Apesar dos inúmeros avanços nas últimas décadas, a Síndrome da Aspiração do Mecônio (SAM) ainda representa uma das principais causas de morbi-mortalidade no período neonatal, pelo comprometimento respiratório que a SAM ocasiona1.
A eliminação de mecônio intra-útero é considerada como sinal de sofrimento fetal, resultado da hipóxia fetal e da acidose. Os antecedentes materno-fetais mais freqüentemente relacionados são: hipertensão arterial, doença cardiovascular ou pulmonar crônica, hipotensão aguda, descolamento prematuro de placenta, placenta prévia, partos laboriosos, presença de nós circulares, prolapsos de cordão, asfixia intra-uterina crônica, cesárea eletiva e apresentação pélvica2.
A obstrução das vias aéreas por partículas de mecônio desempenham papeis importantes na fisiopatologia da Síndrome da Aspiração do Mecônio (SAM). A obstrução pode ser total devido à grande quantidade de mecônio presente na traquéia, levando à morte rápida por asfixia. Ou por quantidades menores que são levadas para a periferia do pulmão, resultando na obstrução das vias aéreas distais3.
A mortalidade dos recém-nascidos com quadro de Síndrome da Aspiração do Mecônio (SAM) grave pode variar de 10% a 60%, sendo que o principal fator relacionado ao mau prognóstico é a presença de hipertensão pulmonar persistente5. A morbidade está relacionada com o grau de asfixia perinatal, seqüelas pulmonares e neurológicas.
Estudos com novas estratégias de tratamento estão sendo realizados e entre as técnicas utilizadas destaca-se o lavado bronco alveolar com surfactante, as quais evidenciam alguma melhora na oxigenação. Entretanto, nos casos em que se objetiva a remoção da secreção do trato respiratório inferior, como na SAM, são empregadas as “Manobras de Higiene Brônquica” e a manobra fisioterapêutica conhecida com Bab-Squeezing associada ao Lavado Bronco Alveolar 6.
Nesta concepção, a fisioterapia passou a fazer parte do contexto, atuando de forma interdisciplinar na equipe da UTI Neonatal, tendo como papel principal a identificação de fatores de risco que levam aos recém-nascidos prematuros, apresentarem maiores susceptibilidade a distúrbios no seu desenvolvimento motor, mental, sensorial e emocional. Visando desta forma, a prevenção das complicações decorrentes a sua prematuridade7.
Constituíram os objetivos do presente estudo, revisar a literatura sobre a Síndrome da Aspiração do Mecônio (SAM), enfocando aspectos clínicos, fisiopatológicos, descrevendo os fatores de risco associados a SAM, analisando as estratégias fisioterapêuticas utilizadas nestes RNs.
Síndrome da Aspiração do Mecônio
O mecônio é um líquido viscoso esverdeado composto por secreções gastrointestinais, debris celulares, bile, suco pancreático, muco, sangue, lanugo deglutido e vêrnix. A análise bioquímica indica que o mecônio é composto de 72% a 80% de água, mucoproteínas mucopolissacarídeos e proteínas8. Os lipídeos constituem 8% do peso, se do mecônio 47% são de ácidos graxos livres e 53% de ésteres de ácidos graxos, a bilirrubina contribui com 1mg/grama de mecônio seco e mais 32 tipos de componentes esteróides tem sido detectados 8,9.
Segundo Madi et al.2, analisam que o mecanismo pelo qual o feto elimina mecônio no útero é muito discutido; acredita-se haver uma associação com as contrações uterinas regulares, trabalho de parto normal, visto que a eliminação do mecônio ocorre com mais freqüência na fase ativa do parto. Verifica-se a existência de outras teorias tais como: o feto elimina o mecônio quando a SatO2 no sangue da veia umbilical diminui para metade do nível normal do RN termo10,11. Dargaville; Copnell12 sugerem a ocorrência de uma vasoconstricção mesentérica por isquemia intestinal como resposta compensadora à hipoxia, com conseqüente hiperperistaltismo acompanhado ou não de relaxamento. Egbert; Herting13 propõe que a compressão do cordão umbilical em fetos neurologicamente maduros induza a motilidade gastrointestinal e a dilatação do esfíncter anal.
A fisiopatologia da Síndrome da Aspiração do Mecônio (SAM) é descrita por Seletrin; Oliveira; Ferreira16, como à obstrução de pequenas vias aéreas por partículas de mecônio, levando a múltiplas áreas de atelectasia pulmonar, seguida de pneumonite química mediada por leucócitos, enzimas e interleucinas e, possivelmente, a ocorrência de infecção bacteriana secundária. Já França et al.16, relaciona como conseqüências desse processo a ocorrência de variados graus de edema intersticial, vasoconstrição arterial pulmonar, redução da complacência pulmonar, seguida de hipertensão pulmonar persistente e insuficiência respiratória grave15.
Pode apresentar características somáticas de pós-maturidade e manifestações variadas de asfixia perinatal. O aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax ou tórax em barril, devido à doença obstrutiva das vias aéreas, é comum na SAM17. A ausculta pulmonar é inespecífica e podem ser audíveis estertores difusos e diminuição de murmúrio vesicular devido à atelectasia ou pneumotórax. Entre as complicações mais freqüentes Haddard et al.18, destacam o pneumotórax e a hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido, que é observada em mais da metade dos pacientes com SAM grave.
Além disso, Nicolau; Lahóz19 identificam à existência de diferentes achados e, entre eles estão: a hipotensão, coagulação intravascular disseminada, acidose metabólica, anemia, insuficiência cardíaca e crises convulsivas. As alterações metabólicas encontradas pode ser decorrência da asfixia, tais como hipoglicemia e hipocalcemia20.
Ao exame físico se observa hiperinsuflação do tórax, com abaulamento do diâmetro transversal, cianose difusa, taquidispnéia, retração intercostal e diafragmática15. À ausculta pulmonar revela estertores de médias e grossas bolhas em todo o tórax e expiração prolongada, indicando o comprometimento de vias aéreas de pequeno calibre.
Os quadros mais severos de SAM e asfixia, invariavelmente, evoluem com hipertensão pulmonar, que pode estar relacionada à remodelação da vasculatura pulmonar devido à regime hipoxêmico intra-uterino. A plaquetopenia é um indicativo de hipertensão pulmonar associada. A hiperinsuflação, por si só, também favorece a ocorrência de hipertensão pulmonar e hipotensão arterial, pelo aumento da relação ventilação/perfusão21,22,23.
Radiologicamente, a SAM se apresenta com infiltrados grosseiros, áreas de consolidação com hiperinsuflação e, em 30% dos casos, pode haver derrame pleural. Há um risco aumentado de pneumotórax e pneumomediastino, acometendo aproximadamente 25% dos pacientes gravemente enfermos. As radiografias de tórax são alteradas em mais de metade dos recém-nascidos com mecônio abaixo das cordas vocais, em menos de 50% dos pacientes com alterações radiológicas apresentam disfunção respiratória significativa 24.
Abordagens Fisioterapêuticas na (SAM)
A fisioterapia é uma modalidade terapêutica relativamente recente dentro das unidades de terapia intensiva pediátrica e neonatal e que está em expansão, especialmente nos grandes centros. Segundo a portaria do Ministério da Saúde n° 3.432, em vigor desde 12 de Agosto de 1998, as unidades de terapia intensiva de hospitais com nível terciário devem contar com assistência fisioterapêutica em período integral25.
A fisioterapia neonatal, por sua vez, consiste em procedimentos realizados pelo fisioterapeuta no período neonatal, que compreendem o manuseio da parte motora e pulmonar do recém-nascido1,14,26. Um dos objetivos do manuseio pulmonar é a remoção das secreções brônquicas em excesso. Os efeitos prejudiciais que as secreções em excesso têm sobre a função pulmonar e o fato de que sua remoção pode significantemente, melhorar a condutância específica das vias aéreas foram demonstrados em algumas revisões sistemáticas18-24.
Logo, o acompanhamento fisioterapêutico desses recém- nascidos proporcionam uma estabilidade de variáveis hemodinâmicas, como a freqüência cardíaca, a manutenção funcional da circulação cerebral do recém-nascido e, secundariamente, a manutenção das vias aéreas com fluxo menos turbulento possível e com o mínimo de secreção, permitindo um aumento na permeabilidade e redução do número de fatores intrínsecos das vias aéreas que contribuem para o aumento da resistência pulmonar e diminuição nos eventos fisiológicos das trocas gasosas 1,9,14,17,27.
Com relação às indicações da fisioterapia respiratória em recém nascidos pré-termo (RNPT), Abreu et al.24, concluíram que o tratamento fisioterapêutico em (RNPT) enfermos tem indicação sob certas condições clínicas, como as síndromes aspirativas, a síndrome do desconforto respiratório, pneumonias, atelectasias, e na prevenção de complicações da ventilação mecânica. Quatro outros estudos 2-25,28 concluíram que a intervenção fisioterapêutica está indicada na presença de secreção na via aérea, e nos casos com evoluções desfavoráveis à gasometria ou aos exames radiológicos, sinais indicativos de possíveis problemas com a depuração ciliar, com a ventilação ou outras alterações da mecânica respiratória, e na maioria das vezes com as três condições.
Coriam; Silva28 descrevem os objetivos da assistência fisioterapêutica em recém-nascidos, entre eles estão: otimizar a função respiratória de modo a facilitar as trocas gasosas e adequar a relação ventilação- perfusão; adequar o suporte respiratório; prevenir e tratar as complicações pulmonares; manter a permeabilidade das vias aéreas; favorecer o desmame da ventilação mecânica e da oxigenoterapia.
Embora os objetivos da fisioterapia sejam semelhantes àqueles traçados para os adultos, a assistência fisioterapêutica em neonatologia apresenta particularidades relacionadas às diferenças anatômicas e fisiológicas existentes nestes pacientes, em relação às demais faixas etárias 29.
Técnicas de Fisioterapia Pulmonar
A função pulmonar é conceituada como o conjunto de procedimentos fisioterapêuticos a serem realizados nos recém-nascidos durante as sessões clínicas de fisioterapia pulmonar, constituído dos seguintes procedimentos: drenagem postural para as regiões pulmonares de ápice, base e parte medial e lateral do pulmão; vibratoterapia manual e mecânica, realizadas sobre a caixa torácica; percussão torácica, se necessário para desobstrução de vias aéreas, por secreção ou microatelectasias; estimulação manual diafragmática associada à terapia expiratória manual passiva (TEMP) e; aspiração das vias aéreas, após cinco minutos da sessão clínica caso não seja necessário aspirar o recém-nascido durante o procedimento ou imediatamente após 29.
Segundo Liberano et al.30, para realização da vibratoterapia mecânica, utiliza-se um vibrador mecânico, com um condensador de intensidade, realizando-se a terapêutica nas regiões basais, mediais e apicais, bilateralmente, sendo utilizado por um minuto para cada região anatômica, totalizando oito minutos de terapia com este equipamento. Segundo Cavenaghis et al.26, descrevem que este procedimento será realizado na região anterior, posterior e lateral. Ribeiro; Melo; Davidson27 confirmam a utilização da técnica de drenagem postural associada à percussão torácica com as falanges distais e mediais dos dedos indicador e médio, bilateralmente, durante 5 minutos por região anterior e posterior da caixa torácica do recém nascido.
As bases para a aplicação das manobras de higiene brônquica são fundamentadas na suposição de que a retenção do excesso de secreção na árvore respiratória, de forma aguda ou crônica, predispõe ao aparecimento de alterações na função pulmonar. Ribeiro; Melo; Davidson27 investigaram as modificações que ocorrem na função pulmonar após as manobras de higiene brônquica. Comaru; Silva28 avaliaram, em 13 recém-nascidos, a mecânica respiratória após fisioterapia e aspiração, após a hiper-ventilação e duas horas depois da aspiração.
A fisioterapia consistiu de drenagem postural na posição supina, vibração mecânica com aparelho elétrico durante 30 segundos, logo após realizar a aspiração. observaram queda nos níveis de oxigenação arterial e aumento da freqüência cardíaca durante e após a aspiração das vias aéreas, que foram revertidas somente depois do período de hiper-ventilação31.
Além disso 28,29,30, evidenciaram em estudos a diminuição da resistência pulmonar e não encontraram alterações com relação às outras variáveis, como a capacidade residual funcional, a complacência dinâmica, o volume corrente e os níveis de PaCO2. 27,28,29, em 1987, estudaram 20 recém-nascidos pré-termo randomizados em dois grupos: Grupo 1 – recebia as manobras de fisioterapia e o procedimento de aspiração; Grupo 2 – recebia apenas o procedimento de aspiração28.
Os pacientes foram estudados durante as primeiras 24 horas de vida e os autores não verificaram diferenças significativas nos parâmetros de função pulmonar avaliados nos dois grupos. Os efeitos da duração das manobras fisioterapêuticas foram pesquisados por Abreu et al. 29, em 1983, em seis recém-nascidos pré-termo. Os autores avaliaram em seqüência os efeitos do tempo de tapotagem de 0,5; 1,5 e 2,5 minutos, com intervalos de duas horas. O estudo demonstrou piora dos níveis de oxigenação arterial em todos os grupos, exceto naquele que recebeu a tapotagem por 2,5 minutos, no qual ocorreu aumento nos valores da PaO2.
A percussão ou tapotagem pode ser definida como qualquer manobra realizada com as mãos, de forma ritmada ou compassada, sobre um instrumento ou corpo qualquer 32. Foi primeiramente descrita por Linton, em 1934, e desde então vem sendo utilizada com grande freqüência pelos fisioterapeutas33. As percussões pulmonares proporcionam ondas de energia mecânica que são aplicadas na parede torácica e transmitidas aos pulmões. A forma com que estas ondas se propagam assemelha-se analogamente aos círculos que se formam na água para fora do ponto onde uma pedra fora atirada.
O objetivo da percussão torácica é mobilizar a secreção pulmonar viscosa, facilitando sua condução para uma região superior da árvore brônquica, promovendo a eliminação. A secreção é despregada devido à ação das ondas mecânicas produzidas pela mão percussora29.
A percussão caracteriza-se pela manobra de percutir com as mãos em forma de concha ou ventosa, obtida mediante uma concavidade palmar para baixo e os dedos aduzidos. É realizada simultaneamente, com os dedos e a região metacarpiana sobre a zona que apresenta acúmulo de secreção. Deve haver grande mobilidade articular, no sentido de flexo-extensão do punho, pouca amplitude de movimento de cotovelo e mínimo movimento de ombro 11,25. Para maior eficácia, é necessário que a mão em concha esteja perfeitamente acoplada ao tórax do paciente, na fase de contato com a pele, e não se distancie muito na fase em que a mão se afasta do tórax. Com isso, evitam-se a dor e o desconforto, conseqüentes do chicoteamento das mãos na pele que reveste o tórax do paciente 31,32,33.
A vibração é uma técnica de higiene brônquica que tem como objetivo mobilizar secreções já livres na árvore brônquica em direção aos brônquios de maior calibre, visando à expulsão de secreções12. É uma aplicação manual com movimentos oscilatórios combinados a uma compressão aplicados no tórax do paciente, comumente usada por fisioterapeutas com o objetivo de remover secreções16.
A compressão e oscilação aplicadas durante a vibração produzem alguns mecanismos fisiológicos, tais como: aumento do pico expiratório; aumento expiratório do fluxo aéreo, carregando o fluxo de muco para a orofaringe; aumento do transporte de muco pelo mecanismo de diminuição da viscosidade da secreção, utilizando como ideal uma freqüência entre 3-17 Hz; e a otimização do mecanismo da tosse via estimulação mecânica das vias aéreas.
A vibração é aplicada manualmente no tórax durante a expiração após uma inspiração máxima6. Serafim; Rosa31 descrevem a vibração em 18 sujeitos portadores de fibrose cística, demonstrando que o estudo forneceu subsídios de evidências fisiológicas que sugerem que em indivíduos com fibrose cística e função pulmonar estável a vibração foi efetiva na clearence mucociliar, devido à mobilização de secreções e aumento do fluxo expiratório, pico de fluxo expiratório e freqüência oscilatória. A vibração consiste em movimentos rítmicos rápidos e intensos, realizados com as mãos espalmadas, acopladas, e com certa pressão no tórax do paciente.
Tal manobra é realizada com intensidade suficiente para transmitir uma vibração em nível bronquial; o paciente deve estar em posição de drenagem postural, quando a mesma não for contraindicada12,27,32. O fisioterapeuta coloca suas mãos estendidas sobre a região do tórax do paciente onde há maior acúmulo de secreções; posteriormente efetua-se uma contração isométrica de ambos os membros superiores, sendo que o punho e o cotovelo devem permanecer fixos 26,33. Outros autores descrevem a técnica como uma pressão intermitente da parede torácica, sacudindo ou realizando um movimento de vai e vem das mãos, ao invés da contração isométrica dos membros superiores 30,31,32 .
Com a vibração, objetiva-se o deslocamento das secreções pulmonares já soltas através dos brônquios de maior calibre para a traquéia, e então para fora do sistema respiratório. Apresenta melhor eficiência quando realizada após a tapotagem ou percussão torácica, uma vez que as secreções já se encontram soltas. Objetiva-se também o estímulo do reflexo tussígeno e o relaxamento dos brônquios com broncoespasmo. Segundo Liebano et al.30, a vibração apresenta uma maior efetividade quando realizada na região anterior da parede torácica.
O vibrador mecânico deverá ser utilizado na alta freqüência. Ao massagear os recém-nascidos, o toque deve ser harmonioso e rítmico, porém firme e suave, mas não leve demais para que não dê a sensação de desconforto (cócegas). Utilizando técnicas de fisioterapia motora, será possível restabelecer a retroalimentação negativa perdida a partir do nascimento precoce do recém-nascido e propiciar uma via alternativa, por divergência de sinais elétricos em nível de tálamo, para a realização das funções cognitivas, motoras e sensitivas, essenciais ao perfeito desenvolvimento intra-hospitalar dos recém-nascidos29,30.
Na grande maioria das descrições desta técnica, seja em livros ou trabalhos publicados, não se menciona a freqüência com que essa manobra deve ser realizada. Entretanto, Mozzer; Laizo; Pinto32 defende que a vibração deve ser realizada com freqüência de 10 a 15Hz.
A terapia expiratória manual passiva (TEMP) Segundo Silva35 consiste em cumprir manualmente o tórax do bebê durante a fase expiratória e descomprimi-lo ao final desta fase. O fisioterapeuta coloca as suas mãos ao longo da parede torácica do paciente e acompanha o movimento ventilatório, comprimindo o tórax na inspiração.
A terapia expiratória manual passiva (TEMP) consiste na compressão da caixa torácica durante a fase expiratória com o objetivo de mobilizar e remover secreções pulmonares, facilitando a inspiração ativa e aumentando a ventilação alveolar. Para a realização dá técnica, o fisioterapeuta deve posicionar a palma das mãos no tórax do paciente, estando às mãos alinhadas com os ombros. No momento em que o paciente expira é feito uma compressão torácica inferiorizando as costelas, mantendo o contato da mão com a parede do tórax 29,34.
O posicionamento das mãos pode ser alternado assim como pode haver associação de outras técnicas tais como a vibração e a drenagem postural. Uma vez mobilizada as secreções a partir da periferia em direção a traquéia, a mesma deve ser expectorada com o auxilio da tosse. Nesta técnica o fluxo expiratório será acelerado, fazendo com as secreções se desloquem para as vias aéreas de maior calibre onde são removidas com maior facilidade36.
O fisioterapeuta deve avaliar durante a realização da técnica a fadiga do paciente e a presença de sinais de descompensação tais como: aumento da freqüência respiratória, respiração superficial, cianose periférica e alterações no padrão respiratório. Após a realização da técnica o paciente deve ser encorajado a realizar huffings seguidos de tosse ou a tosse de forma isolada removendo assim a secreção mobilizada. No caso de pacientes submetidos à ventilação mecânica invasiva, deve-se realizar a aspiração endotraqueal37.
A drenagem postural em algumas circunstâncias as posições são modificadas de acordo com a tolerância do neonato pela presença de contra-indicações, atentando-se para a presença de refluxo gastroesofágico37.
O posicionamento é importante para o desenvolvimento de padrões de movimentos mais maduros, além de manutenção de tônus muscular mais adequado. Os pré-termos, por serem imaturos e pequenos e por não terem sido suficientemente contidos dentro do útero, têm um tônus muscular diminuído além de menor flexão. A posição prono / supino: Estudos comprovam a eficiência da posição prona para a melhora da saturação de O2 no neonato independente do peso de nascimento, melhorando a eficácia do diafragma, promovido por um melhor apoio abdominal 15,16,22,36.
A tosse pode ser estimulada manualmente através da excitação dos receptores da tosse localizados na região da traquéia. Pode ser obtida pela indução manual denominada tic-traqueal, o qual consiste em realizar movimentos circulares ou um movimento lateral da traquéia durante a fase inspiratória 24.
A aspiração somente deverá ser realizada quando necessária, isto é, quando houver sinais sugestivos da presença de secreção nas vias aéreas (por exemplo, secreção visível no tubo, som sugestivo na ausculta pulmonar, padrão denteado na curva fluxo-volume observado na tela do ventilador 37.
A avaliação da necessidade de aspiração pelo fisioterapeuta deve ser sistemática, em intervalos fixos e, também, na presença de desconforto respiratório. A aspiração traqueal é um procedimento invasivo, bastante irritante e desconfortável para os pacientes. Pode ainda promover complicações, entre as quais: tosse, broncoespasmo, hipoxemia, arritmias e danos à mucosa 4.
Apesar de serem claros na prática clínica, os benefícios da aspiração para remoção das secreções das vias aéreas, nunca foram estudados ou, principalmente, avaliados os efeitos colaterais associados a ela 5,38. Danos à mucosa e ao sistema mucociliar geralmente estão associados à técnica do operador e à quantidade de pressão exercida. Aspiração intermitente, em vez de contínua, pode ser menos traumática para a mucosa, porém existem poucas evidências sobre isso 38,39.
A estimulação proprioceptiva são movimentos coordenados das estruturas biológicas, sendo que há um maior contato entre as articulações, aumentando as estimulações sensoriais e a freqüência de informações para o sistema nervoso central. Nesta técnica, utiliza-se o terapeuta como agente estimulador, mantendo o SNP (Sistema Nervoso Periférico) como ponte para a condução do estímulo ao nível do SNC (Sistema Nervoso Central). Esta tríade contribui para a resposta motora, aumentando a atividade da via motora final, aumentando o metabolismo, melhorando o fluxo sangüíneo e estabilizando a temperatura corporal40.
Metodologia
Trata-se de um estudo do tipo bibliográfico, exploratório e retrospectivo com análise sistematizada e quantitativa.
A pesquisa bibliográfica consiste em elaborar uma pesquisa a partir de material já publicado, constituído, principalmente de artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet. Do tipo exploratório: visa proporcionar maior aprimoramento do problema, envolve pesquisas bibliográficas e estudos de caso, sendo retrospectivo quando há o levantamento de dados num espaço de tempo 5.
Defini-se como pesquisa quantitativa tudo que pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-los e analisá-los. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão).
Após a definição do tema foi feita uma busca em bases de dados virtuais em saúde, especificamente na Biblioteca Virtual de Saúde - Bireme. Foram utilizados os descritores: recém-nascidos, SAM, Fisioterapia. O passo seguinte foi uma leitura exploratória das publicações apresentadas no Sistema Latino-Americano e do Caribe de informação em Ciências da Saúde - LILACS, National Library of Medicine – MEDLINE e Bancos de Dados em Fisioterapia – BDENF, no período de 1998 a 2011, caracterizando assim o estudo retrospectivo, em todos os idiomas, buscando as fontes virtuais, os anos, os periódicos, os métodos e os resultados comuns.
Resultados e Discussão
Após a análise do material bibliográfico foi possível identificar uma restrita literatura a respeito do tratamento da síndrome de aspiração meconial, mas este não é um tema recente.
A história do surgimento da Neonatologia é relatada por AVERY (1984), segundo o autor, a Neonatologia, como especialidade, surgiu na França em 188216. A partir da II Guerra Mundial que os pediatras se dedicaram ao estudo da prematuridade com a colaboração de patologistas. Em 1959 foi identificada uma situação clínica pós-natal, caracterizada como imaturidade funcional pulmonar na síntese do surfactante pulmonar 7.
Entre 1980-1996 foi a era do surfactante, graças a esse tratamento médico precoce e às estratégias de ventilação e uso de óxido nítrico, houve a diminuição da oxigenação extracorporal por membrana (ECMO). A administração de glicocorticóides à grávida nas primeiras 24 a 48 horas antes do parto determina. a aceleração da maturidade pulmonar fetal em simultâneo com a introdução do surfactante exógeno 7.
Nos últimos, treze anos, ao se buscar as Bases de Dados Virtuais em Saúde, tais como LILACS, MEDLINE e SCIELO, utilizou-se as palavras chaves recém-nascido, síndrome de aspiração meconial e fisioterapia foram utilizados no presente estudo 40 publicações. Após a leitura implorativa dos mesmos. Foram possíveis identificar a visão de diversos autores a respeito do tratamento da síndrome de aspiração do mecônio, tais informações serão apresentadas a seguir em forma de tabelas.
Tabela 1- Distribuição das fontes virtuais dos artigos publicados entre 1998 a 2011 relacionados às abordagens fisioterapêuticas adotadas ao RN com Síndrome de Aspiração do Mecônio.
Item |
n=40 |
% |
MEDLINE |
10 |
25,0 |
LILACS |
04 |
10,0 |
SCIELO |
26 |
65,0 |
TOTAL |
40 |
100,0 |
Tabela 2- Distribuição dos artigos pelo ano da publicação entre 1998 a 2011 relacionado às abordagens fisioterapêuticas adotadas no RN com Síndrome de Aspiração do Mecônio.
Item |
n=40 |
% |
1998 |
02 |
5,0 |
2000 |
01 |
2,5 |
2003 |
03 |
7,5 |
2004 |
01 |
2,5 |
2005 |
02 |
5,0 |
2006 |
05 |
12,5 |
2007 |
08 |
20,0 |
2008 |
03 |
7,5 |
2009 |
11 |
27,5 |
2010 |
03 |
7,5 |
2011 |
01 |
2,5 |
TOTAL |
40 |
100,0 |
Tabela 3- Métodos dos artigos publicados entre 1998 a 2011 relacionados às abordagens fisioterápicas adotadas no RN com Síndrome de Aspiração do Mecônio.
Item |
n=40 |
% |
Descritiva |
28 |
70,0 |
Quantitativa |
12 |
30,0 |
TOTAL |
40 |
100,0 |
A pesquisa descritiva visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre as variáveis e os estudos quantitativos são aqueles que podem ser quantificáveis, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-los e analisá-los14.
Tabela 4- Distribuição das fontes impressas dos artigos publicados entre 1998 a 2011 relacionados às abordagens fisioterápicas adotadas no RN com Síndrome de Aspiração do Mecônio.
Item |
n=40 |
% |
Jornal Pediatria RJ |
01 |
2,5 |
Jornal Pediátrico do RS |
02 |
5,0 |
Revista Portuguesa de Pneumologia |
01 |
2,5 |
Jornal Pediátrico dos EUA |
03 |
7,5 |
Revista Pediátrica |
04 |
10,0 |
Jornal de Neonatologia |
02 |
5,0 |
Revista Brasileira Saúde Materno Infantil |
01 |
2,5 |
Revista Brasileira de Desenvolvimento e Crescimento Humano |
02 |
5,0 |
Revista Eletrônica de Enfermagem |
02 |
5,0 |
Revista Acta Paulista de Pediatria |
03 |
7,5 |
Jornal Pediátrico de SP |
02 |
5,0 |
Revista Brasileira de Fisioterapia |
14 |
35,0 |
Revista Santa Fisio |
01 |
2,5 |
Revista pediatr Chil Health |
01 |
2,5 |
Jornal Brasileiro de Pediatria |
01 |
2,5 |
TOTAL |
40 |
100,0 |
Tabela 5- Distribuição dos resultados comuns dos artigos publicados entre 1998 e 2011 relacionados às abordagens fisioterápicas adotadas no RN com Síndrome de Aspiração do Mecônio.
Item |
n=60 |
% |
Manobras de higiene brônquica |
15 |
25,0 |
Percussão |
05 |
8,3 |
Vibração /manual e mecânica |
04 |
6.7 |
Terapia expiratória manual |
03 |
5,0 |
Drenagem postural |
04 |
6,7 |
Posicionamento |
05 |
8,3 |
Tosse induzida |
03 |
5,0 |
Aspiração traqueal |
06 |
10,0 |
Técnicas de fisioterapia motora |
04 |
6,7 |
Estimulação proprioceptiva |
04 |
6,7 |
TOTAL |
40 |
100,0 |
A vibração torácica consiste em movimentos oscilatórios rítmico e rápidos de pequena amplitude, exercidos pela parede do tórax com a intensidade suficiente para causar vibração em nível bronquial, uma freqüência ideal desejada situa-se entre 3 e 55Hz e pode ser aplicada de forma manual ou mecânica. O efeito positivo desta técnica baseia-se na propriedade tixotrípica do muco, que se liquefazem quando submetidos à constante agitação 12,131,4,15,16.
Já a drenagem postural é amplamente empregada na fisioterapia respiratória e seus efeitos são oriundos da ação gravitacional 2,3,4,5,7.
A tosse como recurso do fisioterapeuta pauta-se na capacidade de promover um aumento do fluxo expiratório e possibilita a eliminação de secreções pulmonares. É um fenômeno protetor e depurador das vias áreas e um dos mecanismos defensivos do sistema respiratório 2,3,5,10,11,12,13,14.
A aspiração é um procedimento utilizado para a remoção das secreções de pacientes que estejam necessitando de via área artificial ou por pacientes hipersecretivos que se encontrem em alteração no mecanismo de tosse e, portanto, com ineficiência na eliminação das secreções traqueobrônquicas, realizadas pelo sistema aberto ou fechado ,3,5,10,11,12,13,14.
A terapia manual passiva (TEMP) consiste na mobilização manual passiva da caixa torácica por compressão regional do tórax no final das fases expiratória (acompanhando o movimento de alça de balde das costelas inferiores). Promove melhora na elasticidade e complacência torácica pulmonar, diminuição da capacidade residual funcional, aumenta o fluxo expiatório e facilita a desobstrução bronco pulmonar 29,30.
O posicionamento é importante para o desenvolvimento de padrões de movimentos mais maduros, além da manutenção do tônus muscular mais adequado. Os pré-termos, por serem imaturos pequenos e por não terem sido suficientemente contidos dentro do útero, possuem o tônus muscular diminuído além de menor flexão35. Para conseguir o posicionamento ideal do pré-termo, a facilitação do fisioterapeuta trazendo os membros superiores à linha média deve ser feita. A retirada da mão do fisioterapeuta deve ser paulatina, conforme o bebê consiga se auto-organizar e se manter num estado adequado 13,15,25,29.
Utilizando técnicas de fisioterapia motora, será possível restabelecer a retroalimentação negativa perdida a partir do nascimento precoce do recém-nascido e propiciar uma via alternativa, por divergências de sinais elétricos em nível de tálamo, para a realização das funções cognitivas, motoras e sensitivas, essenciais ao perfeito desenvolvimento intra-hospitalar dos recém-nascidos24.
Conclusão
A Síndrome de Aspiração do Mecônio (SAM) é uma síndrome clínica caracterizada por vários graus de insuficiência respiratória em recém-nascidos na vigência de líquido amniótico meconial ao nascimento.
A fisioterapia respiratória pode atuar tanto na prevenção quanto no tratamento das doenças respiratórias, utilizando-se das diversas técnicas e procedimentos terapêuticos, com objetivo de estabelecer ou restabelecer um padrão respiratório funcional no intuito de reduzir os gastos energéticos durante a ventilação.
Para que isso ocorra é necessário melhorar o clearance mucociliar, a ventilação e prevenir ou eliminar o acúmulo de secreções, favorecendo assim, as trocas gasosas, além de manter ou melhorar a mobilidade da caixa torácica e da parede abdominal
As manobras de fisioterapia relacionadas aos cuidados respiratórios consistem em técnicas manuais, posturais e cinéticas dos componentes toraco-abdominais que podem ser aplicadas isoladamente ou em associações de outras técnicas.
Estudos são necessários para reduzir os vieses, entretanto, a contribuição à ciência dos achados já descritos na literatura é evidente, tornando os procedimentos seguros e contribuindo com a melhoria da qualidade de vida daqueles pacientes que são tratados com estes recursos terapêuticos, tanto a população adulta, pediátrica e neonatal.
Um comentário:
muito esse artigo
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