Na festa de cores dos
Jogos de Londres, um novo detalhe chamou a atenção de todo o mundo: o
que são, afinal, aquelas fitas coloridas coladas aos músculos bem
definidos de pernas, braços e troncos? Kinesio taping provou ter um
papel importante!

Criada na década de 1970 pelo quiropraxista japonês Kenzo Kase, a fita elástica é mais resistente que as usuais e tem uma qualidade extremamente vantajosa: ela não restringe o movimento. Quando criou a faixa, Kase acreditava que ela replicaria os efeitos benéficos das terapias manuais, como a massagem e a fisioterapia. Segundo o site da empresa que fabrica o tape original, ele pode ser usado para reduzir a dor, reeducar o sistema neuromuscular, melhorar o desempenho, prevenir machucados e aumentar a circulação local. “Dependendo de como a bandagem é aplicada, ela tem uma resposta diferente”, diz Karina Santaella, fisioterapeuta especialista na técnica e professora na Universidade Anhembi-Morumbi.
Apesar de ter ganho notoriedade apenas durante as Olimpíadas de Londres, a Kinesio taping já havia sido usada experimentalmente por alguns atletas nos jogos de Pequim, em 2008. A americana Kerri Walsh, medalhista de ouro no vôlei de praia, foi uma das atletas que usaram a então novidade. “Em atletas de alto rendimento é impossível o esporte ser saudável. Se a dor é tolerável, ele vai usar tudo o que tem ao seu alcance para conseguir jogar machucado”, diz Marcelo Bannwart Santos, supervisor de Fisioterapia do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, em São Paulo, e membro do Centro de Traumatologia do Esporte da Unifesp. Segundo o fisioterapeuta, em cerca de 80% dos casos, o uso da fita tem como objetivo reduzir a dor local, e não melhorar a performance.
Mas é exatamente nesse ponto que a prática esbarra na ciência. De um lado, esportistas e atletas afirmam que a Kinesio taping de fato funciona — e a usam indiscriminadamente durante os jogos. Do outro, pesquisas científicas ainda penam para comprovar algum benefício nas tiras coloridas. “Existe evidência de pequenos benefícios em lesões, mas ainda é preciso que estudos de qualidade sejam feitos”, diz Chris Whatman, um dos fisioterapeutas australianos responsáveis pela última meta-análise feita sobre a bandagem. Um dos problemas em se encontrar essas evidências concretas, dizem os especialistas, está no fato de que é difícil mensurar o nível de dor que um atleta sente com e sem a bandagem. "E há sempre o efeito placebo, que pode mascarar resultados", diz Bannwart.
Desempenho físico – Enquanto a ciência não bate o martelo sobre a eficácia da Kinesio, a faixa continua sendo usada, seja para aliviar a dor ou para aumentar o desempenho, dentro e fora das Olimpíadas. A jogadora de vôlei paulista Camila Cristina da Silva, de 21 anos, adotou há cerca de um ano para driblar uma lesão no ombro. “Não conseguia levantar o braço para atacar. A bandagem me ajudou com apoio, é como se eu tivesse um suporte me auxiliando a realizar todo o movimento”, diz.
Essa sensação que Camila descreve é chamada pela fisioterapia de propriocepção, que nada mais é do que a consciência de uma musculatura específica durante o movimento. “A bandagem pode ser colocada com o músculo em posição de alongamento ou de contração. Dependendo de como é aplicada, ela age dando estabilidade ou estimulando o uso de outro músculo”, diz Karina. Em outras palavras, é como se a faixa assumisse o papel de suporte que um especialista exerce durante uma sessão de fisioterapia. Assim, o atleta, tendo consciência do movimento que faz, consegue evitar a dor. Por exigir um alto grau de conhecimento da fisiologia muscular, a Kinesio taping só pode ser aplicada por profissionais treinados na técnica.
De acordo com o fabricante, a bandagem causa uma tração na pele, o que gera um movimento interior, entre pele e tecido subcutâneo. Como consequência, ela melhora os fluxos sanguíneo e linfático — o que, por fim, também ajudaria na mobilização de um edema. “O esporte de alto rendimento não é saudável. E a Kinesio veio de encontro a isso, porque ela ajuda o atleta a chegar ao seu limite de dor”, diz Bannwart. A bandagem, no entanto, pode ter um resultado indesejável. “Ao reduzir a dor, o atleta força mais um local já machucado. Se a causa dessa dor não for devidamente tratada, o uso contínuo da Kinesio pode lesionar ainda mais a região.”
OUTROS INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA MELHORAR O DESEMPENHO

Cinta de apoio lombar:
Usada para reduzir a compressão gerada na coluna lombar durante o
levantamento de pesos. Sozinha, a musculatura da região pode não
aguentar a sobrecarga. Além dos atletas que competem na modalidade de
levantamento de peso, ela é usada também por aqueles que treinam com
barras com anilhas.


Munhequeira:
Utilizada, principalmente, para a estabilização do punho. É mais comum
entre os atletas da ginástica olímpica. Em alguns casos, a faixa é
estendida também para a região das mãos que fica em contato com os
aparelhos, para evitar a lesão da pele.


Joelheira:
Usada normalmente por atletas com dores no patelo femoral, um problema
que acontece no momento da estabilização da patela (no joelho) com o
fêmur. É mais comum entre os jogadores que saltam muito, como os atletas
do vôlei.


Tornozeleira:
Usada para estabilizar o tornozelo, geralmente em atletas que já tenham
algum tipo de lesão local. Como a proteção é rígida, ela restrige o movimento com a finalidade de evitar uma entorse.

Meias de compressão:
Essas meias reduzem as vibrações dos músculos, o que, de imediato, já
diminui microlesões e o desgaste muscular. Estudos ainda em fase
iniciais afirmam que ela pode, inclusive, melhorar a performance do
atleta.

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