoral sem continuidade com o tumor primário.
Caracteriza-se por ser um tumor maligno, pois as neoplasias benignas não
metastatizam. A invasividade dos cânceres lhes permite penetrar nos
vasos sangüíneos, nos linfáticos e nas cavidades corporais, criando a oportunidade
para a disseminação. Com poucas exceções, todos os cânceres podem
metastatizar, em geral, quanto mais agressiva, de crescimento rápido e
volumoso, for à neoplasia primária, maior será a probabilidade de vir a
metastizar. (CONTRAN, 2002).
A
etiologia do câncer divide-se em dois grandes grupos, os ambientais
(agentes químicos, radiações, vírus e outros) e do hospedeiro (fatores
genéticos, transtornos imunológicos e outros). Sendo que, considera-se
que 75 a 80% dos tipos de câncer se devam a fatores ambientais. Por
outro lado, temos o grupo do hospedeiro que se destacam os fatores
genéticos como duas categorias distintas, a primeira é o câncer de
predisposição ou transmissão hereditária, que atualmente se conhece cada
vez mais e melhor como as alterações cromossômicas ou genes que o
acompanham e a segunda é o câncer por alterações adquiridas nos genes
que, em parte, podem ser provocadas por agentes ambientais. (ROZMAN,
1999).
CLASSIFICAÇÃO DO CÂNCER
A
patologia maligna está dividida em neoplasias hematológicas e tumores
sólidos. Neoplasias hematológicas são as doenças que originam-se em
células sangüíneas. Onde encontramos neste grupo as leucemias agudas e
crônicas, os linfomas, o mieloma, a doença de Hodgkin e outras mais
raras. Nos tumores sólidos originados de células malignas de um
determinado órgão, crescem no seu interior, migram para os gânglios que
recebem a drenagem de sua linfa, podendo estender para órgãos vizinhos,
freqüentemente criando metástases em regiões distantes da área primária.
Ainda os tumores sólidos podem ser divididos em dois grandes grupos,
que são os carcinomas com origem em tecidos epiteliais e os sarcomas de
origem embriológica. Os tumores sólidos representam 90% de todos os
casos de câncer diagnosticados. Também temos os melanomas que são
formados por células pigmentadas da pele, os tumores de células
germinativas de origem nas células reprodutoras presentes nos testículos
e ovários e os tumores do sistema nervoso. (FERRARI; HERZBERG, 2007).
ESTADIAMENTO E GRADAÇÃO DO TUMOR
Em
uma avaliação diagnóstica completa é fundamental incluir a
identificação do estágio e do grau do tumor. Isso é feito antes do
início do tratamento, para gerar parâmetros basais de controle, como
avaliação dos resultados da terapia e para manter uma conduta
sistemática e consistente com o diagnóstico e tratamento contínuo. As
opções terapêuticas e prognosticas são determinadas com base no
estadiamento e graduação do tumor. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002)
Segundo
Brunner e Suddarth (2002) O estadiamento é a determinante do tamanho do
tumor e a sua existência de metástase. Existem vários outros sistemas
de classificar a extensão anatômica da patologia. Mas o sistema TNM é
freqüentemente o mais utilizado. Onde T, refere-se à extensão do tumor
primário, N ao envolvimento de linfonodos e M à extensão da metástase.
A
gradação refere-se à classificação das células tumorais. Os sistemas de
gradação definem o tipo de tecido a partir do qual o tumor se originou e
o grau em que as células tumorais retêm as características funcionais e
histológicas do tecido de origem.
Essas
amostras celulares que estabelecem o grau de um tumor são obtidas
através da citologia, biópsia ou excisão cirúrgica. Então, o tumor é
designado com um valor numérico de I a IV. Os tumores de grau I,
conhecidos como tumores bem diferenciados, assemelham muito com o de
origem em estrutura e função. Já os que não se assemelham ao tecido de
origem na estrutura ou função são descritos como mal diferenciados ou
indiferenciados e são designados com o grau IV. Estes tendem a ter
características agressivas e menos responsivos ao tratamento imposto que
os tumores bem diferenciados. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
- QUADRO: Sistema de Classificação TNM
- Fator - Descrição
- T - Tumor Primário
- Tx - Tumor primário não pode ser avaliado
- T0 - Nenhuma evidência de tumor primário
- Tis - Carcinoma in situ
- T1, 2, 3 - Aumento numérico do envolvimento dos linfonodos regionais
- N - Linfonodos regionais
- Nx - Linfonodos regionais não podem ser avaliados
- N0 - Sem metástases em linfonodos regionais
- N1, 2, 3 - Aumento numérico do envolvimento dos linfonodos regionais
- M - Metástases à distância
- Mx - Presença de metástases não pode ser avaliada
- M0 - Ausência de metástases à distância
- M1 - Metástases à distância, M1 pode ser especificado, de acordo com o sítio
- Histopatologia Descrição
- G1- Grau bem diferenciado
- G2- Grau moderadamente bem diferenciado
- G3, 4- Graus mal a muito diferenciados
Fonte: BRUNNER; SUDDARTH (2002, p. 260).
EPIDEMIOLOGIA
Segundo
o Instituto Nacional de Câncer (INCA), deverá ocorrer mais de 472 mil
casos novos de câncer no Brasil no ano de 2006, 234 mil entre os homens e
238 mil entre as mulheres. Os tumores mais incidentes na população
brasileira serão os de pele não melanoma (116 mil), mama feminina (49
mil), próstata (47 mil), pulmão (27 mil) e cólon e reto (25 mil).
O
Brasil vem acompanhando a curva de crescimento da doença apresentada
pelos países desenvolvidos. O número de novos casos previstos está
distribuído de forma heterogênea nas unidades da federação e capitais do
país. A representação geográfica do risco de câncer evidencia tais
diferenças: as maiores taxas se encontram nas regiões Sul e Sudeste e,
as menores, nas regiões Nordeste e Norte. (INCA, 2007).
Já
o câncer de estômago será superado por outros tipos de câncer na
maioria das regiões brasileiras. O comportamento está relacionado as
mudanças socioeconômicas. O aumento do número de domicílios com
geladeira, por exemplo, evita o consumo de alimentos com alto teor de
nitratos ou conservados no sal. (INCA, 2007).
Pela
primeira vez, os tumores infantis, que representam um percentual de 0,5
a 3% do total de casos novos. Enquanto o câncer nos adultos está em
geral, relacionado aos fatores de risco, estilos de vida, alimentação,
ocupação e agentes carcinógenos específicos, as causas associadas ao
câncer infantil ainda são desconhecidas. Geralmente, os tumores mais
freqüentes na infância crescem rapidamente e são mais invasivos. Por
outro lado, respondem melhor ao tratamento e apresentam boas chances de
cura. (INCA, 2007).
A
exceção do câncer de pele não melanoma, os cinco tipos de tumores que
mais acometerão nos homens brasileiros estarão localizados na próstata
(47 mil), no pulmão (18 mil), no estômago (15 mil) e no cólon e reto (11
mil). Para o sexo feminino, estima-se a ocorrência de 49 mil casos
novos de câncer de mama, 19 mil de colo do útero, 14 mil de cólon e reto
e nove mil de pulmão. (INCA, 2007).
TRATAMENTO DO CÂNCER
O
tratamento deve-se basear-se em metas realistas e alcançáveis para cada
tipo específico de câncer. A gama possível visadas para o tratamento
pode incluir a cura (erradicação completa da doença maligna), controle
(sobrevida prolongada e contenção do crescimento da célula cancerosa) e
paliativo (alívio dos sintomas associados à doença). (BRUNNER; SUDDARTH,
2002).
Objetivando
alcançar essas metas utilizam-se múltiplas modalidades no tratamento do
câncer. Grande parte das terapias, incluindo cirurgia, radioterapia,
quimioterapia e a terapia com modificadores das respostas biológicas
(MRB), são utilizadas e fazem parte de várias etapas do tratamento.
(BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Cirurgia
A
excisão cirúrgica é o método mais usado e ideal de tratamento do
câncer. Entretanto a conduta cirúrgica específica pode variar por
diversos motivos. A cirurgia diagnóstica é um método definitivo para
identificar as características celulares que culminam no tratamento. A
cirurgia pode ser o método primário de tratamento, ou pode ser
profilática, paliativa ou reconstrutora. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Cirurgia Diagnóstica
A
cirurgia diagnóstica, como a biópsia, comumente visa obter uma amostra
tecidual que destina à análise das células suspeitas de malignidade.
Três métodos de biópsia comunas são excisional, incisional e por agulha.
A biópsia excisional é freqüentemente usada para tumores de fácil
acesso na pele, mama, porções superiores e inferiores do trato
gastrointestinal e trato respiratório superior. Na maioria dos casos o
cirurgião remove a totalidade do tumor, bem como os tecidos marginais
que o circundam. Esse procedimento de retirada do tumor além da área
tumoral reduz a possibilidade de provocar uma recidiva do tumor e
favorece o estadiamento e a graduação pelo patologista e diminue o risco
de metástase. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
A
biópsia incisional é realizada em casos em que a massa tumoral está
muito grande para ser removida. Nessa situação, uma cunha do tecido a
partir do tumor é removida para análise. Células da cunha tecidual
precisam ser representativas da massa tumoral, para que desse modo o
patologista possa fornecer um diagnóstico exato. Em caso onde as células
não contém tecido representativo, os resultados de biópsia negativa não
representam a ausência de câncer. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
A
biópsia realizada por agulha é utilizada para coletar amostras de
massas suspeitas que são facilmente acessíveis, como alguns crescimentos
nas mamas, tiróide, pulmão, fígado e rim. O procedimento é rápido,
relativamente barato e de fácil realização, requerendo apenas anestesia
geral. O paciente experimenta um desconforto físico passageiro mínimo.
Além disso a possibilidade de metástase é reduzida. (BRUNNER; SUDDARTH,
2002).
Cirurgia como Tratamento Primário
A
meta da cirurgia como tratamento primário é a retirada total do tumor
ou máximo possível (muitas vezes esse procedimento denomina-se desbaste)
e qualquer tecido circundado envolvido, incluindo linfonodos regionais.
Existem duas condutas cirúrgicas comuns empregadas no tratamento
primário do tumor: excisão local e ampla. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
A
excisão local é usada quando a massa é pequena. Inclui a retirada da
massa e margem circunda de tecido normal, de fácil acesso. A excisão
ampla ou radical (dissecções em bloco) retira-se o tumor primário,
linfonodos, estruturas adjacentes envolvidas e tecidos circunvizinhos
que possam estar em alto risco para metástase. Esse método pode resultar
em desfiguração e perda funcional. Essa opção é considerada quando o
tumor pode ser retirado por completo e quando há possibilidades de cura
ou controle. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Cirurgia Profilática
A
cirurgia profilática abrange a retirada de tecidos ou órgãos não-vitais
passíveis de desenvolver câncer. Consideram-se fatores para a
elegibilidade para a cirurgia como: história familiar, pré-disposição
genética, presença ou ausência de sintomas, riscos e benefícios
potenciais, capacidade de detectar o câncer em um estágio precoce e a
aceitação do resultado pós-operatório por parte do paciente. (BRUNNER;
SUDDARTH, 2002).
As
cirurgias profiláticas mais comuns constituem a mastectomia e a
colectomia. Contudo, a justificativa para a cirurgia profilática é
controversa. Como os efeitos fisiológicos e psicológicos são
desconhecidos, a cirurgia profilática é oferecida seletivamente aos
pacientes e discutida com o paciente e família e fornecido o
acompanhamento pré-operatório e pós-operatório. (BRUNNER; SUDDARTH,
2002).
Cirurgia Paliativa
Quando
a meta de cura não pode ser alcançada, as metas de tratamento paliativo
servem para tornar mais confortável o paciente e promover uma vida
satisfatória e produtiva o maior tempo possível. A cirurgia paliativa é
realizada para tentar aliviar as complicações do câncer, como
ulcerações, obstruções, hemorragia, dor e derrames malignos. É
fundamental uma comunicação honesta com a família e paciente para que
não alimente falsas esperanças de cura e desapontamentos. (BRUNNER;
SUDDARTH, 2002).
- QUADRO:Indicações para Procedimentos Cirúrgicos Paliativos
- Procedimentos Indicações
- Colocação de tubo de drenagem pleural: Dor
- Colocação de tubo de drenagem peritoneal (cateter de Tenckoff): Ascite
- Colocação de shunt abdominal (shunt de Levine): Ascite
- Colocação de tubo de drenagem pericárdica: Derrame pericárdico
- Colostomia ou ileostomia: Obstrução intestinal
- Colocação de stent biliar: Obstrução biliar
- Colocação de stent urinário: Obstrução uretral
- Bloqueio nervoso: Dor
- Cordotomia: Dor
Fonte: BRUNNER; SUDDARTH (2002, p. 262).
Cirurgia Reconstrutora
A
cirurgia reconstrutora pode seguir-se à cirurgia curativa ou radical,
realizada na tentativa de melhorar a função ou obter um efeito cosmético
desejável. Geralmente indicada para os tumores de mama, cabeça, pescoço
e pele. A imagem corporal alterada do paciente exerce um forte impacto
sobre a qualidade de vida do paciente, e precisa ser discutida com ele e
com sua família as possíveis opções de cirurgia reconstrutora antes da
cirurgia primária. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Terapia com Radiação
A
terapia com radiação ionizante é usada para interromper o crescimento
celular. Mais da metade dos pacientes com câncer recebem em algum
momento do tratamento. Em muitos casos servem para curar o câncer, como
no caso da doença de Hodgkin, seminomas testiculares, cânceres
localizados de cabeça e pescoço e cânceres de colo uterino.
É
também utilizada para controle da doença maligna, quando um tumor não
pode ser removido por meios cirúrgicos ou quando a metástase está
presente em linfonodos locais, ou ela pode ser uma medida profilática
para evitar a infiltração leucêmica do cérebro ou medula espinhal. A
radioterapia paliativa é utilizada para aliviar os sintomas da
metástase, especialmente quando o câncer disseminasse para o cérebro,
ossos ou tecido mole, ou para tratar as emergências oncológicas, como a
síndrome da veia cava superior ou a compressão raquimedular. (BRUNNER;
SUDDARTH, 2002).
A
ruptura tecidual pode ser ocasionada por dois tipos de radiação
ionizante, os raios eletromagnéticos (raios X e raios gama) e
particularmente (elétrons [partículas beta], prótons, nêutrons e
particulas alfa). A mais perigosa ruptura tecidual é a alteração da
molécula de DNA dentro das células do tecido. Isso ocorre pela quebra
dos filamentos da hélice do DNA, por radiação ionizante que resulta em
morte celular. Outro modo lesivo da radiação ionizante é a ionização dos
constituintes dos líquidos corporais, especialmente a água, levando à
formação de radicais livres e lesionando de maneira irreversível o DNA.
Quando o DNA é incapaz de reparação, a célula entra imediatamente em
fase de suicídio celular ou apoptose, ou seja, a morte programada
geneticamente da célula. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Durante
a síntese do DNA e a mitose (fases S inicial, G2 e M do ciclo celular)
as células são mais vulneráveis aos efeitos de ruptura da radiação,
portanto tecidos corporais que sofrem divisão celular freqüente são mais
sensíveis a radioterapia. São esses tecidos a medula óssea, tecidos
linfático, epitélio do trato gastrointestinal e gônodas. Ocorre um
efeito contrário as células de crescimento lento ou em tecidos em
repousos, denominam-se células relativamente radiorresistentes (menos
sensíveis aos efeitos da radiação). Esses tecidos incluem músculo,
cartilagem e tecidos conjuntivos. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Tumores
radiossensíveis permitem sua destruição por uma dose de radiação, e
também permitem a regeneração celular no tecido normal. Portanto,
teoricamente, a radioterapia pode ser estimulada quando uma maior
quantidade de oxigênio pode ser fornecida para os tumores. Além disso,
se a radiação for fornecida quando a maior parte das células tumorais
está em pleno ciclo celular, a quantidade de células cancerosas
destruídas será máxima. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Quimioterapia
Na
quimioterapia são empregados agentes antineoplásicos na tentativa de
exterminar as células tumorais por interferir com suas funções celulares
e a sua reprodução. Seu uso é feito principalmente para tratar a doença
sistêmica, em vez de lesões localizadas e passíveis de remoção
cirúrgica ou radiação. A quimioterapia pode ser combinada à outros meios
como a cirurgia e/ou radioterapia para diminuir o tamanho do tumor no
pré-operatório, destruir quaisquer células tumorais de leucemia. As
metas da quimioterapia de cura, controle ou paliativa devem ser as mais
realistas possíveis, porque irão determinar os medicamentos a serem
empregados e a agressividade do plano de tratamento. (BRUNNER; SUDDARTH,
2002).
Classificação dos Agentes Quimioterápicos
Certos
agentes quimioterápicos (substâncias ciclo celularespecíficas) destroem
as células em reprodução ativa por meio do ciclo celular. Muitos desses
são faseespecíficos para determinadas fases do ciclo celular, muitos
afetam as células na fase S por interferir com a síntese de DNA ou RNA.
Outros, como os alcalóides da vinca ou de vegetais, são específicos para
a fase M, eles detêm a formação do fuso mitótico. (BRUNNER; SUDDARTH,
2002).
Substâncias
ciclo celular inespecíficas são agentes quimioterápicos que atuam de
forma independentemente das fases do ciclo celular. Esses agentes em
geral apresentam um efeito prolongado sobre as células, levando à lesão
celular ou morte. Muitos planos de tratamento combinam substâncias ciclo
celular específicas e ciclo celular inespecíficas para potencializar o
tratamento. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
Os
agentes quimioterápicos também se classificam conforme os vários grupos
químicos, cada um com um mecanismo de ação diferente. Podem ser do tipo
alquilantes, nitrosuréias, antimetabólitos, antibióticos antitumorais,
alcalóides vegetais, agentes hormonais e agentes mistos. A terapia
medicamentosa combinada baseia-se em toxicidades medicamentosas
diferentes e ações sinégicas, também evitando o desenvolvimento de
mecanismos de resistência à substância. (BRUNNER; SUDDARTH, 2002).
CARACTERÍSTICAS DO PACIENTE ONCOLÓGICO
O
paciente oncopata e outros pacientes restritos ao leito em tratamento
de doenças graves apresentam certas características decorrentes da
doença e sua terapêutica que afetam vários sistemas não somente físicos
mas também emocionais que traduz em problemas e complicações.
EFEITOS DA IMOBILIDADE
A
restrição ao leito é parte integrante do tratamento de várias
patologias agudas ou crônicas, como o câncer. Apesar de a imobilização
ser benéfica nestas doenças, permitindo o tratamento e recuperação do
paciente comprometido, inúmeras complicações podem ocorrer em diversos
órgãos e sistemas. (VIDEIRA, 2004).
As
complicações respiratórias mais comuns incluem diminuição da força dos
músculos respiratórios e conseqüentemente diminuição de até 50% da
capacidade respiratória. Também são descritas alterações na relação V/Q,
atelectasias e pneumonias por dificuldade na eliminação das secreções
brônquicas. Balanço nitrogenado negativo por diminuição da síntese
protéica e aumento do catabolismo, alterações cardiovasculares e a perda
de massa óssea em associação a hipercalcemia e osteoporose. (VIDEIRA,
2004).
Outra
complicação grave da imobilização é a fraqueza e atrofia muscular. Os
músculos perdem cerca de 10 a 15% de sua força a cada semana de
imobilização, os músculos da extremidade inferiores e troncos são os
primeiros a tornarem-se fracos, pois são músculos antigravitacionais e
nos pacientes em posição supina essa força não age. (VIDEIRA, 2004).
A
imobilização prolongada exerce efeitos sobre a resistência, tornando-a
diminuída por meio da redução de força muscular, da atividade metabólica
e circulatória. Sendo que, um músculo normal em inatividade por dois
meses pode perder metade de seu volume. Essa combinação, entre perda de
força muscular, resistência e atrofia resulta em incoordenação dos
movimentos das extremidades podendo limitar as suas atividades de vida
diária. (VIDEIRA, 2004).
Infecção
e sepse também exercem ação sobre o metabolismo muscular. Em caso de
sepse, a resposta inflamatória sistêmica com a liberação de citocinas e
mediadores e as alterações hormonais do cortisol, insulina e glucagon
promovem o catabolismo protéico com evidente e rápida perda de massa
muscular e aumento da excreção urinária de nitrogênio. (VIDEIRA, 2004).
Atrofia
muscular e perda de força em pacientes internados em Unidade de Terapia
Intensiva não pode ser considerada como decorrentes exclusivamente da
inatividade física, mas sim como conseqüência de distúrbios
neuromusculares adquiridos. Polimiosite de patologia grave, miopatia com
perda seletiva de filamentos de actina e miosina necrotizante aguda em
UTI são as formas mais comuns e seus fatores desencadeantes são,
possivelmente, os mediadores inflamatórios da sepse e das altas doses de
corticóides e relaxantes musculares utilizados. (VIDEIRA, 2004).
INFECÇÕES
As
infecções oportunistas são aplainadas pelo distúrbio básico de defesa
no paciente imunocomprometido. Pacientes oncológicos são pré-dispostos a
infecções pela própria doença ou fatores iatrogênicos. Em casos de
maior malignidade, uma infecção é responsável por até 75% dos casos de
morte desses pacientes. Os fatores não específicos predisponentes as
infecções são: perda na continuidade e obstrução anatômica. Entre os
fatores de risco encontram-se desnutrição, terapia para a doença base,
complicações pulmonares, procedimentos como aspiração, cateter e
transfusões de sangue e patologias associadas como a diabetes mellitus.
Os patógenos mais comuns associados a infecções são bactérias como
Listeria monocitis, Micobacteria, Legionela sp e Nocardia sp, os fungos
são Cryptococcus neoformans, Coccidioides immitis e Histoplasma
capsulado, os parasitas são os pnemocistis carinii, toxoplasma gondii e
strongyloides stercoralis e os vírus são os Citomegalovírus, Varicella
zoster e Herpes simples. (EMMANOUILIDES, 1996).
A DOR NO PACIENTE COM CÂNCER
A
dor é um fenômeno complexo, multifatorial e difícil de ser avaliado. A
sociedade Internacional para o Estudo da Dor, em 1979, conceituou dor
como “uma experiência sensorial e emocional desagradável que é descrita
em termos de lesões teciduais, reais ou potenciais. A dor é sempre
subjetiva e cada indivíduo aprende a utilizar este termo a partir de
suas experiências traumáticas. (MELZACK, 1994).
Dor
em pacientes oncológicos pode ser secundária a própria patologia, ou
aos procedimentos terapêuticos, de diagnose, aos fenômenos de
taquifilaxia analgésica, aos aspectos psicoafetivos somados a debilidade
progressiva e muitas vezes terminal. (KOWALSKI, 2002).
Atualmente
a dor ocorre em cerca de 8 milhões de pacientes em todo o mundo,
acometendo até 80% dos pacientes durante os vários estágios da doença
neoplásica. Ela é descrita como dor moderada em 50% dos pacientes e como
insuportável em 30% dos casos. (ISHIZUKA, 2007).
Segundo
as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS), o tratamento da
dor oncológica deve ser realizado utilizando-se uma seqüência crescente
de três níveis de analgésicos gradativamente potentes. Com este esquema,
obtém-se o controle adequado da dor, em pacientes cujo tratamento
medicamentoso não é eficaz, ou cujos efeitos colaterais não são
tolerados, podem ser submetidos a procedimentos cirúrgicos
intervencionistas. (FRANCISCO, 2006).
Fisiopatologia da Dor Oncológica
O
câncer pode lesar receptores de dor (nociceptores), causando dor
somática, visceral, neuropática ou por desaferenciação, através da
invasão direta ao tecido pela neoplasia, ou pela lesão do sistema
nervoso ventral ou periférico. Os nociceptores podem ser ativados por
estímulos nocivos, sejam eles: mecânicos, térmicos ou químicos e,
sensibilizados por estímulos químicos endógenos, como a serotonina,
substância P, bradicinina, prostaglandinas e histamina, liberados após
lesão tecidual. (SAMPAIO, 2005).
A
dor somática é situada, geralmente, é exacerbada com o movimento e
aliviada pelo repouso. Como exemplo pode citar as dores: ósseas,
pósoperatórios e músculoesqueléticas. A dor visceral é provocada pela
distensão das vísceras. É uma dor mal localizada e profunda, referida
pelo paciente como dor em compressão. Freqüentemente, está associada a
sensações de náuseas, vômitos e sudorese, como ocorre no câncer de
pâncreas, na obstrução intestinal e na metástase intraperitoneal.
(SAMPAIO, 2005).
A
dor neuropática ocorre a partir da lesão ou da disfunção do sistema
nervoso central, ou sistema nervoso periférico, e pode ser temporária ou
persistente. Os pacientes que desenvolvem a dor neuropática a descrevem
como "ardente ou penetrante". Ela pode ser acompanhada de parestesias e
resultar em alodinia, devido a sua persistência. A dor neuropática
está, normalmente, presente nas neuralgias do nervo trigêmio, neuralgias
Pós-herpéticas e neuropatias periféricas. A dor por desaferentação é
uma subdivisão da dor neuropática, a qual pode ocorrer devido à lesão ou
ao dano do sistema somatossensorial em qualquer ponto de seu percurso.
Alguns exemplos são a dor do membro fantasma, a talâmica, e outras
situações desencadeadas por lesões centrais. A dor psicogênica é mais
rara e apresenta sintomas psicológicos suficientes para o
estabelecimento de critérios diagnosticados pela psiquiatria em que
nenhuma lesão das vias nociceptivas é identificada. Geralmente, o
diagnóstico é feito por exclusão. A dor, também, pode ser classificada
como: aguda ou crônica. (SAMPAIO, 2005).
Classificação da Dor Oncológica
Pode
ser classificada em três grandes grupos: a dor primária relaciona-se
com o próprio tumor, dor direta ou indiretamente ao tumor primário e às
suas metástases, as iatrogenias resultantes dos procedimentos
terapêuticos ou, ainda, a condições que não se relacionam com o câncer. A
dor mais comum relacionada ao tumor é causada por invasão tecidual,
metástases ósseas, compressão de troncos nervosos, invasão de tecidos
moles, mucosas, sistema circulatório, lesões viscerais, podendo resultar
em espasmos musculares e alterações anatômicas. A alteração causada
pelo tumor na circulação sangüínea libera agentes somados a alterações
imunológicas que resultam em síndromes paraneoplásicas como as
neuropatias periféricas (plexopatia braquial, síndrome de Pancoast,
miopatias e polimialgia reumática e lombossacra). (SAMPAIO, 2005).
A
dor secundária relaciona-se com o tratamento do câncer e podem ser
devidas a cirúrgicas, quimioterápicas, radioterapia, imunoterapia ou
decorrentes do uso de fármacos como ocorre na dor paradoxal causadas por
agentes morfínicos ou por sua supressão. Ainda nesse grupo temos a dor
causada pelo imobilismo e suas complicações. Sua compreensão é
fundamental para o tratamento. Por este motivo, a classificação da dor
é, feita de acordo com a distribuição dos sintomas: localizados,
generalizados, referidos, superficiais, profundos, originados pelas
vísceras, somáticos, neuropáticos ou psicogênicos, e que estado se
encontra, crônico ou agudo. (SAMPAIO, 2005).
Etiologia da Dor Oncológica
A dor do câncer pode ser decorrente de várias fatores. Abaixo cita-se os principais mecanismos geradores de dor.
Dor decorrente da infiltração tecidual pelos tumores
A
dor decorrente da infiltração tecidual pelos tumores pode ter sua
etiologia por invasão óssea, infiltração do neuroeixo, infiltração do
canal raquidiano, carcinomatose meníngea associada, infiltração de
vísceras ocas e parenquimatosas, invasão e oclusão de vasos sangüíneos,
infiltração de mucosas, tegumento e estruturas de sustentação.
Invasão Óssea
A
dor da invasão óssea pode ser decorrente da invasão ou distensão do
periósteo ou fraturas e manifestarse localmente ou, a distância, como
dor referida. Caracteristicamente, acentua-se com a carga e com a
movimentação e melhora com o repouso do segmento comprometido. Ao exame,
constata-se dor à compressão ou percussão das estruturas ósseas. A
expansão da lesão ou as fraturas podem causar compressão, tração ou
laceração de estruturas nervosas e gerar dor neuropática. A radiografia
simples do esqueleto, a cintilografia óssea, a tomografia
computadorizada e a resson2.
Infiltração
e compressão dos troncos nervosos periféricos. A compressão de raízes,
plexos e/ou troncos nervosos periféricos pela neoplasia, linfonodos ou
elementos ósseos fraturados ou deformados podem ser causa de dor aguda e
intensa. Mecanismos de dor por nocicepção estão envolvidos na gênese da
dor aguda e mecanismos de desaferentação na dor neuropática crônica. A
dor neuropática é descrita como queimor e formigamento constantes,
associados a sensações de pontadas e choques paroxísticos no território
desaferentado. Pode agravar-se pela manipulação ou pela percussão do
território acometido (sinal de Tinel). Os exames de imagem localizam as
lesões e os exames eletrofisiológicos localizamnas e quantificam a sua
magnitude. A ressonância nuclear magnética permite o diagnóstico do
local e da natureza das lesões. (CAPONEROL, 2007).
Infiltração do Neuroeixo
Na
infiltração do neuroeixo as metástases encefálicas causam cefaléia
insidiosa e progressiva. A instalação da dor é súbita quando há
sangramento da lesão causal. A cefaléia costuma agravar-se com o
decúbito horizontal, tosse ou espirro, acentuar-se durante o sono e
melhorar com a postura ortostática. Associa-se a náuseas e vômitos que
proporcionam melhora da sintomatologia. Acompanha-se geralmente de
anormalidades motoras, sensitivas, neurovegetativas, das funções
simbólicas, mentais e dos nervos cranianos e de convulsões.
Alterações
da consciência, caracterizadas por sonolência, confusão mental e coma
ocorrem com o progredir da lesão encefálica. Congestão venosa ou edema
de papila instalam-se dias ou semanas após a instalação do quadro. O
diagnóstico é realizado com o exame de tomografia computadorizada e
ressonância magnética do encéfalo. O exame do líquido cefalorraquidiano e
a biópsia estereotomográfica ou por estereorressonância magnética podem
ser necessários para elucidar o diagnóstico etiológico. (CAPONEROL,
2007).
Infiltração do Canal Raquidiano
A
infiltração do canal raquidiano pela neoplasia resulta em lesões
radiculares ou da medula espinhal. A compressão das raízes nervosas
causa dor e déficits neurológicos com características radiculares. A
compressão da medula espinhal resulta em comprometimento motor,
sensitivo e/ou neurovegetativo distais ao local da lesão. Além da dor
radicular, que geralmente constitui a primeira manifestação das
metástases raquimedulares, dor mielopática segmentar ou fantasma pode
ser observado. A radiografia simples, a tomografia computadorizada, a
ressonância nuclear magnética da coluna vertebral e o mapeamento ósseo
identificam a vértebra comprometida, na maioria dos casos. A tomografia
computadorizada, a ressonância magnética e a perimielografia identificam
o local da compressão e a invasão do canal raquidiano. (CAPONEROL,
2007).
Carcinomatose Meníngea Associada
A
carcinomatose meníngea associa-se freqüentemente de cefaléia e de
comprometimento funcional de nervos cranianos e espinhais. O diagnóstico
é realizado pelo exame do líquido cefalorraquidiano que revela
hiperproteinorraquia, hipoglicorraquia e/ou hipercitose à custa de
leucócitos e células neoplásicas e pela tomografia computadorizada ou
ressonância nuclear magnética do encéfalo e do canal raquidiano.
(CAPONEROL, 2007).
Infiltração de Vísceras Ocas e Parenquimatosas
A
obstrução do tubo gastrointestinal, vias biliares, útero e trato
urinário resulta no aumento do seu conteúdo, distensão da sua parede e
dissinergia à montante do local acometido que podem ser causa de
sensação de cólica seguida de dor constate difusa em peso, mal
localizada e referida na parede abdominal e/ou torácica, região dorsal,
lombar sacral, membros inferiores ou superiores e/ou face. Em caso de
isquemia ou hemorragia, há agravamento agudo da dor original. Na invasão
de vísceras parenquimatosas a dor pode decorrer da isquemia ou da
distensão da cápsula dos linfonodos, fígado, glândulas suprarenais ou
pâncreas. (CAPONEROL, 2007).
Invasão e Oclusão de Vasos Sangüíneos
A
infiltração da parede vascular por neoplasias pode resultar em
vasculite e em vasoespasmo; a isquemia resultante causa dor e
claudicação dos membros ou das vísceras. A obstrução das veias gera
edema e venocongestão e a oclusão dos vasos linfáticos causa linfedema e
sensação de dor em peso nas extremidades; esta se acentua quando os
membros são mantidos na posição pendente. (CAPONEROL, 2007)
Infiltração das Mucosas, Tegumento e Estruturas de Sustentação
Infiltração
das mucosas, tegumento e estruturas de sustentação. A necrose do
tegumento e das mucosas é causa de dor em casos de neoplasias orais,
proctológicas e geniturinárias. Agrava-se com o contato local e
defecação. (CAPONEROL, 2007).
Dor Decorrente de Procedimentos Terapêuticos
A
terapêutica utilizada no tratamento do câncer e suas complicações
também causam dor no paciente oncopata, que em muitas ocasiões somados a
outros fatores causais de dor Somam-se resultam em mais sofrimento ao
paciente.
Dor Incisional e Cicatricial
É
comum após laparotomias, toracotomias e amputações dos membros, do reto
e da mama. Na fase aguda, é decorrente do processo inflamatório
traumático e, na fase crônica, decorre da recidiva da neoplasia ou do
traumatismo dos nervos periféricos durante procedimentos operatórios.
(CAPONEROL, 2007).
Dor pós-amputação
Na
fase aguda, a dor no coto decorre do traumatismo operatório e de suas
complicações. A sensação fantasma é comum após amputações. O fenômeno
fantasma Caracteriza-se pela sensação de imagem distorcida quanto a
dimensões e conformações (macrossomia, microssomia, telescopagem) do
órgão amputado. Pode ser estático ou dinâmico (cinético, cinestésico). A
dor no membro fantasma manifestase em menos de 5% dos casos.
Caracteriza-se pelo acoplamento das sensações de queimor, formigamento
e/ou latejamento e choques na imagem do órgão amputado. Sensações
similares ocorrem em doentes que apresentam neuropatias plexulares
braquiais ou lombossacrais. Pode instalarse imediatamente e/ou anos após
a amputação. A duração, a intensidade da dor préoperatório e os eventos
emocionais e ambientais adversos que precederam ou foram concomitantes
com os procedimentos operatórios podem concorrer para aumentar sua
ocorrência. A freqüência dos episódios tende a reduzirse durante os dois
primeiros anos após a amputação. (CAPONEROL, 2007).
Dor pós-quimioterapia
A
neuropatia por ação dos quimioterápicos é comum no tratamento de
oncopata. Geralmente manifesta-se como polineuropatia periférica, ou
seja, como disestesias e alodinia nas extremidades dos membros, muitas
vezes acompanhadas de mialgias e artralgias. (CAPONEROL, 2007).
Dor por Supressão de Corticosteróides
A
supressão de corticosteróides é causa de dor muscular e articular
difusa, que remitem com a sua reintrodução. A fragilidade óssea
resultante da corticoterapia pode ser causa das fraturas patológicas de
vértebras e de necrose asséptica da cabeça do fêmur e do úmero. A
supressão da medicação e a adoção de medidas para o controle da
osteoporose são eficazes na profilaxia desta última complicação.
(CAPONEROL, 2007).
Mucosite
Mucosite
oral, faríngea, esofagiana, gastroduodenal e nasal, comum em doentes
durante cursos de quimioterapia e de radioterapia, causa dor que se
acentua durante a alimentação e é rebelde ao tratamento antiálgico e
resulta em comprometimento da via oral como instrumento de nutrição ou
de aporte de medicamentos. A monilíase do trato digestivo rostral e a
esofagogastroduodenite decorrente do uso de medicamentos, em especial
dos antiinflamatórios, também podem concorrer para a ocorrência de dor.
(CAPONEROL, 2007).
Neuropatia pelo vírus do Herpes-Zórtes
A
neuralgia herpética e pósherpética é comum em doentes oncológicos e
imunossuprimidos manifestase como erupção papulovesiculosa e dolorosa
que acompanha o território de uma raiz nervosa. Após duas ou três
semanas, as vesículas transformam-se em crostas e em lesões cicatriciais
circinadas e discrômicas, onde áreas de anestesia, hipoestesia e
alodinia podem ser identificadas. Na fase aguda, a dor apresenta
características da doença inflamatória, sendo descrita como latejamento e
peso que se acentua com a manipulação local. Na fase crônica, é
descrita como queimor, formigamento e/ou choque nas áreas hipoestésicas,
onde se constatam alodinia e hiperpatia. A dor tornase crônica mais
freqüentemente nos indivíduos com mais de 60 anos de idade. A
corticoterapia sistêmica e, talvez, o uso de antivirais instituídos
precocemente previnem a cronificação da dor. (CAPONEROL, 2007).
Neuropatia Actínica
A
radiação iônica causa três tipos neuropatia periférica, mielopatia e
encefalopatia. A neuropatia actínica crônica manifestase, geralmente,
entre o 4º e o 480º mês após a irradiação e pode comprometer qualquer
tronco nervoso. É comum a neuropatia plexular lombossacral em casos de
neoplasia pélvica e a neuropatia braquial em casos de neoplasia mamária
ou pulmonar. O diagnóstico diferencial entre lesão actínica e
infiltração neoplásica é, muitas vezes, impossível devido à freqüente
associação das duas entidades. A mielopatia actínica ocorre mais
freqüentemente na medula cervical e dorsal. Pode expressar-se
temporariamente ou ter caráter progressivo e permanente. Manifestase
como síndromes sensitivas e motoras espásticas deficitárias em regiões
distais às da lesão e associam-se a comprometimento esfincteriano do
desempenho sexual. A dor apresenta características da dor mielopática.
(CAPONEROL, 2007).
Dor Decorrente do Uso de Medicamentos
A
dor paradoxal ocorre por ação de agentes morfínicos ou durante a sua
supressão. Decorre de mecanismos centrais e periféricos que incluem
espasmos da musculatura lisa das vísceras ocas. A doença péptica pode
ser causada pelo uso de medicamentos (antiinflamatórios, antibióticos,
quimioterápicos) ou da modificação do perfil alimentar e das reações
psicocomportamentais geradas pela condição álgica e pela afecção
primária. (CAPONEROL, 2007)
Síndromes Paraneoplásicas
São
condições álgicas resultantes da ação de agentes liberados na
circulação pelos tumores ou de mecanismos imunológicos secundários ao
câncer. Ocorre especialmente em doentes com tumores pulmonares de
células pequenas ou com neoplasias de mama e/ou ovário. Podem
manifestar-se como ocorrer dermatomiosite, miopatia, artrite,
polimialgia reumática e síndrome dolorosa do tromboembolismo por
hipercoagulabilidade sangüínea. As afecções decorrentes do imobilismo
são representadas pelas úlceras de decúbito, fixações articulares e
distrofia simpáticoreflexo. A erupção pelo vírus do herpeszóster pode
ser decorrente das alterações imunitárias, condição comum em doentes com
linfomas e leucemias. As neuropatias carenciais são geralmente
resultantes da inanição, caquexia ou dos tratamentos. (CAPONEROL, 2007).
Dor Não Relacionada à Doença Oncológica
Afecções
infecciosas, vasculares, traumáticas, metabólicas, carências,
degenerativas ou imunoalérgicas são causa de dor em cerca de 10% dos
doentes com câncer. Dentre estas, cumpre ressaltar a síndrome dolorosa
miofascial, que universalmente associa-se a dor visceral,
musculoesquelética e neuropática e que significativamente contribui para
o agravamento do sofrimento. Pode manifestar-se sem causa aparente, ser
decorrente da sobrecarga do aparelho locomotor durante a execução de
atividades físicas sem o adequado condicionamento físico ou de posturas
antálgicas ou constituir expressão de alterações psíquicas. Impotência
muscular devido à desnutrição ou resultante de neuropatias predispõe os
doentes à sua ocorrência. O comprometimento da amplitude e da mobilidade
articular, a fadiga, o sedentarismo, as irregularidades do sono, as
anormalidades musculoesqueléticas ou metabólicas, as infecções, o frio e
a umidade contribuem para sua instalação e manutenção. (CAPONEROL,
2007).
AVALIAÇÃO DOS PACIENTES
Dor
é um sintoma complexo, individual e subjetivo, cuja interpretação
envolve aspectos sensitivos, cognitivos, comportamentais e culturais e
sofre a influência de pensamentos, dinâmicas familiares, estratégias de
enfrentamento, compensações de fatores étnicos, sexuais, etários,
socioeconômicos e ambientais. A avaliação da dor é necessária em
qualquer doente com dor, especialmente naqueles com câncer, dada a
elevada freqüência de entidades mórbidas que a causam ou a agravam, pois
possibilita o diagnóstico etiológico, nosológico e topográfico da
condição álgica, a identificação das repercussões da dor nas atividades
biológicas, funcionais, mentais e sociais do indivíduo e a seleção das
intervenções terapêuticas antiálgicas é instrumento para aferir sua
eficácia. A dor deve ser considerada não apenas relacionada com a lesão
orgânica ou com determinantes psicológicos, mas também produto de um
conjunto de fatores biomédicos, psicossociais e comportamentais que
participam da experiência dolorosa total. (CAPONEROL, 2007).
ANAMNESE E EXAMES FÍSICOS
As
entrevistas e os exames físicos permitem diagnosticar a doença e sua
localização. A descrição dos aspectos cronológicos, a localização, o
ritmo, a periodicidade e as características sensitivas da dor, os
fatores predisponentes e desencadeantes da condição dolorosa, os fatores
que a aliviam ou que a agravam, a ocorrência de outros sintomas que a
ela se associam, os relatos dos déficits, incapacidades e dos prejuízos
sociais resultantes do quadro álgico, o uso prévio de medicações e de
outras intervenções analgésicas e a interferência de fatores
psicológicos permitem o diagnóstico etiológico e aquilatam as
repercussões da dor. Os dados dos históricos e do exame físico são mais
importantes para o diagnóstico que os dos exames complementares em
muitas condições álgicas. (CAPONEROL, 2007).
A
dor decorrente de anormalidades metabólicas e neoplásicas apresenta
habitualmente progressão lenta; a dor decorrente de lesões vasculares ou
traumáticas normalmente instala-se subitamente. A maioria dos doentes
com dor por desaferentação relata que esta se instala tardiamente,
muitas vezes meses ou anos após o evento traumático. Quando há
evidências de que a dor não é de origem orgânica, deve ser considerada a
possibilidade de que fatores psicológicos estejam envolvidos na
instalação do comportamento doloroso ou que possa haver má intenção.
(CAPONEROL, 2007).
O
aspecto geral do doente, a face, a postura, os parâmetros
neurovegetativos e o estado nutricional devem ser registrados. A região
dolorosa deve ser inspecionada, palpada e percutida. O exame do aparelho
locomotor pode revelar espasmos musculares e áreas reflexas e pontos
gatilhos e dolorosos próprios da síndrome dolorosa miofascial e da
fibromialgia, condições comuns nos doentes com câncer e com dor. O
agravamento da dor durante a solicitação articular pode denotar
artropatia. Quando desencadeada ou agravada com a tosse, espirro e
manobra de Valsalva denotam neuropatias radiculares compressivas.
(CAPONEROL, 2007).
O
exame neurológico deve ser realizado rotineiramente e aprofundar-se no
detalhamento da avaliação da sensibilidade, motricidade, função dos
nervos cranianos e funções simbólicas devido ao fato de as neuropatias
primárias ou secundárias serem comuns, especialmente em doentes com
doença oncológica crônica ou avançada. (CAPONEROL, 2007).
Entretanto,
não há correlação de proporcionalidade entre as queixas de dor e as
anormalidades físicas. Lesões de grande monta podem ocorrer em doentes
assintomáticos e muitas afecções não identificadas podem ocorrer em
doentes com dor muito intensa. Durante o curso da afecção primária,
fatores psicológicos e comportamentais podem exacerbar ou manter a
condição dolorosa e a incapacidade. (CAPONEROL, 2007).
AVALIAÇÃO DA DOR PROPRIAMENTE DITA
Compreende
a quantificação das características da dor e de suas repercussões
biopsicossociais, ou seja, dos comportamentos dolorosos. É baseada nas
expressões verbais e não-verbais e as atitudes indicando que a dor está
sendo experenciada. A intensidade da dor é avaliada com escalas
analógicas visuais e numéricas, (escalas de categorias de expressões
verbais, expressões faciais, cores ou objetos). As características
sensitivas podem ser conhecidas baseando-se na descrição da dor ou com
inventários (Questionário de dor de McGill). (CAPONEROL, 2007).
Nos
indivíduos com comprometimento da consciência ou da cognição e em
crianças, a avaliação dos comportamentos dolorosos (vocalização),
expressões faciais, movimentos e postura do corpo e de seus segmentos,
atitudes, atividades de vida diária, desempenho durante a execução das
tarefas elaboradas ou não, atividades laborativas, demanda por
medicações ou outras medidas analgésicas, relacionamento interpessoal,
humor e as variações nos parâmetros podem ser os referenciais para
quantificar a dor. (CAPONEROL, 2007).
A
avaliação dos prejuízos sociais possibilita identificar o significado
da dor. Há escalas verbais, escalas visuais analógicas, escalas de
descritores diferenciados e escalas de desconforto para a avaliação dos
impactos emocionais da dor. A avaliação psicológica especializada é
necessária em doentes que apresentam dor rebelde, comprometimento
funcional desproporcional com o achado clínico, intensos estresses
psicológicos ou que fazem uso exagerado dos serviços de saúde, de
medicamentos e do álcool. A avaliação das incapacidades e dos déficits
complementa a avaliação dos doentes. Entretanto, ambos podem independer
da intensidade da dor. (CAPONEROL, 2007).
Nos
idosos e em doentes com doenças avançadas, as percepções sensitivas
tornam-se menos aprimoradas. As alterações do estado mental, o
comprometimento de outras funções, as modificações do afeto e das outras
emoções e uso abusivo de agentes medicamentosos e drogas contribuem
para sua ocorrência. (CAPONEROL, 2007).
ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO CÂNCER
Dentre
todas as patologias, o câncer é que provoca o efeito mais devastador
sobre o aspecto psicológico nos pacientes. Não somente pelo temor da
morte, mas também pela sua aproximação progressiva e dolorosa, a
mutilação patológica ou terapêutica. É a visão aterrorizante da
incurabilidade, terapêutica radical e a distorção da imagem corporal
causada pelo tratamento do câncer. (UNIÃO INTERNACIONAL CONTRA O CÂNCER,
1999).
O
paciente que recebe o diagnóstico positivo de câncer apresenta níveis
de estresses e angústia emocional elevados. Isso causa um impacto
físico, emocional e social no paciente causadas pelas mudanças que a
doença traz conjuntamente. Essas alterações são consideradas
fisiologicamente normais, apresentando sintomas depressivos que vai de
tristeza até um Transtorno de Adaptação do tipo depressivo, ou mais
grave como a depressão propriamente dita. Em seguida passam por um
período de disforia, marcado pela confusão emocional crescente,
transtornos de sono, apetite, ansiedade, ironias e críticas duras em
relação ao futuro. Esses sintomas necessitam de tratamento, para não se
tornarem duradouros, mas não são todos os pacientes que enquadram nessas
condições. (BALLONE, 2007).
O
comportamento público mais saliente frente ao câncer é o medo, medo da
própria doença, de não ter cura, do seu tratamento mutilador, medo da
dor severa, medo dos seus efeitos colaterais e medo da transmitir aos
seus filhos. Esses temores variam de paciente para paciente, muitas
vezes causados pela superstição e falta de conhecimento sobre a doença.
(UNIÃO INTERNACIONAL CONTRA O CÂNCER, 1999).
Uma
característica da negação é o isolamento social. As pessoas que não
aceitaram o diagnóstico perderam o interesse nas suas atividades de vida
diária, afastamento do cônjuge, pai e mão, amigos, etc. Estes pessoas
podem estar sofrendo de depressão. Precocemente a trajetória da doença,
observa-se ansiedade, muitas vezes esse paciente já tem Transtorno
Específico da Ansiedade. (BALLONE, 2007).
Fisicamente
os sintomas da ansiedade podem incluir dispnéia, transpiração, enjôo e
palpitações, sendo que esses sintomas aumentam as possibilidades de
sofrer dor. Estes sintomas são somas de fatores, tais como, a dor
incontrolável, estados metabólicos anormais (exemplo, hipercalcemia,
hipoglicemia) e tumores produtores de hormônios. Os pacientes com dor
forte estão ansiosos e inquietos, e ansiedade pode potenciar a dor.
Medicamentos como corticóides podem produzir excitação motora,
nervosismo ou até euforia, assim como depressão e idéias suicidas.
(BALLONE, 2007).
Tumores
localizados podem produzir também sintomas semelhantes aos transtornos
de ansiedade, como cânceres pancreáticos que não secretam hormônios
adequadamente. Outros tumores como o de pulmão pode causar sintomas
respiratórios como dispnéia, confundido com ansiedade. (BALLONE, 2007).
Quando
a morte parece certa, como por exemplo, em uma doença grave, a
realidade muda, o que parecia ser segura transforma-se em pedaços. Esses
pedaços são chamados de estágios. Antes de chegar ao fim da vida o
paciente apresenta cinco estágios. Essas cinco situações emocionais são
elas: negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação.
(KUBLER ROSS, 1996).
O
primeiro estágio é a negação e o isolamento. Assim que o paciente sabe
que vai morrer, ele nega os motivos ou causas para a sua morte. Ele
tenta iludir-se, fazendo conta de que não é com ele. A negação à
proximidade da morte é uma etapa importante para a aceitação e
construção de um luto. A Negação e o Isolamento são mecanismos de
defesas temporários do Ego contra a dor psíquica diante da morte.
(KUBLER ROSS, 1996).
O
segundo estágio é a raiva. Ocorre quando a sua convicção do primeiro
estágio desaparece, a partir daí surgem sentimentos de raiva, mágoa,
ressentimento. Esse sentimento é muito difícil, não só para o paciente,
mas por todo o ambiente em sua volta, trazendo sentimentos de sofrimento
em seus familiares por não saberem lidar com essa situação. (KUBLER
ROSS, 1996).
O
terceiro estágio é o da barganha. Caracteriza-se por uma tentativa de
adiamento, na qual tem que incluir um prêmio oferecido “por bom
comportamento”, uma “meta” auto-imposta e incluir uma promessa de não
pedir outro adiamento, caso o primeiro seja concedido. A maioria dessas
barganhas é feita com Deus em segredo, como dificilmente a pessoa tem
alguma coisa a oferecer a Deus, além de sua própria vida, e como se Deus
a estivesse tomando-a, essa barganha assume características de
súplicas. (KUBLER ROSS, 1996).
O
quarto estágio é a depressão. Ocorre quando o paciente está consciente
de sua finitude. Trata-se de uma evolutiva dos estágios anteriores. O
quinto estágio é a aceitação. Este é o último estágio, se o paciente a
alcançou, este aqui é sinônimo de conformidade e não facilidade, a
pessoa aceita a morte porque acredita que o corpo não agüenta mais. É o
período onde a pessoa encontra a paz, silêncio daqueles que estão
cansados de sofrer. É comum entre todas as etapas o sentimento de
esperança, onde a visão da morte como alivio do sofrimento não é
desejada. (KUBLER ROSS, 1996).
ASPECTOS NUTRICIONAIS
Muitos
pacientes portadores de câncer morrem devido à instalação no organismo
de um quadro de catabolismo intenso, simultaneamente ao crescimento
tumoral. Essa condição catabólica é denominada caquexia e também serve
para a descrição do quadro clínico de indivíduos portadores de outras
doenças invasivas. O termo caquexia deriva do grego “kakos” que
significa “mal”, “ruim”e “hexis” que significa “condição do corpo”.
(BACURAU; COSTA ROSA, 1997).
O
câncer e seu tratamento geram alterações nutricionais, que podem levar à
caquexia. Perda de peso e um aumento nas necessidades energéticas.
Entre as alterações, ocorre um aumento nas citocinas como necrose
tumoral (também conhecida como caquectina) pode induzir a glicólise
anaeróbica, febre, liberação de aminoácidos dos músculos, secreção
lipídica hepática e redução na síntese de albuminas. Descrevem-se também
alterações na regulação dos hormônios anabólicos como a insulina,
hormônio do crescimento e somatostatina podem também contribuir para a
caquexia. (DELISA, 2002).
A
caquexia caracteriza-se pelo desenvolvimento de anorexia, astenia,
perda de peso, saciedade prematura, anemia e alteração no metabolismo de
carboidratos, gorduras e proteínas. Algumas hipóteses existem para
explicar o surgimento da caquexia, que pode ser conseqüência da ingestão
diminuída de alimentos, consumo excessivo de nutrientes pelo tecido
tumoral, alterações no metabolismo intermediário do indivíduo, ou o
somatório desses fatores. Destes, a anorexia e o catabolismo promovido
pela presença do tumor são os principais fatores. (BACURAU; COSTA ROSA,
1997).
A
anorexia e o catabolismo no organismo portador de tumor promovem
alterações no metabolismo de macronutrientes (carboidratos, lipídeos e
proteínas). No caso do metabolismo de carboidratos, observa-se aumento
da concentração de lactato circulante (acidemia láctica), alteração na
tolerância à glicose, gliconeogênese hepática e renais alteradas e
finalmente, elevadas atividade do ciclo de Cori. (BACURAU; COSTA ROSA,
1997).
Quanto
ao metabolismo de proteínas, observa-se principalmente acentuada
proteólise muscular, o que permite o fornecimento de aminoácidos
(alanina e glutamina, principalmente) para a produção de glicose no
fígado e nos rins. Em decorrência dessa proteólise aumentada, o
organismo apresenta balanço nitrogenado negativo. Por outro lado, os
aminoácidos liberados a partir da musculatura esquelética também podem
ser utilizados pelo tumor em seu processo de crescimento. (BACURAU;
COSTA ROSA, 1997).
Enfim,
as mudanças no metabolismo de lipídeos caracterizam-se por
hiperlipidemia, depleção de estoques de triacilglicerol e alterações no
complexo responsável pela utilização de ácidos graxos de cadeia longa no
fígado, o complexo carnitina palmitoil-CoA transferase (CPT). (BACURAU;
COSTA ROSA, 1997).
Outra
conseqüência do intenso catabolismo no organismo portador de tumor são
as elevadas concentrações de substratos circulantes, como glicose e
glutamina, substratos energéticos fundamentais para células do sistema
imunológico. As células tumorais, no entanto, competem com o organismo
pelo consumo destes substratos, por apresentarem elevada demanda por
glicose. Este fato é confirmado pelo número aumentado de transportadores
de glicose em células tumorais (GLUT1 e GLUT3). Além disso, tumores
captam aminoácidos liberados pelo músculo prejudicando, portanto, o
fornecimento de substratos para a produção hepática de glicose
(gliconeogênese). Essa competição por substratos energéticos pode ser um
fator que dificulta uma resposta adequada por parte das células do
sistema imunológico em quadros de desenvolvimento tumoral. (BACURAU;
COSTA ROSA, 1997).
A
concentração de hormônios circulantes também se apresenta alterada em
organismos portadores de tumor. Em ratos, a concentração plasmática de
glicocorticóides, catecolaminas e glucagon, hormônios catabólicos,
apresenta-se aumentada, contribuindo para a promoção do já mencionado
catabolismo das reservas de macronutrientes no organismo.
Porém,
mais importante para a atuação dos hormônios catabólicos neste sentido,
é a diminuição da concentração de insulina circulante, uma vez que tal
diminuição permite a ação adequada destes. Finalmente, é importante
ressaltar que esse padrão de alterações metabólicas ocorre em animais
portadores de diferentes tipos de tumor. Algumas alterações presentes no
organismo portador de tumor também são decorrentes da própria resposta
de células do sistema imunológico a diferentes estímulos. Essas células
ao secretarem mediadores (citocinas) contribuem para a modificação do
metabolismo do hospedeiro. Portanto, algumas interleucinas, linfotoxina,
-interferon e fator de necrose tumoral (TNF) liberadas γ em resposta ao
tumor parecem estar envolvidas no estabelecimento da caquexia.
(BACURAU; COSTA ROSA, 1997).
A
desnutrição é um fenômeno multifatorial, pode ser explicado pela
disfagia por tumores de cabeça e pescoço, alterações gastrointestinais,
efeitos colaterais do tratamento, quimioterapia, radioterapia, depressão
pós-operatório, mucosite e vômitos causados por obstrução parcial ou
total do trato gastrointestinal, além disso, temos a diminuição da
absorção intestinal, crescimento bacteriano intestinal, ressecção
gástrica ou intestinal ou pancreática, enterite actínica com fibrose
após, e alterações imunes decorrentes de perda de peso maior que 10% ou
após quimio e radioterapia. Infecções freqüentes e graves consumem
muitas reservas energéticas. (KOWALSKI, 2002).
E
por último temos alterações hormonais e das citocinas que levam ao
aumento da lipólise, proteólise e o consumo de oxigênio. A terapêutica
para o tratamento do câncer produz efeitos colaterais, gerando períodos
de perda de peso que demoram em serem recuperados. A hipomagnesimia,
hiponatremia, hipotassemia e deficiências de zinco, cobrem e selênio
ocorre no decorrer do tratamento. (KOWALSKI, 2002).
As
terapias cirúrgicas também podem interferir nos aspectos nutricionais
do paciente, por provocarem problemas para comer, principalmente em
pacientes com tumores de estômago ou intestinal, produzindo alterações
que resultam em depleção nutricional. As cirurgias podem acarretar
shunts, fistulas e grandes ressecções, gerando má absorção nutricional.
(KOWALSKI, 2002).
O
resultado da desnutrição pode comprometer a resistência pulmonar a
infecção, por bactérias, fungos ou vírus. Pacientes catabólicos e
consumidos têm menor capacidade respiratória, para tossir, expectorar,
produzir surfactante, suspirar e na mecânica mucociliar. Os pacientes
que apresentam diminuição de força muscular em músculos do tórax têm a
capacidade residual funcional aumentada, apresenta também, diminuição
dos níveis séricos de globulinas secretórias, de complemento e de
linfócitos, podendo acarretar anergia. Ocorre ainda, alteração na
maturação e atividade dos macrófagos alveolares com maior predisposição a
infecções por enterobacteriáceas. (EMMERICH, 2001).
URGÊNCIAS NO CÂNCER
O
câncer causa alterações não somente regionais, mas também à distância
através das metástases que causam problemas metabólicos sistêmicos,
somados a eles temos os efeitos colaterais do tratamento. Muitas dessas
urgências são graves e resultam em morte do paciente ou seqüelas
permanentes, caso não sejam diagnosticadas e tratadas rapidamente. As
urgências mais comuns são derrame pericárdico e tamponamento cardíaco,
causados por tumores metastáticos, carcinomas de pulmão e de mama.
Freqüentemente os pacientes apresentam sintomas de dispnéia,
palpitações, tosse seca, e para tamponamento cardíaco apresenta pulso
paradoxal, hipofonese de bulhas e baixa voltagem dos complexos QRS do
eletrocardiograma. (KNOBEL, 1998).
A
obstrução das vias aéreas por tumor geralmente causado por carcinomas
de pulmão, tendo como sintomas: dispnéia, tosse e hemoptise.
Insuficiência respiratória pode ser devido a disseminação de células
neoplásicas através dos linfáticos pulmonares, os sintomas são:
dispnéia, tosse seca, e raramente escarro hemoptóico. Clinicamente, há
uma combinação de dispnéia, hipoxemia e infiltrados pulmonares
difusamente nodulares, associado a sintomas neurológicos de: ataxia,
confusão mental, tonturas e papiledema. (KNOBEL, 1998).
Comumente,
pacientes com câncer apresentam implantes epidurais na coluna
vertebral, por invasão primária de tumores do mediastino posterior ou de
massas retroperitoneais, pela implantação de metástases nessas áreas.
Essa situação pode provocar compressão do canal medular, com
estrangulamento do feixe nervoso. O sintoma mais comum é dor na coluna,
radiculopatias, déficit neurológicos específicos, de acordo com a
localização da lesão por mielopatia isquêmica. (KNOBEL, 1998).
Massa
tumoral primária ou metástases no cérebro acarreta aumento da pressão
intracraniana, podendo ocorrer deslocamento do tecido cerebral ao lado
de menor pressão, causando herniação do cérebro e, conseqüentemente
provocando deterioração do nível de consciência e do padrão respiratório
e cefaléia, dependendo da área atingida. Sintomas neurológicos
iniciam-se com fraqueza muscular vaga, letargia, apatia e hiporreflexia.
(KNOBEL, 1998).
Emergências
metabólicas comuns são freqüentemente hipercalcemia que decorre nos
portadores de metástases ósseas, a reabsorção óssea direta, causada pela
neoplasia é responsável por esta alteração. Ocorrendo sintomas como
fadiga, náuseas, anorexia, poliúria, polidipsia e obstipação. A
hiponatremia atinge 1 a 2% dos causada pela síndrome de secreção
inapropriada de hormônio antidiurético, apresentando os seguintes
sintomas: anorexia, náusea, mialgia e sintomas neurológicos leves. Uma
grande parte das células tumorais apresenta elevados níveis de glicólise
anaeróbica, o que eleva a produção de lactato.
Raramente,
ocorre acúmulo de lactato, devido ao eficiente clearance hepático,
mesmo pacientes acometidos. A acidose láctica pode acontecer quando há
uma elevada produção de lactato associada à disfunção hepática. Sintomas
mais comuns são fadiga, anorexia e alterações do status mental.
(KNOBEL, 1998).
A CRIANÇA COM CÂNCER
Segundo
a Organização Mundial da Saúde e com a International Association for
the Study of Pain (IASP) a dor em crianças com câncer como no adulto
pode ser decorrente da doença, dos procedimentos diagnósticos, dos
efeitos colaterais do tratamento e do estresse psicológico.
A
dor física em crianças, aguda ou crônica, neuropática, nociceptiva ou
mista ou multifatorial pode ser causada pelos danos trazidos ao
organismo pela doença ou pode ocorrer pelos efeitos colaterais imediatos
ou tardios, transitórios ou permanentes, do tratamento oncológico, em
especial pela quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Pode ser oriunda
de problemas acarretados pela hospitalização prolongada, pelas
limitações de locomoção e nutrição, pelas doenças oportunistas ou outras
não associadas ao câncer. De modo geral a dor física sempre envolve
sofrimento psíquico. Nas crianças, apenas 22% das dores em crianças com
câncer relacionam-se à doença propriamente dita, enquanto 57% devem-se
ao tratamento e a procedimentos diagnósticos. (MICELI, 2005).
Como
toda dor é pessoal e subjetiva, a criança percebe e reage a dor
conforme a dinâmica de sua personalidade, sua história pessoal, seu
contexto familiar, social e cultural, assim como de suas condições
físicas, cognitivas e emocional do momento e depende de vários fatores. A
criança como o portador de doença grave necessita durante o período de
internação da presença constante de pessoa que faça parte de suas
relações afetivas, muitas vezes considerada como uma regalia. O familiar
é importante não somente para a criança, mas também para os
profissionais, uma que sua presença pode ser facilitadora ou dificultar o
contato com a criança, interferindo na terapêutica positivamente ou
negativamente. A presença de familiar bem orientado e com boa aliança
terapêutica, proporciona segurança a criança e tranqüilidade a equipe
multidisciplinar na realização de seus procedimentos terapêuticos.
(MICELI, 2005).
A
comunicação da dor pode ocorrer de várias maneiras como auto-relato,
espontâneo ou induzido, de posturas corporais e mímicas faciais e
gestuais sugestivas de dor, percebidas ou não pela criança, de choros e
lamentos, através de alterações afetivas e comportamentais. A
comunicação verbal da dor dependerá de fatores como sexo (culturalmente
meninos tendem a expressar menos livremente suas dores), idade,
desenvolvimento cognitivo, maturidade emocional, orientação espacial e
temporal, estado físico, estado afetivo, condições mentais, tipo de
personalidade, história pessoal e familiar, rede de apoio, meio
ambiente, contexto da dor, capacidade e desejo de expressão no momento.
(MICELI, 2005).
Existem
certas dificuldades de algumas crianças que prejudicam a comunicação da
dor e seu tratamento, como aquelas relacionadas à imaturidade cognitiva
e emocional, às seqüelas da doença ou tratamento, transtornos de humor,
à impaciência do ouvinte, entre outras. Muitas vezes a dor pode ser
confundida com outros sintomas e sentimentos como a depressão,
ansiedade, desconforto físico (fadiga, náuseas) e emocional (tristeza,
irritabilidade, manha, etc). (MICELI, 2005).
A
criança como adulto que adoece, tem dificuldades para compreender o
motivo de ter adoecido, principalmente quando a doença é mal assimilada
também pelos seus pais e sua rede social. O câncer envolve a criança num
universo de segredos e buscas de respostas que podem vir associadas por
culpas e/ou punições. Exemplificando, uma menina hospitalizada
decorrente um neuroblastoma IV abdominal e dor severa e resistente à
morfina, expressa-se através de um desenho livre, as suas fantasias a
respeito de seu adoecimento, apresentando pessoas contaminadas com
doenças causadas por bichos maltratados. (MICELI, 2005).
O
câncer causa também nas crianças prejuízos em todas as esferas de sua
vida, tanto físicas como fisiológicas, nas suas atividades de vida
diária, auto-estima, na vida escolar, social e familiar. A criança pode
apresentar distúrbios de comportamento como regressão e dependência
emocional, isolamento social e agressividade, pode também apresentar
transtornos de humor acompanhados de sintomas de ansiedade e/ou
depressão e sentimentos de tristeza, insegurança, solidão, desamparo e
medos diversos. (MICELI, 2005).
No
caso de crianças mais velhas, em especial adolescentes, é devastador o
efeito da autonomia recém conquistada, da privacidade de uma certa
independência decorrente da doença, do tratamento e dos períodos de
hospitalização. Se a doença resulta em dor o sofrimento da criança é
ampliado. (MICELI, 2005).
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
O
tratamento mais abrangente que um paciente pode ter é facilmente
alcançada através de uma equipe multidisciplinaridade e da
interdisciplinaridade, provendo a maior parte das necessidades do
paciente oncológico. Essa abordagem é muito importante principalmente no
caso da dor, onde sua causa é multifatorial e não é possível somente
uma profissão suprir as suas necessidades. Onde se aborda o paciente
como um ser biopsicosocial e não apenas um como um portador de uma
doença, dor ou comprometimentos, mas como todos os sofrimentos causados
pela doença. (MARCUCCI, 2005).
O
modelo integrado de assistências inter e multi profissional devem
moldar-se à natureza complexa e multidimensional da dor e implicar a
formulação individualizada de planos diagnósticos e terapêuticos que
freqüentemente exigem a adoção de várias modalidades de intervenções
concomitantes ou seqüenciais, multiponto e multimodal. O controle dos
sintomas, a melhora do conforto, a modificação do simbolismo da dor, a
normalização ou a restauração das funções físicas, psíquicas e sociais
dos doentes, a maximização dos potenciais remanescentes, a prevenção da
deterioração das condições físicas e comportamentais são algumas metas a
serem atingidas no tratamento de doentes com dor crônica. (YENG;
JACOBSEN, 2007).
A
reabilitação não deve ser dirigida unicamente para o segmento
acometido; deve ser abrangente e considerar o indivíduo como um todo. O
repouso com imobilização do segmento afetado com órtese visa reduzir a
inflamação e o traumatismo e prevenir posturas inadequadas e a
sobrecarga dos tendões e nervos e pode ser útil na fase aguda,
principalmente quando há neuralgias, tenossinovite inflamatória ou
síndrome do túnel do carpo. Não há benefício quando esta intervenção é
adotada cronicamente, porque pode agravar a sensação de incapacidade e
comportamento doloroso, o descondicionamento e a síndrome do desuso.
(YENG; JACOBSEN, 2007).
Por
esta razão, em grandes centros de tratamento oncológico, freqüentemente
encontramos uma equipe formada por diversos profissionais de saúde,
como oncologistas, radioterapeutas, anestesistas, neurocirurgiões,
psiquiatras, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes
sociais e terapeutas ocupacionais. Todos eles envolvidos igualmente no
processo terapêutico, ou seja, no tratamento, cura, reabilitação ou
mesmo ainda, nos cuidados paliativos em fases avançadas da doença,
quando o bem estar, conforto e uma melhor qualidade de vida se tornam os
principais objetivos terapêuticos. (SAMPAIO, 2005).
TRATAMENTO DA FISIOTERAPIA
A
reabilitação faz uso de procedimentos que modificam a biologia dos
tecidos por mecanismos diretos ou reflexos, aceleram ou facilitam a
administração de fármacos por via parenteral, contribuem para normalizar
funções, induzem a reflexores sobre detalhes do esquema corporal e seu
funcionamento adapta o indivíduo com incapacidades às novas realidades,
resgatam habilidades e possibilitam reintegração profissional e social
dos doentes.
As
medidas não-farmacológicas proporcionam melhora do desempenho
psicocomportamental e possibilita reduzir o consumo de analgésicos,
condição importante quando há limitações para seu uso, especialmente em
idosos. As intervenções físicas são de custo baixo e apresentam pouco ou
nenhum efeito colateral. Podem ser aplicadas em associação às demais
intervenções analgésicas ou isoladamente; a combinação de métodos
farmacológicos e nãofarmacológicos para o controle da dor proporcionam
efeito analgésico melhor do que o emprego isolado de cada um deles.
(LIANZA, 2001).
Segundo
Delisa (2002) o terapeuta deve sempre verificar situações que quando
presentes requerem maior atenção, que terão um impacto substancial na
capacidade do paciente em tolerar alguns serviços de reabilitação com
segurança. Essas condições interferem no uso de modalidades
fisioterápicas como o calor, turbilhão e exercício que pode precisar ser
interrompido em caso de:
- 1. Perfil hematológico: hemoglobina <7,5g, plaquetas <50.000; contagem de glóbulos brancos <3.000.
- 2. Doença óssea metastática com envolvimento de ossos longos (fêmur, tíbia, úmero) de modo que haja mais de 50% do córtex envolvido, erosão de osso cortical aproximando-se do diâmetro do osso e lesão do fêmur com mais de 3 cm.
- 3. Compressão de vísceras ocas (intestinos, bexiga ou ureter), vasos ou medula espinhal.
- 4. Acúmulo de líquido na pleura, pericárdio, abdome e retroperitôneo associado com dor persistente, dispnéia ou problemas de mobilidade.
- 5. Depressão do SNC, coma ou aumento da pressão intracraniana.
- 6. Hipo/hipercalemia, hiponatremia ou hipo/hipercalcemia.
- 7. Hipotensão ortostática, pressão arterial acima de 160/100 mmHg.
- 8. Freqüência cardíaca acima de 110 batimentos/min. Ou arritmia ventricular.
TERAPIA FÍSICA PARA DOR
O
alívio da dor tem um papel precioso nos cuidados paliativos, buscando
uma sobrevida melhor ao paciente comprometido por doença oncológica.
Comprovadamente, existem muitos meios de aliviar a dor, porém alguns
desses meios trazem efeitos colaterais importantes. É sabido que no
contexto atual da Fisioterapia, muitos recursos não são capazes de
tratar a dor oncológica, mas é possível diminuir significativamente o
uso de analgésicos e conseqüentemente seus efeitos colaterais.
(MARCUCCI, 2005).
A
identificação dos fatores que perpetuam e agravam a dor incluindo as
anormalidades posturais, psicocomportamentais e ambientais são etapas
fundamentais no tratamento e na reabilitação. A reabilitação visa à
melhora da qualidade de vida, à readaptação e à reabilitação social e
profissional e não apenas ao alívio da dor. O enfoque interdisciplinar é
fundamental para promover a reintegração social dos doentes com dor
crônica. (YENG, 2001).
Na
dor do paciente com câncer utiliza-se uma escala de medicação proposta
pela Organização Mundial de Saúde que propõe três níveis na medicação
analgésica de acordo com severidade da dor. Nível 1: analgesia com
analgésicos comuns, associados ou não a antiinflamatórios nãoesteroidais
(AINEs). Nível 2: analgesia com opióides fracos, associados ou não aos
medicamentos de nível anterior. Nível 3: opióides fortes, associados ou
não aos medicamentos do nível 1. Onde temos pacientes em que a medição
está em nível 3 e insuficiente há indicação de TENS e termoterapia.
(LIANZA, 2001).
Segundo
Delisa (2002) várias modalidades físicas como calor, frio, eletricidade
e terapia não tradicional têm-se mostrado úteis no alívio da dor em
pacientes com diagnóstico de câncer. Entre as abordagens
não-farmacológicas a TENS têm sido usado de maneira eficaz no combate a
dor oncológica.
Ferrell
et al. avaliaram idosos com dor oncológica educados em conjunto com os
familiares com técnica audiovisual quanto ao uso domiciliar do calor,
frio, massagem, distração e relaxamento; concluíram que o rendimento do
tratamento melhorou. A avaliação e a precisão dos diagnósticos são
elementos determinantes para a instituição dos programas de
reabilitação. A identificação da natureza nociceptiva ou por
desaferentação da dor e da ocorrência de mecanismos de ativação e de
sensibilização das unidades nociceptivas ou da disfunção e lesão das
unidades supressoras de dor, é importante para a implementação do
tratamento e para prever o prognóstico.
Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS) ou (EET)
A
estimulação elétrica nervosa transcutânea (EET) é método que utiliza
corrente elétrica de baixa voltagem aplicada no tegumento com finalidade
analgésica. Foi desenvolvido há mais de 30 anos como instrumento de
teste e seleção para doentes candidatos à estimulação elétrica epidural
medular. Proporciona analgesia e melhora a circulação tecidual. Pode ser
utilizada em doentes que apresentam dor localizada (entorses, espasmos
musculares, lombalgias, fraturas, artralgias) incluindo a causada por
câncer e pelos traumatismos operatórios. (YENG, 2001).
Segundo
Melzack e Wall (1965), o mecanismo analgésico é obtido através da
teoria das comportas espinhais, na qual descrevem a participação de um
mecanismo neurofisiolóico de controle da dor situado na medula espinhal.
Fibras ascendentes A d e C e conduzem os impulsos dolorosos e são
controlados pelo mecanismo local na substância gelatinosa do corno
dorsal da medula, onde interneurônios inibitórios situados nessa região
responsabilizam-se pela manutenção da comporta fechada, ou seja, ocorre a
interrupção na passagem dos impulsos da dor, quando os mesmos são
estimulados pelas fibras tato (Ab). Sendo assim, a TENS pode estimular
as fibras sensoriais do tipo Ab, e induzir analgesia através da ativação
dos interneurônios inibitórios situados no corno dorsal da medula
espinhal. Esse processo, de redução ou minimização da dor recebe o nome
de neuromodulação. (SAMPAIO, 2005).
Segundo
Santana et al. existem outros mecanismos além da teoria das comportas
ou portão espinhal. Uma delas é a atuação da TENS em receptores
opióides. A TENS induz a liberação de opióides endógenos. Essa teoria
aplicase tanto para a TENS de alta como na baixa freqüência. Estudos
neurofarmacológicos apontam para mecanismos espinhais e supraespinhais
relacionados a neurotransmissores em analgesia induzida pela TENS.
Opióides endógenos liberados no SNC estão implicados no mecanismo da
TENS por vários estudos.
Existem
três tipos de receptores opióides, μ, e k. Esses receptores estão
localizados perifericamente, na medula espinhal, e em áreas envolvidas
na inibição descendente, incluindo o núcleo magno da rafe (NMR) na
medula ventrorostral (MVR) e na substância cinzenta periaquedutal (SCP).
Os receptores μ estão localizados na MVR, já os receptores opióides
estão localizados nas varicosidades e nos terminais a MVR.
A
medula ventrorostral inclui tanto o núcleo magno da rafe (NMR), como
núcleos reticulares gigantocelulares alfa (NRG alfa) e núcleos
reticulares paragigantocelulares laterais. A SCP envia projeções para a
MVR, a qual envia projeções para a medula espinhal. A estimulação na SCP
ou na MVR produz inibição dos neurônios do corno dorsal incluindo
células do trato espinotalâmico. É aceito comumente, que a inibição
mediada por opióides produz seus efeitos através da ativação da via
SCPMVR. Além disso a via da MVR utiliza serotonina como
neurotransmissor. Outra via inibitória comum é a do grupo de células
noradrenérgicas pontinas, A (locus ceruleus) e A7 (locus subceruleus).
Estes neurônios pontinos usam o neruotransmissor noradrenalina e
receptores ativos alfa2 espinalmente para produzir inibição dos
neurônios do corno dorsal. (SANTANA; LAURETTI, 2006).
Concentrações
de ßendorfinas aumentam na corrente sangüínea e no fluido
cerebroespinhal após administração de TENS de baixa ou alta freqüência.
Concentrações aumentadas de metencefalinas metioninas, agonista opióide ,
e dinorfina A, agonista opióides k, são observados no fluido
cerebroespinhal lombar depois do tratamento de pacientes com TENS de
baixa ou alta freqüência, respectivamente. Isto sugere que, em nível
espinhal, existem diferentes opióides liberados com diferentes
freqüências de estimulação e assim possíveis diferentes receptores
opióides ativaram para produzir analgesia com alta ou baixa freqüência.
(SANTANA; LAURETTI, 2006).
Outro
possível mecanismo de analgesia é a atuação da TENS nos receptores
muscarínicos. O efeito analgésico da TENS predominantemente envolve
mecanismos centrais (espinhais e supraespinhais) mais que mecanismos
periféricos. Ao nível espinhal, receptores opióides assim como
serotoniérgicos medeiam a analgesia pela TENS. Sistemas inibitórios
descendentes para a SCP e MVR medeiam a analgesia através de receptores
opióides, adrenérgicos e seretoningicos ao nível espinhal. (SANTANA;
LAURETTI, 2006).
Na
medula espinhal, a inibição também envolve receptores colinérgicos que
estão claramente envolvidos na antinocicepção espinhal. Tanto receptores
nicotínicos colinérgicos como muscarínicos colinérgicos estão
localizados no corno dorsal, nas lâminas I a IV. Embora receptores
nicotínicos estejam situados na medula espinhal, seu papel na
antinocicepção espinhal ainda é controverso. Assim, os receptores
espinhais colinérgicos são importantes na inibição da nocicepção através
da ativação de receptores opióides e serotoninérgicos. (SANTANA;
LAURETTI, 2006).
Um
quarto mecanismo sugere a atuação da TENS nos receptores
serotoninérgicos e adrenérgicos. Os efeitos antihiperalgicos da TENS,
predominantemente envolvem mecanismos centrais (espinhais e
supraespinhais) em detrimento dos mecanismos periféricos. A inibição
descendente para a SCP e MVR é mediada por receptores serotoninérgicos
evnoradrenérgicos ao nível espinhal e os neurotransmissores efetores são
serotonina e norepinefrina. A serotonina, 5hidroxitriptamina,vé um
neurotransmissor localizado na via SCPMVR.
A
depleção de seretonina reduz o efeito antinociceptivo da estimulação de
alta freqüência em animais, mas não nos espinalizados. Antinocicepção
induzida pela estimulação elétrica é significativamente potencializada
pela administração de L5hidroxitriptofano, um precursor da serotonina, e
abolida por receptor opióide antagonista. Assim, a inibição da TENS
envolve ativação de vias inibitórias descendentes envolvendo o MVR e
usando serotonina e opióides para reduzir a dor e a hiperalgesia.
(SANTANA; LAURETTI, 2006).
Norepinefrina
é antinociceptiva no corno dorsal da medula e produz efeitos
analgésicos principalmente através da ativação de adrenoceptores alfa2.
Embora receptores adrenérgicos alfa1 sejam encontrados na medula
espinhal, eles não podem estar envolvidos na inibição da dor. Serotonina
também tem efeitos antinociceptivos em nível espinhal, dependendo do
tipo de receptor ativado e da dose usada. (SANTANA; LAURETTI, 2006).
A
TENS também possui participação na ativação do sistema descendente
inibitório da dor, e modulando a atividade dos neurônios de transmissão
situados no corno dorsal da medula a partir da liberação de opióides
endógenos. Essas substâncias liberadas pelo organismo, ativam os
receptores do tipo m e induzem a analgesia. (SAMPAIO, 2005).
Estudos
de experimentação básica afirmam que a TENS de baixa freqüência é menos
efetivo na presença de animais tolerantes à morfina, quando comparados a
TENS de alta freqüência. A partir desses relatos, é possível inferir
que, pacientes em uso crônico de morfina podem não se beneficiar da
analgesia induzida pela TENS de baixa freqüência. Nesses situações
crônicas de uso de morfina, a TENS indicada deve ser a de alta
freqüência (maior que 50 Hz), por apresentar um outro mecanismo
analgésico. (SAMPAIO, 2004).
Um
estudo comparativo entre a utilização da TENS e a quantidade de morfina
usada para analgesia em pacientes após histerectomia, verificou que o
uso da TENS diminui em até 47% o uso da morfina comparado com a TENS
placebo (não ligado). Para a percepção de dor o uso da TENS diminui o
escore da escala análoga visual (VAS), a incidências de náuseas e de
prurido local de forma significativa. O Instituto Nacional do Câncer
apóia que 70% dos pacientes com dor crônica respondem ao TENS, porém,
após um ano de uso este índice pode cair para 30%. (MARCUCCI, 2005).
As
principais vantagens citadas para analgesia de estimulação, em oposição
aos métodos destrutivos, são menor índice de complicações, cirurgias
menos intensas e capacidade de aliviar a dor em todo o corpo, com a
possibilidade de alívio de dor decorrente de regiões centrais e de
estados de desaferenciação. (THE MEDICAL CLINICS, 1987).
Caso
as tentativas transcutâneas sejam insatisfatórias, eletródios
permanentes podem ser implantados nos nervos periféricos e no espaço
epidural (estímulo da coluna dorsal). Essas formas de estímulo
periférico são mais bem sucedidas na dor benigna crônica ou lesão do
nervo que na dor causada pelas lesões malignas. Complicações incluem
possível infecção dos eletródios implantados, déficits no nervo craniano
ou outros déficits neurológicos e falta de partida, causada por quebra
ou rompimento do dispositivo. (THE MEDICAL CLINICS, 1987).
A
estimulação elétrica transcutânea desempenha um papel no bloqueamento
fisiológico da percepção da dor em significativa proporção dos
pacientes. A estimulação direta das colunas dorsais para as fibras do
tato de baixo limiar e fibras proprioceptivas da medula espinhal inibem a
dor transmitida nas fibras C. É posto eletrodos sobre a medula espinhal
torácica, quatro a oito segmentos acima do nível de entrada dos
impulsos de dor na medula, e estimulados com pulsos de um miliampère à
duração de 0,3 milissegundo a uma freqüência de 50 a 200 hertz com um
estimulador implantado subcutaneamente. (KOTTKE; LEHMANN, 1994).
Segundo
Camargo (2000, p. 140) a TENS possui indicação e oferece bons
resultados no alívio da dor oncológica. “Nos quadros álgicos, a
neuroestimulação transcutânea (TENS) tem sido valiosa, com resultados
apreciáveis”. Ou pode ser usado como agente dessensibilizante da dor.
“Se o sintoma doloroso não diminuir, pode-se associar a aplicação de
TENS, como agente dessensibilizante”.
Termoterapia por adição de calor
Consiste
do emprego do calor superficial, por condução (parafina, compressa
quente) ou convecção (infravermelho forno de Bier). Calor profundo, por
conversão (ondas curtas, microondas e ultrasom) estes métodos não são
recomendados em doentes com câncer pois, potencialmente, podem
disseminar células neoplásicas. Os efeitos fisiológicos da termoterapia
por adição incluem vasodilatação, melhora do metabolismo e da circulação
local, aumento da extensibilidade dos tecidos moles, relaxamento
muscular, analgesia e redução da rigidez articular. (FERREL, B.R.,
1996).
A
termoterapia e a massoterapia têm sido usadas efetivamente desde a
época de Hipócrates, para analgesia e alívio do espasmo muscular. Podem
ser seguidos por cinesioterapia levando a um nível de deambulação e
retomada de atividade acima de sedentária. Enquanto o paciente estiver
adequadamente sustentado de modo a não haver deformação perióstica, o
paciente está relativamente livre de dor. (KOTTKE; LEHMANN 1994).
O
aquecimento da pele, através do calor superficial (bolsas térmica,
compressas) reduz a atividade dos motoneurônios gama, na medula
espinhal, e a atividade elétrica das fibras intrafusais, reduzindo o
espasmo muscular e a dor. O aumento da temperatura do tecido muscular,
pode interromper o ciclo dor-espasmo-dor via redução da atividade das
fibras aferentes do fuso muscular (tipo 2), e o aumento da atividade das
vias aferentes dos órgãos tendinosos de golgi. O calor superficial
também possibilita, a remoção de produtos do metabolismo, bem como
também de mediadores químicos responsáveis pela indução da dor e,
conseqüentemente do espasmo muscular reflexo. (SAMPAIO, 2005).
O
calor superficial promove modificações do fluxo sangüíneo na pele,
através de mecanismos reflexos. Vasodilatação pode ocorrer em resposta a
três fatores: reflexo axônico, liberação de mediadores químicos
secundários à elevação da temperatura, reflexos locais mediados pela
medula espinhal. Calor local estimula termoreceptores cutâneos, por meio
de vias aferentes, conduzem os impulsos até a medula espinhal, os
quais, por sua vez, podem inibir a dor via comporta espinhal. Alguns
destes impulsos aferentes são conduzidos através de ramos que estão na
direção dos vasos sangüíneos da pele e liberam mediadores vaso ativos.
Ainda, pode também ocorrer redução da atividade do sistema simpático
adrenérgico ganglionar, conforme à aplicação da termoterapia,
ocasionando vasodilatação.(SAMPAIO, 2005).
A
termoterapia superficial pode ser uma alternativa para a dor oncológica
em pacientes sob controle paliativo. Objetivando promover relaxamento
muscular interferindo no ciclo dorespasmodor, em pacientes com tumor
primário ou secundário, os quais podem estar comprimindo estruturas
neuromusculares e, gerando mais dor. (SAMPAIO, 2005).
A
termoterapia pelo calor superficial pode ser realizada com o uso de
bolsas térmicas, banhos de parafina, luz infravermelha, forno de Bier,
hidroterapia de turbilhão e banheira de hidromassagem. Quando há
necessidade de induzir calor em uma extremidade, a imersão do segmento a
ser tratado em banho aquecido de óleo mineral e parafina é indicado.
Termoterapia associada a hidroterapia com turbilhão reduz o edema,
dessensibiliza cicatrizes operatórias, causa analgesia e facilita a
cinesioterapia em casos de dor articular, músculotendínea e distrofia
simpáticoreflexa, pode entretanto agravar o edema, pois o membro deve
permanecer em postura pendente durante sua execução. As banheiras de
hidromassagem são excelentes em casos de dor muscular e articular
generalizada. (LIANZA, 2001).
Tais
efeitos ocorrem por mecanismos locais, diretos e reflexos. As respostas
locais devem-se ao aumento da temperatura tecidual e da atividade
metabólica local. Os efeitos reflexos incluem respostas regionais e
generalizadas. As reações regionais caracterizam-se pelo aumento do
fluxo sangüíneo na área tratada e pelo relaxamento muscular. As reações
generalizadas incluem o aumento do fluxo sangüíneo no hemicorpo
contralateral, a sedação, o relaxamento, a modificação da sudorese e da
termorregulação e a modificação das propriedades viscoelásticas
teciduais. (YENG, 2001).
Tais
procedimentos proporcionam bem estar e facilitam a execução de
cinesioterapia (exercícios). São indicados no tratamento de processos
inflamatórios localizados, rigidez articular, alentecimento do
peristaltismo e da acidez gástrica. Constituem excelente método de
preparo para a terapia por exercícios, pois reduz a resistência elástica
(elastina) e plástica (colágeno) dos componentes teciduais. (YENG,
2001).
A
termoterapia está contraindicada, em casos de aplicação direta sobre
tumor maligno. Onde a vasodilatação pode apresentar riscos de metástases
por via sangüínea e/ou linfática. Por esta mesma razão estão
contraindicados todas as modalidades de calor profundo (ondas curtas,
ultrassom e laser), onde o aumento do metabolismo local gerado pelo
calor pode disseminar as células tumorais neoplásicas. Também deve-se
evitar aplicação sobre área desprovida de sensibilidade, áreas de
insuficiência vascular, tecidos lesados ou infectados e de radioterapia
local. (SAMPAIO, 2005).
Termoterapia por subtração ou crioterapia
Consiste
da utilização do frio para o tratamento da dor gerada por afecções
musculoesqueléticas traumáticas e ou inflamatórias, principalmente
agudas, e para a redução do edema e indução de relaxamento muscular
quando o calor superficial não é eficaz. A crioterapia gera
vasoconstrição reflexa, quer por aumento da atividade neurovegetativa
simpática, quer por ação direta do frio nos vasos sangüíneos. Causa
também, miorrelaxamento e analgesia em decorrência da redução da
atividade dos fusos musculares, da junção neuromuscular, da velocidade
de condução dos nervos periféricos e da redução da atividade muscular
reflexa (ciclo dorespasmo musculardor).
A
crioterapia, apesar de muito eficaz no alívio da dor, é pouco utilizada
em nosso meio, porque, a maioria dos doentes e profissionais de saúde, é
pouco familiarizada com seu uso. Todavia, de todos os estímulos
cutâneos, é um dos mais eficazes no alívio da dor; o frio proporciona
analgesia, às vezes mais eficaz e mais precoce e duradoura que o calor.
(YENG, 2001).
O
frio pode ser aplicado como compressas e bolsas com agentes frios e
aerossóis refrigerantes. Bolsas refrigeradas contendo água ou material
geliforme, gelo picado ou gelo “mole” (mistura congelada de três partes
de água com uma parte de álcool) são amplamente utilizados. A técnica de
resfriamento por evaporação consiste na aspersão cutânea de aerossóis
como o clorofluorometano e o cloreto de etila. Os aerossóis
refrigerantes promovem resfriamento abrupto da superfície cutânea
induzindo inativação dos pontosgatilhos (PGs) miofasciais.
A
crioterapia deve ser realizada em cursos com a duração de 10 a 30
minutos, uma ou várias vezes ao dia. Deve ser evitada em áreas
anestesiadas, em doentes com alteração da consciência e da cognição, em
casos de alergia ou intolerância ao frio, doença de Raynaud,
crioglobulimenia, hemoglobinúria paroxística ao frio, paramiotonia
congênita e insuficiência circulatória. (YENG, 2001).
A
combinação de crioterapia e termoterapia por adição, ou seja, o banho
de contraste é mais eficaz do que o calor ou do frio isoladamente e
apresenta intenso efeito vasomotor. É indicada quando é objetivado
efeito analgésico maior e resolução mais acentuada do edema. Não é,
entretanto, recomendada em locais de radioterapia recente e em doentes
com alergia ao frio ou em casos onde um tumor compressivo pode estar
causando redução na circulação local e em regiões de tratamento com
radioterapia. (YENG, 2001).
Não
se encontra evidências na literatura atual sobre a crioterapia em
pacientes oncopatas. Entretanto, a redução local de temperatura pode ser
um recurso utilizado no combate à dor inflamatória, comum em alguns
tipos de cânceres como os carcinomas inflamatórios. A fisiologia da
crioterapia provoca vasoconstrição por aumento da atividade simpática,
após estimulação dos receptores de frio na pele. Essa ação provocada
reduz os mediadores químicos que são liberados no local da lesão e dessa
forma, controlam o contato desses mediadores inflamatórios com os
nociceptores reduzindo a dor. Outros dois possíveis mecanismos explicam
os efeitos analgésicos do frio. O primeiro diz respeito ao efeito da
contra-irritação, através da redução da dor pela ativação da comporta
espinhal. O segundo seria através do efeito neurogênico, a partir do
esfriamento local, produz redução da atividade elétrica das fibras
nociceptivas, ocorrendo também a redução da atividade dos neurônios do
corno dorsal da medula espinhal, com cessação súbita dos impulsos
aferentes da dor para estruturas supra medulares. (SAMPAIO, 2005).
Massoterapia
Massoterapia
é uma técnica complementar em pacientes oncológicos, objetivando alívio
da dor. Define-se como manipulação dos tecidos moles do corpo,
executada com ambas as mãos, produzindo efeitos benéficos sobre o
sistemas vascular, muscular e nervoso. Através da estimulação mecânica
dos tecidos, aplicação rítmica de pressão e estiramento, onde ocorre
compressão de tecidos moles estimulando os receptores sensoriais,
produzindo uma sensação de prazer ou bem-estar. (SAMPAIO, 2005).
A
massagem clássica, a massagem das zonas reflexas, a massagem transversa
profunda, a do tecido conjuntivo (Rolfing) e a dos pontos clássicos da
acupuntura proporciona relaxamento muscular, alívio da dor, edema e da
estase linfática. A miofasciaterapia é método que objetiva a inativação
dos PGs miofasciais, relaxamento e alongamento muscular, possibilitando
analgesia, condição básica para que os doentes com dor crônica possam
realizar programa de exercícios avançados (alongamentos posturais,
recondicionamento de força e de resistência à fadiga) para coerência da
sinergia muscular e conseqüentemente do gesto e postura. (YENG, 2001).
A
manobra de estiramento reduz a tensão sobre os músculos e produz
relaxamento muscular e o alívio da dor, estresses e dos níveis de
ansiedade, redução de parte dos efeitos colaterais provocados pela
medicação, como náuseas e vômitos. Resultando em benefícios na qualidade
de sono e de vida do paciente. A região a ser manipulada não pode estar
alterada pelo próprio tumor ou pelo tratamento do câncer. (SAMPAIO,
2005).
Em
um estudo realizado por Ferreira et. al. (2007), para avaliar a
massoterapia como técnica adjuvante de tratamento da dor oncológica e
diminuição do consumo de opióides, onde participaram do estudo 34
pacientes portadores de câncer, os quais apresentavam dor.
Um
grupo que recebeu massoterapia por vinte minutos de técnica padronizada
por dez dias consecutivos, além do atendimento de Fisioterapia
respiratória e cinesioterapia e um grupo controle que recebeu somente
tratamento diário cinesioterapêtico da Fisioterapia.
O
grupo da Massoterapia apresentou diminuição da dor após o quinto dia de
terapia enquanto o consumo de morfina diário manteve-se constante
durante os dez dias. O grupo controle não apresentou diminuição da
intensidade da dor e apresentou consumo diário crescente de morfina. A
qualidade de vida foi classificada como melhor no grupo massoterapia.
(FERREIRA, 2007).
Camargo
(2000) acrescenta que a comunicação não verbal do contato físico muitas
vezes é a que mais conforta. Os cuidados manuais, a mão que doa,
possuem uma dimensão inegável de paz. O corpo, freqüentemente vítima de
sofrimento é percebido por alguns instantes como instrumento de
bem-estar e às vezes prazer. A massoterapia, além de excelente
instrumento de sedação da dor, é uma valiosa ferramenta de comunicação.
Sob esse ponto de vista, pouco importa a técnica utilizada, o tipo de
massagem praticado deve ser aquele esperado pelo paciente. Outro aspecto
importante é o resgate da dignidade e o reencontro com o corpo e
aceitação das transformações causadas pela doença.
Cinesioterapia
A
dor oncológica, comumente restrita a livre movimentação e a atividade
física de modo geral. Essa situação de mobilidade restrita pode levar ao
comprometimento gradual do condicionamento físico, força muscular, bem
como da flexibilidade, capacidade aeróbica, predispondo o paciente ao
desenvolvimento da Síndrome de Imobilização. Essa síndrome, uma vez
instalada pode trazer sérios prejuízos à saúde do paciente,
proporcionando comprometimento da coordenação motora, retrações
tendíneas levando à redução da amplitude de movimento articular.
(SAMPAIO, 2005).
Os
músculos dos doentes com dor tornam-se tensos e descondicionados. O
aumento de tensão muscular gera compressão dos pequenos vasos e
capilares e “isquemia” muscular, do que resulta acúmulo de substâncias
algiogênicas e instalação de dor; a dor acentua a hipertonia muscular.
Nos
estágios avançados de doenças consuptivas, ocorre “fraqueza” devido à
amiotrofia por desuso ou desnutrição. Os músculos, funcionalmente
sobrecarregados ou hipertônicos devido à dor, à sensibilização (reflexos
sômatosomáticos e víscerosomáticos) e às posturas antálgicas, passam a
apresentar PGs e pontos dolorosos. Os exercícios de alongamento procuram
devolver ao músculo fadigado e encurtado o seu comprimento de repouso,
condição fundamental para que adquira potência máxima. Após a fase
inicial de dor intensa, os músculos devem ser fortalecidos para que
possam exercer as atividades habituais. (YENG, 2001).
Em
estágios avançados, ocorre hipotrofia da musculatura por desuso ou
desnutrição. Músculos tensionados devido a dor e as posturas antálgicas
passam a apresentar pontos gatinhos ou pontos de dor. Os efeitos da
inatividade devem ser comunicados ao paciente, para conscientizá-lo da
importância e benefício dos exercícios para manutenção da flexibilidade,
força muscular, condicionamento cardiovascular e respiratório.
(SAMPAIO, 2005).
A
cinesioterapia objetiva reduzir ou prevenir os efeitos da inatividade.
Na posição em decúbito dorsal, a atividade muscular é mínima e a força
exercida pela gravidade nos ossos e nos tecidos de apoio é reduzida. Os
músculos antigravitacionais do tronco e membros inferiores são, algumas
vezes, os primeiros a atrofiar. A hipotensão postural grave é um risco
comum da prolongada inatividade e repouso no leito. Antes de qualquer
tratamento fisioterápico ser iniciado, é importante que sejam
considerados os valores de contagem de plaquetas, hemoglobina e
hematócrito. (ANDERS, 2000).
Diferentes
tipos de exercícios físicos como os exercícios passivos, ativos,
ativos-assistidos e ativos-resistidos, estão disponíveis para serem
utilizados em pacientes com câncer, de acordo com a gravidade do déficit
funcional. O estímulo à marcha e o condicionamento dos aparelhos
cardiovascular e respiratório são também instrumentos que podem
contribuir para melhorar o processo de reabilitação. De maneira que a
utilização dos exercícios terapêuticos deva ser adaptada à capacidade de
cada indivíduo. (SAMPAIO, 2005).
O
exercício influenciaria positivamente o organismo portador de tumor
devido a um aumento do gasto energético. O gasto excessivo de energia
dificultaria o desenvolvimento e crescimento tumoral uma vez que o
organismo ao consumir mais substratos apresentaria uma vantagem contra o
tumor na competição por nutrientes. Porém, apesar de muito estudada,
alguns pesquisadores não acreditam que o principal efeito do exercício
decorra deste mecanismo de gasto de energia. (BACURAU; COSTA ROSA,
1997).
As
investigações tiveram um caráter integrativo, correlacionando aspectos
como o grau de infiltração de macrófagos em tumores e a concentração
plasmática de hormônios, assim como parâmetros relacionados ao
metabolismo muscular. Observa-se que a atividade física espontânea
apresenta efeitos benéficos para síntese proteíca, reverte a diminuição
na concentração plasmática dos hormônios anabólicos (insulina e T3
reverso) e promove a redução da concentração de cortisol (um importante
indutor de proteólise). Dessa forma, conclui-se que a atividade física é
capaz de conservar a massa muscular, apesar da presença do tumor em
constante competição com o organismo por nutrientes. Este mecanismo
seria interessante se considerarmos que dos pacientes portadores de
câncer cerca de 70% morrem de caquexia. Desta forma, uma possível forma
de interferência do exercício no estado do paciente portador de tumor
seria a melhoria dos aspectos relacionados à manutenção da musculatura
esquelética do indivíduo. (BACURAU; COSTA ROSA, 1997).
As
precauções com os exercícios no paciente com câncer precisam ser
consideradas, tais como fatores hematológicos, cardíacos, pulmonares e
esqueléticos. Em um estudo realizado em pacientes com leucemia aguda, a
hemorragia grosseira visível foi rara com uma contagem de plaquetas
acima de 20.000, onde se constatou a não ocorrência de hemorragias
intracraniana com uma contagem de plaquetas acima de 100.000. O risco da
hemorragia está relacionado com a contagem de plaquetas e fatores
sistêmicos. De modo geral, podem ser realizados exercícios físicos sem
restrições com contagem de plaquetas acima de 30.000 a 50.000. Pode ser
realizada exercícios aeróbicos não resistidos com uma contagem de
plaquetas acima de 10.000 a 20.000. (DELISA, 2002).
A
atividade física é contraindicada em casos onde a contagem de plaquetas
encontra-se abaixo de 10.000, em casos de febre acima de 40 graus
Célsius (104 F) devido a baixa tolerância, aumento da freqüência
respiratória e cardíaca e aumento no consumo de plaquetas. Não existem
restrições específicas em relação a contagem de glóbulos brancos, mas o
exercício pode produzir aumentos na sua contagem de modo que os
pacientes devem ser monitorados por testes laboratoriais. (DELISA,
2002).
Segundo
a experiência no manejo de tumores ósseos do Hospital Oncológico Padre
Machado de Caracas, por um período de 20 anos (1984-2003), onde analisou
a estatística apresentando as patologias atendidas e as alternativas
terapêuticas cirúrgicas utilizadas. Resultou em uma incidência
preferencial desta patologia nos membros inferiores (58,58%),
particularmente no fêmur distal e tíbio proximal. Os grupos de tumores
mais freqüentemente observados foram do tecido ósseo (20,95%), seguido
de formações de tecido cartilaginoso (14,79%), tumor das células
gigantes (9,93%), e as lesões pseudotumorais (5,85%). Dentre os tumores
formados por tecido ósseo, chama a atenção a alta incidência de
malignidade (90,52%) e entre os benignos mais freqüentes foram os de
tecido cartilaginoso (69,80%). As cirurgias mais freqüentes realizadas
foram as diagnosticas (58,41%), entre as cirurgias terapêuticas tiveram
diversas opções, entre elas as amputações (24,83%), desarticulações
(6,26%) entres outras, destacando-se a prática de uma cirurgia
preservadora, segundo os princípios oncológicos cirúrgicos. (CARVALLO,
2006).
A
doença óssea metastática pode produzir dor, instabilidade com risco de
fartura patológica e, no caso de metástases na coluna ou crânio
comprometer as estruturas neurológicas adjacentes. Cerca de 10% desses
pacientes sofrerão uma fratura patológica. É necessário suspeitar de
metástases ósseas quando houver dor em ossos, e acompanhar com exames
ósseos os pacientes com alto risco para metástases ósseas, mas
considerar que nem todas as metástases ósseas são dolorosas. (DELISA,
2002).
Os
critérios relativos ao risco de fratura patológica nos ossos longos
incluem lesões que medem mais de 2,5 cm nos ossos longos dos membros
inferiores (mais que 3,0 cm em lesões de membros superiores),
envolvimento de mais de 50% do córtex ósseo, lesões intramedulares com
mais de 50 a 60% do diâmetro da área de secção transversa, envolvimento
de uma extensão de córtex igual ou maior de que o diâmetro da área de
secção transversa do osso ou, no colo do fêmur, destruição cortical
maior do que 1,3 cm no comprimento axial. (DELISA, 2002).
Outro
método para analisar do risco de fraturas consiste em multiplicar o
quociente de diâmetro da lesão e do osso por 100 para obter a
porcentagem da probabilidade de fratura. Na coluna, é usado o método das
três colunas de Denis, considerando que a coluna vertebral é
constituída pela coluna anterior, média e posterior. Na coluna anterior
temos o ligamento longitudinal e a parede anterior do corpo vertebral,
disco e anel; a coluna média é formada pela parte posterior dessas
estruturas e o ligamento longitudinal posterior; e a coluna posterior
inclui os elementos posteriores e ligamentos associados e as cápsulas
facetárias.
Se
duas ou mais dessas colunas estiverem envolvidas, ou apenas a coluna
média, a lesão é considera instável. A coluna também é considera
instável caso haja uma angulação acima de 20 graus. De modo geral, as
lesões líticas são consideradas mais propensas a fraturas do que as
lesões blásticas, embora estas últimas não estejam imunes a fraturas.
(DELISA, 2002).
Os
exercícios físicos nos pacientes desnutridos, podem ser otimizados com a
combinação de maior ingestão calórica, até que se recupere a massa
muscular. A oferta adicional de oxigênio durante a realização dos
exercícios pode promover a diminuição do custo de oxigênio para a
ventilação e melhorar a capacidade aeróbica da musculatura. As curtas
séries de exercícios de intensidade moderada, realizados diariamente,
irão levar, em médio prazo, a um processo adaptativo que resultará no
aumento das reservas nitrogenadas periféricas. Durante os exercícios
deve-se controlar a variação das freqüências cardíaca (variação máxima
aceitável de 20 bpm – batimentos por minuto) e respiratória e pressão
arterial. (REGENGA, 2000).
ALÍVIO DOS SINTOMAS PSICOFÍSICOS
Sintomas
psicofísicos, tais como o estresse e a depressão, são agentes
agravantes para as doenças, pois elas se relacionam com a ativação
excessiva e prolongada do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Em presença
de situações estressantes, ocorre uma gama de pertubações de
comportamento ou exacerbações de problemas sociopáticos. Um meio de
intervenção fisioterapêutica nesses sintomas é alcançado através de
técnicas de relaxamento, como exemplo temos técnicas de terapia manual, o
watsu, o yoga, relaxamento induzido, tai-chi-chuan, e até mesmo os
exercícios físicos. (MARCUCCI, 2005).
Exercícios
físicos adequadamente aplicados a individualidade de cada paciente,
traz bem-estar e vigor a humanos, podendo ser proveitosa para auxiliar o
psicólogo e o psiquiatra no tratamento da depressão, ser benéfica ao
sistema imunológico e desempenhando um papel motivacional nesses
pacientes. (MARCUCCI, 2005).
ATUAÇÃO NAS COMPLICAÇÕES OSTEOMIOARTICULARES
Em
pacientes oncopatas, o desuso pode ter um fator agravante, que é o caso
da quimioterapia ou radioterapia, metástases ósseas que podem levar o
osteopenia e osteoporose muito comum em pacientes após o tratamento de
câncer se manifestando como escoliose em pacientes adultos ou alterações
no desenvolvimento ósseo de crianças. Fraturas patológicas ocorrem em 8
a 30% dos pacientes com metástases, a perda da capacidade de andar e a
eventual queda podem ocorrer causando fratura pelo enfraquecimento
ósseo. (MARCUCCI, 2005).
Exercícios
terapêuticos com pesos leves ou moderados para os principais grupos
musculares podem ser iniciados, sempre considerando o torque gerado e o
estágio que o paciente se encontra, não realizando caso haja alguma
contraindicação. Atividades com descarga de peso como caminhadas,
ciclismo, etc. devem ser inseridas tanto na fase terapêutica quanto na
preventiva. Estes exercícios têm a capacidade de aumentar o estímulo
mecânico sobre a articulação o que aumenta a produção de líquido
sinovial e aumenta a massa óssea. Os exercícios de alongamento também
devem ser inseridos com o intuito de facilitar o retorno dos sarcômeros e
fibras conjuntivas ao realinhamento funcional, melhorando a relação
comprimento-tensão. (MARCUCCI, 2005).
REABILITAÇÃO DE COMPLICAÇÕES LINFÁTICAS
No
Brasil, 33,58 à 100.000 habitantes são afetados pelo linfedema que
consiste na principal complicação em pacientes pós-mastectomia. Sendo
também a principal causa de morte entre as mulheres brasileiras,
decorrido ao atraso no diagnóstico do câncer e a sua fase avançada.
(MARCUCCI, 2005).
Lindefema
define-se por um acúmulo anormal de líquido rico em proteínas no espaço
intersticial decorrente da drenagem linfática deficiente. Freqüente em
casos de pós-mastectomia devido a sua retirada de nódulos linfático
axilar complicado pelo câncer ou radiação terapêutica. Seu diagnóstico é
feito através da diferença de pelo menos 2 cm na perimetria comparativa
bilateral entre os membros. Na perimetria bilateral considerase um
linfedema leve uma diferença inferior a 3 cm, moderado de 3 a 5 cm e
severo acima de 5 cm, usando-se geralmente como referência anatômica os
punhos, 10 cm distais e 15 cm proximais do epicôndilo lateral do úmero.
(MARCUCCI, 2005).
O
linfedema traz complicações físicas como diminuição da amplitude de
movimento, sobrepeso do membro e assimetria na composição corporal,
emocionais, como perda da autoestima, prejuízo estético e dificuldades
para o relacionamento interpessoal e sexual. Entre as possíveis
intercorrências relativas ao linfedema estão o seroma, deiscência dos
pontos cirúrgicos, dor, infecções, aderências e celulite. (MARCUCCI,
2005).
A
Fisioterapia é essencial no tratamento e prevenção do linfedema. Dentre
as intervenções das terapêuticas destacam-se o uso de bandagens
elásticas, a drenagem linfática manual e aparelhos de compressão
pneumática, utilizados freqüentemente em conjunto. Medicamentos como
diuréticos não são apoiados, pois são pouco efetivos e possuem efeitos
colaterais. (MARCUCCI, 2005).
As
bandagens compressivas devem ser colocadas diariamente e removidas ao
repouso noturno, os aparelhos de compressão pneumática intermitente
oferecem uma compressão variável de 10 a 100 mmHg determinada pelo
terapeuta, de distal para proximal decrescente, sendo que as pressões
exercidas não devem exceder 40 mmHg, pois valores acima deste comprimem
as vias venosas responsáveis pela drenagem do líquido excedente.
(MARCUCCI, 2005).
Para
prevenir e tratar a rigidez articular utiliza-se a mobilização passiva e
ativa é necessária durante o período pós-operatório, não excedendo a 90
graus de flexão e abdução de ombro, e a rotação externa até o suportado
pelo paciente. Após a retirada do dreno e dos pontos, se não houver
contraindicação a amplitude pode ser completa. Em repouso, recomenda-se a
elevação dos membros. A eletroterapia pode ser utilizada em sintomas
associados ao linfedema como dor ou rigidez, o ultrassom terapêutico não
se recomenda sobre áreas com câncer ativo ou potencial para metástase.
(MARCUCCI, 2005).
ATUAÇÃO NA FADIGA
A
fadiga é fenômeno complexo e multifatorial manifestado pela percepção
subjetiva de cansaço, alterações no tecido neuromuscular e dos processos
metabólicos que resulta em diminuição da performance física, diminuição
motivacional e deterioração das atividades físicas e intelectuais. A
ocorrência de fadiga atinge 96% dos pacientes durante a quimioterapia,
radioterapia ou após a cirurgia. Em alguns pacientes o déficit da
capacidade física é muito severo e limitante em suas atividades de vida
diária como o banho, vestuário, alimentação, que resulta em dependência e
insatisfação do paciente. Boa parte desse fenômeno origina--se da
anemia, sendo necessário otimizar o gasto energético, evitar
sangramentos e ofertar nutrientes como ferro e proteínas e do excesso de
repouso, que deve ser intercalado entre atividade física. (MARCUCCI,
2005).
As
intervenções terapêuticas para fadiga podem ser manejadas em dois
níveis: tratamento dos sintomas que contribuem para fadiga e a prevenção
da fadiga. Uma opção de treinamento físico é o exercício aeróbico, como
a caminhada, corrida leve, ciclismo e natação.
Em
pacientes com câncer a influência do exercício físico resulta em
melhoras significantes em fatores físicos como capacidade funcional,
força muscular, composição corporal, índices hematológicos, padrões de
sono e fadiga, diminuição de dores, náuseas e diarréias. Em sintomas
psicológicos os benefícios obtidos foram satisfação corporal, melhora do
humor (diminuição da ansiedade, irritabilidade e depressão) e melhora
na qualidade de vida. Um programa de atividade física ideal é aquele de
escolha do paciente, realizado por pelo menos três vezes por semana por
trinta minutos. Além das atividade consideradas exercícios, temos a
opção de acrescentar hobbies como jardinagem, dança ou trata com animais
com a participação do fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional.
(MARCUCCI, 2005).
Segundo
Battaglini (2004) O formato das sessões de exercício físico para
pacientes portadores de câncer sofrendo de fadiga conforme as precauções
para realização de exercício físicos, podem incluir: cinco a 10 minutos
de alongamentos; 10 a 20 minutos de esteira ou bicicleta ergométrica
(50% a 55% da FC máx); exercícios resistidos (desenvolvimento lateral e
frontal com alteres, supino horizontal, puxada no pulley, leg press,
extensão de joelhos, flexão de joelhos e exercícios abdominais no solo).
Ao final de cada sessão, cinco a 10 minutos de alongamento. Os
exercícios com pesos podem ser realizados a 50% de uma repetição máxima
(1RM) com uma série de cada exercício nas primeiras quatro semanas e
duas séries nas semanas seguintes. Progressões em intensidades foram
implementadas de acordo com as recomendações do modelo de progressão do
American College of Sports Medicine (ACSM) para treinamento de força
muscular.
MELHORA DA FUNÇÃO PULMONAR
Freqüentemente
pacientes acamados desenvolvem atelectasias, resultando em diminuição
da capacidade funcional residual, respiração superficial e diminuição de
movimentos ativos e mudanças de decúbitos. A atelectasia pode levar a
hipoxemia e ao aumento de secreção, e pode ser prevenida com mudanças de
decúbito e cinesioterapia respiratória. Pacientes oncopatas e acamados
apresentam freqüentemente dispnéia, ocorrendo em 45 a 70% dos pacientes
com câncer avançado. Esse sintoma pode ser causado por alterações no
parênquima pulmonar ou redução da trama vascular com aumento do espaço
morto como resultado de quimioterapia, de excesso de secreção,
descondicionamento físico, etc. Essa sensação é limitante na realização
das AVDs, como caminhar, subir escada, tomar banho, alimentar e se
concentrar, dentre outros. (MARCUCCI, 2005).
A
Fisioterapia oferece meios para o manejo da dispnéia, tais como o
exercício de controle respiratório, que auxiliam e evitam na
sintomatologia durante um ataque dispnéico, orientações sobre gasto
metabólico, relaxamento para diminuição da ansiedade e dos aspectos
emocionais da dispnéia e alívio da tensão muscular gerada pelo esforço
respiratório. Em casos onde ocorre queda da saturação para menos de 85%
em ar ambiente, durante repouso, indicase a oxigenoterapia, associando a
recursos como ventilação nãoinvasiva por pressão positiva intermitente
(VNPPI), CPAP (pressão positiva contínua) ou BiPAP (pressão positiva com
níveis alternados). (MARCUCCI, 2005).
O
acúmulo de secreções também é muito comum em pacientes acamados devido à
diminuição da movimentação do transporte mucociliar e enfraquecimento
da tosse. A Fisioterapia tem como recurso em patologias pulmonares
obstrutivas a percussão, drenagem postural e manobras respiratórias como
a tosse assistida. Outro método útil para a mobilização de secreções
pulmonares é o instrumento de oscilação expiratória como o Flutter®, que
se utilizado por quatro semanas há a diminuição da viscoelasticidade do
muco. (MARCUCCI, 2005).
Posicionar
corretamente o paciente no leito também é importante na prevenção de
complicações pulmonares. A posição sentada aumenta os volumes pulmonares
e diminui o trabalho respiratório do paciente. Em prono aumenta a
capacidade residual funcional e a relação ventilação/perfusão, em
decúbitos laterais aumentam a ventilação e a mobilização de secreções
pela ação da gravidade. (MARCUCCI, 2005).
Técnicas
de vibração e percussão auxiliam na higiene brônquica através da
energia mecânica vibratória da parede torácica. A tosse ativa ou
assistida associada ao huffing, que exemplificado é o ato de dar
“baforadas” ajuda na eliminação das secreções por três expirações com a
boca aberta e então segue-se à tosse. Em alguns casos é indicado a
aspiração através de uma sonda das secreções. (MARCUCCI, 2005).
Pacientes
com câncer de pulmão tratado com ressecção cirúrgica (seja lobectomia
ou pneumonectomia) podem ser tratados com cinesioterapia respiratória,
técnicas que promovem a máxima expansão torácica, incluindo tosse,
respiração diafragmática com freio labial e exercícios de respiração
segmentar, mobilização de troco para evitar que o lado operado fique
rígido, deambulação precoce e para o manejo da dor todas as modalidades
fisioterápicas citadas como TENS, termoterapia, massoterapia e
cinesioterapia. (DELISA, 2002).
ATENDIMENTO DE PACIENTES NEUROLÓGICOS
Segundo
Marcucci (2005) os tumores cerebrais apesar de ser relativamente raro,
sua incidência e mortalidade vêm aumentando nas últimas décadas. Eles
são responsáveis por 4,4% das mortes por câncer no Brasil, 80% destes
malignos. A sintomatologia da lesão neurológica pode ser tão variada e
ampla, dependente de tantos aspectos, que nem sempre é possível prever
todas as complicações que o paciente pode desenvolver.
Os
sintomas podem ser alterações de comportamento e de consciência,
déficits motores de um hemicorpo, de algum segmento ou global,
movimentos involuntários, paralisias, dificuldades de comunicação,
alterações na percepção e alterações autonômicas.
Segundo
as pesquisas de Marcucci (2005) os resultados obtidos de um programa de
reabilitação em pacientes com tumores cerebrais e encontraram
resultados significativos de melhora funcional. Uma complicação
neurológica que pode afetar até 510% dos casos de câncer é a compressão
da medula espinhal, originada de tumores primários ou metástases. A
região torácica é a mais acometida, seguida pela região lombar e
cervical respectivamente. Os principais sintomas são dor, fraqueza
muscular, parestesias e disfunções vesicais.
O
tratamento objetiva alívio da sintomatologia e evitar à deterioração
neurológica, em alguns casos a remissão sintomática é total ou parcial,
porém na maioria dos casos os pacientes com compressão da medula
espinhal têm um prognóstico ruim, com média de 3 a 6 meses. Os objetivos
da fisioterapia são corrigir as alterações da postura e do equilíbrio,
manter a força muscular, evitar encurtamentos e prevenir complicações
respiratórias. Estes objetivos podem ser conseguidos através de
exercícios ativos livres funcionais, exercícios de incentivo
respiratório, atividades com bola terapêutica, hidrocinesioterapia e
adequação de órteses. (MARCUCCI, 2005).
A
reabilitação depende da sintomatologia que o paciente apresenta. Em
caso de pacientes acamados, a assistência e suporte visam as trocas
freqüentes de posições, com colchões apropriados, estimulação sensorial e
socialização. Para aqueles pacientes com mobilidade ou com potencial
para mobilidade deve ser considerado o uso de órteses e dispositivos de
auxílio a marcha, incluindo cadeira de rodas para pacientes com déficit
de equilíbrio. Para pacientes que o problema predominante seja fraqueza
muscular pode optar pela cinesioterapia e terapia ocupacional para
treino e adaptação de AVDs. (DELISA, 2002).
As
órteses, confeccionadas sob medida com material termomoldável ou
pré-fabricadas, são úteis na reabilitação de doentes com disfunção ou
lesão de estruturas do aparelho locomotor e ou do sistema nervoso, pois
previnem e minimizam as deformidades e as retrações músculotendíneas e
articulares, melhoram a marcha, o suporte do tronco e o alinhamento das
estruturas músculoesqueléticas, corrigem as posturas anormais e aceleram
a cura das úlceras posturais. Em doentes com lesão do plexo braquial,
as seqüelas em flexão dos dedos e punhos podem ser minimizadas ou
retardadas quando são utilizados órteses de posicionamento. (YENG,
2001).
CUIDADOS ÀS ÚLCERAS DE PRESSÃO
Úlceras
de pressão são freqüentemente enfrentadas em pacientes acamados. Essa
área lesada é causada principalmente por longos períodos de permanência
no leito. As úlceras de pressão ocorrem geralmente em áreas de
proeminência óssea como a região sacral, trocantérica, maleolar, nos
calcanhares, nos epicôndilos dos joelhos e cotovelos. Os pacientes mais
acometidos são os ortopédicos, neurológicos e aqueles em UTI, sendo que a
sua ocorrência é facilitada ou agravada por fatores intrínsecos como o
estado nutricional, a idade, o uso de alguns medicamentos, a perfusão
tecidual, o diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e a falta de
sensibilidade que gera um quadro de abandono da área em questão.
(MARCUCCI, 2005).
A
úlcera acompanha-se de odor, drenagem e desfiguração, em alguns casos
podem ser fonte de dor, e o tratamento quando já instalada é à base de
curativos e desbridamentos que nem sempre alcançam a cura. As ulcerações
de decúbito traduzem cuidados de pobre qualidade e o foco deve ser a
prevenção. O alívio de pressão é essencial para a prevenção sendo
necessário o trabalho conjunto da equipe na mobilização do paciente. Os
recursos fisioterapêuticos mais comum são o ultrassom, o laser e luz
ultravioleta (UV). (MARCUCCI, 2005).
FISIOTERAPIA NOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS
Segundo
Marcucci (2005) a Fisioterapia paliativa pediátrica objetivando
especialmente preservar até onde for possível a normalidades da criança.
Alguns dos aspectos e princípios do tratamento paliativo de adultos
pode ser utilizados como diretrizes básicas para os cuidados paliativos
com a criança. No entanto, a gama de condições que limitam a vida de uma
criança é mais ampla por se tratar de um organismo ainda frágil e sem
condições de identificar suas necessidades.
Segundo
Marcucci (2005) pesquisas com o uso de TENS e massagens para o alívio
da dor no Reino Unido apresentam bons resultados. Métodos que distraiam a
criança ou de caráter lúdico são úteis para desviar a atenção do
sentimento de dor. Para a dispnéia deve ser considerado o uso de
oxigênio e nebulização para a melhora da ventilação. A fisioterapia
respiratória tende a ser muito mais passiva em criança. O uso de
recursos lúdicos facilita o manejo e estimula a atividade da criança.
Sempre que possível devem ser utilizados incentivadores de fluxo,
manobras respiratórias como apoio abdominal e PET, a mudança de decúbito
e atividades na posição sentada.
Deve
ser eliminado o excesso de secreção através de manobras como percussão
terapêutica, ginga torácica, tique traqueal, etc. Quando possível, o
profissional deve realizar a terapia após o uso de fluidificadores e
expectorantes prescritos pela equipe médica. Em casos onde a higiene
brônquica não foi satisfatória a realização de aspiração dever ser
considerada. Das manobras mais simples a até mesmo a aspiração podem ser
orientadas para a realização em casa. O treinamento dos pais ou
familiares deve ser realizado primeiramente na presença do
fisioterapeuta ou outro profissional qualificado, até o cuidador
adquirir segurança e destreza. (MARCUCCI, 2005).
CONCLUSÃO
O
profissional da Fisioterapia geralmente não está envolvido com os
cuidados paliativos e não procura abordar as necessidades dos pacientes
terminais e tampouco o tema morte. Essa negligência resulta em
afastamento do profissão dos centros de atendimento destes paciente e
conseqüentemente perda de campo de trabalho. Atualmente existem cursos
de especialização nessas áreas, mais para um pequeno público seleto que
de alguma forma já possui interesse nessa área. Compreensivelmente não é
o mercado mais atraente e lucrativo da Fisioterapia, mas é um dos que
mais necessita de divulgação. Acredito que deva-se começar na formação
do acadêmico, volta-lo aos temas de humanização e morte, com uma
disciplina que aborde a Fisioterapia e a Oncologia.
A
reabilitação é um dos aspectos fundamentais na abordagem dos cuidados
paliativos porque muitos pacientes terminais são restringidos muitas
vezes desnecessariamente ao leito, quando na verdade estão aptos a
usufruir do tratamento da Fisioterapia. A reinserção do paciente com
suas atividades de vida diária e independência funcional restaura o
senso de dignidade e auto-estima do paciente. A fisioterapia contribui
para isso, objetivando preservar a vida e combater o sofrimento.
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